Brasília (AE) – O banqueiro Daniel Dantas negou ter feito transferências irregulares de dinheiro para o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Nos últimos cinco anos, duas empresas telefônicas controladas pelo grupo Opportunity, a Telemig e a Amazônia Celular, fizeram pagamentos de R$ 145 milhões a duas agências de publicidade de Valério, a SMP&B e a DNA.
Segundo o banqueiro, a maior parte dos recursos veio da Telemig, que precisou fazer muitos anúncios por causa da mudança na tecnologia de transmissão de voz, que passou do sistema CMDA para o sistema GSM. Os investimentos maciços em publicidade tiveram, segundo Dantas, o objetivo de impedir a perda de clientes.
"Me foi informado que não há um centavo que não tenho ido para publicidade. A Telemig mudou o sistema e precisamos de um esforço na área de publicidade maior para não perdermos clientes", alegou Dantas.
Em seu depoimento às CPIs dos Correios e do Mensalão, o banqueiro garantiu ainda que "nunca" pediu que Marcos Valério intercedesse a seu favor junto ao governo federal.
Disse também que "nunca" se encontrou com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. E garantiu que Marcos Valério não foi a Portugal, no início deste ano, a seu pedido para negociar a venda da Telemig para a Portugal Telecom. "O Marcos Valério nunca teve uma conversa conosco sobre a Portugal Telecom", afirmou o banqueiro.
Daniel Dantas explicou que a Portugal Telecom, uma das controladoras da Vivo, desistiu de comprar a Telemig em setembro de 2004. Segundo Dantas, o motivo para a desistência foi o fato de a Telemig ter migrado para o sistema GSM, que é incompatível com o sistema operado pela Vivo.
"Daí o desinteresse da Portugal Telecom no negócio", observou. Marcos Valério foi a Portugal em janeiro deste ano com o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri. Dantas disse ainda que não se lembra quando conheceu Marcos Valério – "foi no ano passado ou no ano retrasado", disse ele.
O banqueiro admitiu que foi idéia sua contratar o publicitário Duda Mendonça para fazer a campanha da Brasil Telecom, empresa da qual o Opportunity é um dos sócios. "Recomendei a contratação do Duda porque acho ele um publicitário extraordinário", afirmou. Dantas disse ainda que as notas fiscais da Telemig para a SMP&B e a DNA, que foram encontradas incineradas pela polícia, em Belo Horizonte, nunca foram pagas pela empresa de telefonia. "Aquelas notas não foram pagas. O que aconteceu é que a SMP&B e a DNA encaminharam as notas e a Telemig não concordou com elas e as devolveu", garantiu.