A escalada da política de juros básicos da economia brasileira, arrefecida esta semana pelo altissonante corte de 0,25 ponto, produz seqüelas inevitáveis: o último cálculo da dívida pública indica o crescimento de R$ 21 bilhões em função da contínua elevação dos juros.
Outro aspecto a lamentar é que os custos da produção industrial sofreram uma elevação média de 10%, em função dos elevados custos dos financiamentos. Há ainda outros resultados mais funestos: diminuiu a oferta de empregos e a capacidade de consumo dos trabalhadores.
A constatação recorrente vem de recente estudo patrocinado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em cooperação com instituições representativas do setor produtivo, como o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), sobre o impacto das taxas de juros na expectativa do investimento.
Como as taxas de juros cobradas pelos bancos no financiamento de capital de giro das empresas oscilam entre 7% e 10% sobre os custos da produção, o estudo mostra que as taxas reais chegam a 30% e 40% ao ano. Se, por um lado, a política do BC segura a inflação, por outro, causa atropelos insanáveis para a economia como um todo.
Quando as empresas se ressentem do achatamento de suas margens de rentabilidade, a primeira providência é restringir investimentos e suspender a contratação de novos operários.
A Ciesp reitera que as razões para manter o juro alto não são consistentes, porque cerca de 70% da inflação acumulada nos últimos anos decorreu dos chamados preços administrados não necessariamente atrelados ao aumento dos juros. O exemplo principal é a recente subida dos combustíveis nas bombas.
Os juros servem para controlar preços livres das indústrias concorrenciais, que não conseguem repassar o aumento do custo financeiro para os preços e, por extensão, padecem os males da inadimplência e redução da capacidade de ampliar a produção e contratar mão-de-obra.
Há três meses a inflação vem registrando quedas, mas a taxa do juro real passou de 13% para 14%. Se a última baixa tivesse sido de um ponto percentual da taxa Selic, não haveria alteração da situação vivida noventa dias atrás pela economia brasileira.
O caminho da plena recuperação é longo e exigirá muito sacrifício, especialmente da parte dos que continuam insistindo na procura de emprego.