Os sinais de autonomia do Banco Central (BC) e a preservação da postura conservadora no processo de redução das taxas de juros foram reforçados hoje (6) com a indicação dos economistas Mário Mesquita e Paulo Vieira da Cunha para ocupar cargos na diretoria do BC. A indicação dos dois economistas foi bem recebida pelo mercado financeiro doméstico e internacional. "São nomes excelentes e que dissipam definitivamente os temores de intervenção política no BC", disse uma fonte.
Essas preocupações surgiram na substituição do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pelo ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, conhecido pela defesa de uma queda mais acelerada das taxas de juros. Mantega, depois de uma semana no cargo, já assume ter o mesmo discurso da área econômica.
O primeiro movimento do governo de fortalecimento do BC ocorreu com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer prevalecer a condição de ministro do presidente da instituição, Henrique Meirelles, garantindo-lhe independência em relação ao ministério da Fazenda. Hoje, com a mudança da diretoria, o presidente do BC, mais uma vez, reafirmou a autonomia da instituição porque levou para seus quadros economistas especializados em macroeconomia e considerados conservadores pelo mercado.
A indicação de Mesquita e Vieira foi discutida com o presidente Lula e com Mantega. "Houve uma sintonia absoluta", disse uma fonte do governo. A ida do atual diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do BC, Sérgio Darcy, para a presidência do Conselho Deliberativo da Fundação Centrus também representou um fortalecimento da autonomia do BC. "A indicação de Darcy foi feita com o intuito de evitar uma partidarização da Centrus", disse uma fonte. O diretor, no entanto, estará assumindo o cargo após o prazo de quarentena, para fazer mudanças na diretoria da Centrus, que vem sendo mantida desde 1999.
A atual diretoria já recebeu autos de infração da Secretaria de Previdência Complementar por causa de irregularidades em aplicações na bolsa de valores e pela perda de R$ 36 milhões provocada pela intervenção no Banco Santos. No lugar de Darcy, ficará o atual diretor de Estudos Especiais, Alexandre Tombini, que tem grande conhecimento sobre o mercado de crédito.
A indicação dos novos diretores de Estudos Especiais, Mário Mesquita, e de Assuntos Internacionais, Paulo Vieira da Cunha, não representa, necessariamente, uma aumento da linha conservadora do BC. "Não consigo ver nenhuma tendência de mudança nas linhas gerais da política do BC", disse o economista do Banco Prosper, Carlos Cintra.
A maioria das previsões do mercado para a trajetória de juros para os próximos meses não sofreu alteração com o anúncio dos novos diretores. "Os juros cairão 0,75 ponto porcentual neste mês e no próximo e depois passarão a ser reduzidos mais lentamente", disse um analista. Neste cenário, a taxa de juros poderia chegar ao final do ano abaixo dos 14%.
Menos otimista, o economista do Banco Prosper acha que as preocupações com os gastos públicos farão o BC reduzir os juros mais lentamente. "Devemos terminar o ano com juros ainda de 14 5%", disse. No passado, o novo diretor de Estudos Especiais do BC, Mário Mesquita, chegou a avaliar que o Comitê de Política Monetária (Copom) que poderia cortar os juros de forma mais drástica. "Em dezembro do ano passado, ele defendeu uma redução de 0,75 ponto porcentual dos juros", contou uma fonte. Diferentemente da opinião de Mesquita, o Copom decidiu por 6 votos a 2 diminuir os juros em apenas 0,50 ponto porcentual. "De fora, as coisas são diferentes. Ao passar a ocupar um assento no Copom, a tendência será a dele ficar mais cuidadoso", avaliou o economista do Banco Prosper.
Indicado para a diretoria de Assuntos Internacionais, o economista Paulo Vieira da Cunha já fez críticas aos juros. Junto com a crise política, as elevadas taxas mantidas pelo BC, para o economista, foram fatores que contribuíram para o baixo crescimento da economia no ano passado. No BC, não existe o sentimento de reforço do conservadorismo. "Não é por aí. O que temos são pessoas com uma qualificação técnica muito boa", disse um diretor. "Os novos diretores reforçam o perfil técnico", disse. Para este dirigente, as mudanças anunciadas hoje serão as últimas da gestão de Meirelles. "Saiu agora quem queria sair. Quem estava cansado. Não temos mais ninguém saindo", afirmou.
