O retorno das aulas presenciais nas redes pública e particular do Ensino Infantil de Curitiba gera polêmica por causa da pandemia de coronavírus (covid-19). O retorno é defendido por médicos pediatras, desde que os protocolos sejam seguidos à risca. A defesa pesa por causa da saúde física e mental dos alunos. Em casa por quase um ano, o sedentarismo e a ansiedade dos alunos têm gerado quadros negativos na saúde deles. O risco da obesidade, por exemplo, ganhou a atenção dos pais e dos pediatras. Em agosto de 2020, uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apontou aumento dos índices da doença nas crianças. As conclusões do artigo foram publicadas no Jornal de Pediatria, uma publicação bimestral da SBP. A obesidade é fator de risco para a covid-19.
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Embora ainda haja dúvidas dos pais sobre protocolos de saúde e como cumprir os decretos municipais para o retorno das aulas presenciais e, também, sobre adequações na infraestrutura das instituições, médicos defendem o retorno e apontam que as atividades físicas promovidas pela volta às aulas são fundamentais para evitar a obesidade. E a escola é importante para isso, já que, em casa, o tempo das crianças nas telas de celulares e computadores costuma ultrapassar o limite adequado de duas horas por dia. “Qualquer atividade é melhor do que nenhuma”, explica o médico pediatra José Francisco Klas, responsável pelo Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP).
A medicina explica que, na infância, o gasto calórico das brincadeiras e atividades físicas ajudam a evitar problemas futuros envolvendo a obesidade. Outros fatores como a alimentação inadequada e herança genética, que colaboram para o surgimento da doença com aumento nos índices de triglicerídeos e colesterol, também podem ser combatidos com exercícios. “A obesidade é fator de risco para doença cardiovascular. A criança não vai ter problema agora na infância, mas há o risco futuro, para a vida adulta. Por isso, é importante o gasto calórico, o desenvolvimento da capacidade aeróbica e da musculatura. Em casa, o isolamento social se mostrou prejudicial para as atividades físicas”, aponta Klas.
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O médico conta que os consultórios têm atendido mais crianças com sobrepeso e orienta os pais a ficarem atentos. “Os alimentos ficam muito mais à mão em casa. Os horários para comer ficam desorganizados e não é culpa de ninguém. Os pais também estão trabalhando em casa e, muitas vezes, não têm tempo de prestar atenção nisso. Mas se notarem que a calça está um pouco mais apertada para colocar, que o filho ou filha aumentou o peso, conversem com o seu pediatra”, orienta o médico.
Com segurança sanitária
José Francisco Klas, assim como a SPP, defendem o retorno das aulas presenciais com segurança sanitária, não somente pensando na falta da atividade física, mas também pela manutenção da saúde mental das crianças e da socialização. “Há o prejuízo emocional, ansiedade, depressão. Então, são três pilares fundamentais que defendemos para um retorno seguro das aulas: uso de máscara, álcool e distanciamento”.
A SPP ainda destaca outros três pontos para os pais ficarem atentos. Não mandar o filho ou filha para a escola se houver algum sintoma da covid-19, não mandar se alguém em casa estiver com sintoma e, se a criança ficar doente na escola, buscá-la imediatamente. “Mesmo que não seja covid-19, quanto mais tempo essa criança ficar na escola, mais aumenta o risco para outras crianças e professores”, destaca Klas.
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Mãe do Lucas, 4 anos, e do Bernardo, de um ano e meio, a dona de casa Priscila Alves de Oliveira, 25 anos, tem receio de mandar o filho mais velho para a escola, mas concorda que a falta de uma atividade física afetou o peso dele. Na tarde de quarta-feira (10), ela estava na Praça Ozório, no Centro, e os filhos brincavam no parquinho. “Eu concordo que a escola pode ajudar. O Lucas ficou bem ansioso, quer comer o tempo todo, mesmo que ele não esteja com fome. Eu até comentei com a minha cunhada que não vejo a hora dele entrar na creche para poder se regrar na alimentação”, disse a mãe.
Segundo a Priscila Alves, o filho ganhou peso, mas não tem problema de saúde. “Nesse caso, é mais a questão estética mesmo. Ele fica sem ter muito o que fazer em casa, por isso fica mais na televisão e celular. Hoje, viemos passear na praça, mas não é rotina, nós ficamos mais em casa mesmo”.
Por outro lado, embora se aposte na atividade física na escola para movimentar a vida das crianças, a professora de educação física Patrícia Argenton, 37 anos, alerta que não é bem assim que as coisas funcionam. De acordo com ela, que há 15 anos atua na rede pública de ensino, a disciplina segue a concepção da cultura corporal, não é uma prática focada apenas nos benefícios das atividades físicas.
“As diretrizes não determinam a promoção de atividades físicas intensas, a ponto de desenvolver a saúde com a prática de exercícios. A escola vai colocar o aluno em contato com a história das atividades, com a cultura do movimento no mundo, e aproximar a criança do desejo de praticar um esporte, uma atividade lúdica”, explica.
A Patrícia Argenton também destaca que a volta das aulas presenciais na pandemia ainda é um desafio a ser superado. “Não há um protocolo específico para a educação física. O que se tem são orientações nos decretos da covid-19 para usar área externa, não compartilhar objetos e manter o distanciamento social entre os alunos. Há muito ainda a ser adaptado, inclusive na infraestrutura das instituições da rede pública, para que se receba os alunos com segurança”.