Desde 1999, Curitiba é considerada a “Capital Vegan” do país. E não é à toa. Calcula-se que mais de 30 empreendimentos, entre bares, restaurantes, lojas, entreposto de produtos, feiras e até um armazém funcionam hoje na cidade, gerando emprego e renda para quem é adepto da prática. Entende-se por vegan quem não come, trabalha e nem usa nada de origem animal.

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Filosofia Vegan

  • O adepto não come alimentos de origem animal, ou que contenham qualquer resíduo;
  • Não veste roupas ou sapatos feitos de animais como couro, seda, lã;
  • Evita o consumo de cosméticos e medicamentos testados em animais ou que contenham componentes animais na formulação;
  • Não apoia diversões contendo exploração animal, como rodeio, circo com animais, rinhas;
  • Profissionalmente não trabalha com exploração animal (vivo ou morto), como venda de animais em pet shop, lojas de aquário ou gaiolas para passarinhos, venda de qualquer produto que contenha derivado animal, restaurante que utilize animais ou seus resíduos corporais como comida, dentre outras atividades.Fonte: http://www.veganismo.org.br/

A nutricionista e empresária Francielli Martins viu no veganismo  uma boa chance de empreender. Ela e a família já forneciam comida vegetariana para oito escolas adventistas de Curitiba quando surgiu a oportunidade de comprar um restaurante, o Salus Veg. Hoje, 80% da comida servida no local é vegana. “Nós não radicalizamos, pois tem muita gente que é vegetariana. Então, queremos abranger os dois públicos”, justifica.

De acordo com ela, são servidos no restaurante cerca de 80 refeições por dia a um custo de R$ 22,90 e buffet livre e R$ 42,90 o quilo. “Nossa próxima etapa é arrumar fornecedores orgânicos”, conta. “Muita gente tem preconceito com este tipo de alimentação, mas quero destacar que ela é muito saborosa. Além de ser muito saudável”, garante a nutricionista.

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Quem também enxergou no veganismo uma boa oportunidade de negócios foi a quituteira Virginia Passerino, da Gato Vegan. Ela produz bolos, cup cakes e salgados sem nenhum ingrediente de origem animal há cerca de dois anos. Paulistana, veio para Curitiba e começou a cozinhar por “hobby”. “Quando aderi ao veganismo comecei a cozinhar para mim. Mas ao chegar aqui vi uma oportunidade de ganhar dinheiro”, relata.

Trabalho

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De acordo com Virgínia, a cozinha vegana dá muito trabalho, pois cada receita exige muitos testes até chegar à fórmula ideal. “Todo mundo sabe que é o ovo e o leite que dão liga nas massas, por exemplo”, lembra. Produzir um bolo fofinho requer muito experimento, senão ele corre o risco de ficar “pesado”. Ela vende os bolos especiais a R$ 75 o quilo e cup cakes a R$ 3,50 a unidade.

Também foi de olho nesse público que o empresário Cleverson Zanquetta abriu há três anos um empório de comida e produtos vegan, no bairro Fazendinha. Começou como Microeempreendedor Individual (MEI) em um local com 70 m² e hoje já duplicou o espaço e emprega cinco funcionários para atender os clientes do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, entre outros Estados que atende.

“E nosso espaço já está ficando pequeno”, comemora. O faturamento mensal gira em torno de R$ 40 mil. “Este é um dos mercados que mais crescem no país. Muita gente, além de não gostar da crueldade dos animais, também é intolerante, principalmente ao leite e ovos”, destaca. De acordo com Zanquetta, o público consumidor é bastante radical. “Temos que ter todo o cuidado na produção. Eu mesmo me tornei vegano para poder dialogar com meu público. A gente precisa saber o que e para quem estamos falando”, finaliza.

Armazém é o único no país

Sanson vende cerca de 100 produtos veganos em seu armazém. Foto: Raquel Tannuri Santana

Semelhante a ele existem apenas dois no mundo, um na Argentina e outro no Uruguai. O Armazém VegAninha, aberto há cerca de um mês em Curitiba, vende produtos e refeições vegan e tem um conceito inovador. Nele, o consumidor pode levar a sua própria embalagem e tudo o que é comercializado no local foi produzido sem sacrificar um único animal.

O grande diferencial do VegAninha são as carnes de origem vegetal. São cortes como bacon, vina, salame e hambúrguer, entre outros. Todos produzidos à base de vegetais como cenoura, ou grãos como soja, por exemplo. São comercializados entre 100 e 150 quilos de carne vegetal por semana. O proprietário, Andrey Sanson, investiu cerca de R$ 45 mil no negócio, R$ 40 mil do total apenas na cozinha. “A parte de atendimento ao público usamos tudo reciclável”, justifica.

Ao todo, são mais de cem produtos comercializados. Além de comida e bebida, o local oferece produtos de higiene pessoal e para a casa. Aos domingos, são vendidas entre 50 e 80 refeições, a R$ 15 o prato. “Atendemos muitos turistas estrangeiros. O conceito vegan está muito disseminado no exterior”, explica.

Sem testes animais

Nem só de comida e bebida vive o mercado. O casal Paula Dalacosta e Victor Silva fundaram a Prema, empresa especializada em fitorerápicos, todos produzidos dentro da filosofia vegan. São cerca de 30 produtos, como sabão em pó e detergente, creme dental e corporal, entre outros. “Todos são fabricados sem aditivos químicos e não são testados em animais”, explica Victor.

A empresa atua em três frentes: limpeza para a casa, higiene corporal e produtos terapêuticos. “Em todos usamos o princípio da aromaterapia. Todos têm efeito benéfico sobre quem usa”, garante o empresário. Os produtos são biodegradáveis e têm embalagens retornáveis. Também são feitos artesanalmente.

Os doces são feitos à base de leite vegetal pela quituteira. Foto: Raquel Tannuri Santana