Brasília – O dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, depõe há cerca de 10 horas no Congresso Nacional em uma sessão conjunta das Comissões Parlamentares Mista de Inquérito (CPMIs) dos Correios e da Compra de Votos. Além das relações com o empresário Marcos Valério de Souza, Dantas tem sido perguntado sobre sua atuação no leilão das empresas de telefonia durante o governo Federnado Henrique Cardoso. Há pouco, ao ser questionado pela senadora Heloísa Helena (PSol-AL), ele disse ser favorável à abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar as privatizações.
"Nessa CPI da Privatização, muitas coisas poderiam ser ditas e esclarecidas. Podem me convidar. Eu seria o primeiro a falar em uma comissão como essa", afirmou o economista, que também nega ter qualquer relação com o empresário Marcos Valério. "Não é razoável alguém que foi perseguido e prejudicado por esse governo viabilizar qualquer operação para ajudar um partido (PT), que está me atrapalhando. Assim como neste governo, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso nunca interviu de forma favorável ao meu grupo, nem mesmo no leilão das teles."
De acordo com Dantas, o dinheiro (US$ 1 bilhão) levantado pelo grupo do qual faz parte para permitir a participação no leilão das teles foi captado junto ao banco Citybank. Juntamente com esse banco, os fundos de pensão e a Telecom Italia, o Opportunity administra a Brasil Telecom. O grupo de Daniel Dantas é responsável pela gestão de um fundo de investimentos nas Ilhas Cayman. Para investir nesse fundo, é necessário ter residência fixa em outro país. Brasileiros com residência no Brasil não podem participar do fundo gerido por Dantas.
No controle pela Brasil Telecom, o empresário tem enfretado diversas disputas judiciais com os outros sócios da Brasil Telecom. Sobre uma delas, travada com a Telecom Itália, ele se negou comentar na reunião conjunta das CPIs da Compra de Votos e Correios, valendo-se de uma habeas corpus conceido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado Maurício Rands (PT-PE), tem se dedicado ao estudo dos negócios de Daniel Dantas. Ele conta que o empresário vem sofrendo derrotas comerciais e perdido espaço na administração da Brasil Telecom por má gestão.
"Além disso, no conselho gestor dos fundos de pensão, ele também foi afastado. Em 2003, Dantas foi destituído da gestão dos fundos nacionais e, este ano, dos fundos internacionais", revela Ranz, para quem Dantas opera por meio de tráfico de influências. Para comprovar isso, o deputado espera que as CPIs aprovem requerimento para exigir do empresário a apresentação dos planos de vôos de um consórcio de aeronaves criado por Dantas e outros sócios. Essas aeronaves teriam sido usadas para transporte de parlamentares.
"Dantas operou bem no governo passado. Neste governo, ele queria neutralizar as forças dos fundos de pensão e não conseguiu", acredita o petista pernambucano. "Ainda assim, não achei que ele foi convincente ao falar sobre suas relações com Marcos Valério e Delúbio Soares. Precisamos investigar mais, mas a impressão que tenho é de que ele tentou operar por meio deles e não foi bem-sucedido."
Para o vice-líder do PFL na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), o depoimento do Daniel Dantas deixa clara a necessidade do Congresso investigar a intervenção do governo atual e do passado nos fundos de pensão. De acordo com Dantas, recentemente, o governo tem agido no sentido de impedir que os fundos de pensão vendam suas ações nas telefônicas.
"Mas, na verdade, essa interferência vem desde o início dos fundos, remonta ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso", acredita o deputado Magalhães Neto. "Até o final da semana vamos apresentar um plano de trabalho para que a CPI dos Correios tenha uma sub-relatoria dos Fundos de Pensão. A partir daí, vamos decidir o melhor momento para a convocação dos presidentes dos fundos de pensão."