Medo

Vizinhos da linha de trem no Cajuru onde mulher morreu convivem há anos com acidentes

Casa destruída após colisão de trem e ônibus na Rua Osiris del Corso, no bairro Cajuru, que matou uma mulher. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

O acidente entre um micro-ônibus e um trem na madrugada desta terça-feira (20), no bairro Cajuru, que causou a morte da auxiliar de produção Sirlei Mendes dos Santos, 44 anos, e deixou cinco pessoas hospitalizadas reforça a tensão dos moradores que convivem perto de trilhos em Curitiba.

O local do acidente da madrugada desta terça, por exemplo, a Rua Osiris del Corso, é o ponto mais crítico de acidentes em cruzamentos com linha férrea em Curitiba. Só em 2020, foram oito ocorrências com feridos ou mortos no trecho. E esse não é o primeiro acidente com transporte coletivo. Em 2018, outro acidente entre ônibus e trem deixou 25 feridos, movimentando também diversas ambulâncias.

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Posted by Tribuna do Paraná on Tuesday, October 20, 2020

Segundo o Corpo de Bombeiros, até aqui em 2020 foram 17 acidentes envolvendo trens em Curitiba, sendo cinco somente no mês de setembro. O bairro campeão é justamente o Cajuru com as oito ocorrências na Rua Osiris del Corso, seguido pelo Uberaba e Sitio Cercado.

Apesar da sinalização e do aviso sonoro da locomotiva, a conscientização dos pedestres e motoristas acaba sendo primordial para se evitar uma colisão. Vizinho do local do acidente no Cajuru, o motorista Jesus Artigas, 68 anos, mora há 20 anos no bairro Cajuru e já se cansou de ver acidentes na Rua Osiris del Corso. “Fico muito triste de saber da morte de uma pessoa que voltava do trabalho. Acho que falta sinalização e um pouco mais de conscientização das pessoas. Na maioria dos casos, é falta de atenção mesmo”, reforça Jesus.

No acidente desta terça, o micro-ônibus – que levava para casa 15 trabalhadores de uma fábrica de peças de São José dos Pinhais – ainda atingiu uma casa após se chocar com o trem. Ao acertar a residência, parte do telhado despencou e provocou prejuízo aos proprietários. O portão foi destruído e as telhas amassaram o carro da família que ainda não foi pago.

A moradora da casa, Juliane Venâncio Inácio, 32 anos, mãe de dois filhos e com o marido desempregado, relata como foi o desespero na noite do acidente. “Foi o barulho de uma explosão e quando saí estava cheio de poeira. O poste estava dentro do porta-malas do carro”, dá uma ideia da força do impacto.

Mesmo com sinalização, acidentes com trem são constantes na Rua Osiris del Corso, no Cajuru. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Sobre os constantes acidentes no local, Juliane afirma que quem mora do lado da linha de trem vive com medo. “É uma sensação de desespero e muito triste. Estamos pagando o carro e meu marido faz bicos para pagar as prestações. A gente se assusta, mas nunca imagina que isso vai acontecer com a sua casa”, aponta Juliane que foi avisada pela empresa de transporte proprietária do micro-ônibus que o prejuízo seria coberto.

Preferência é sempre do trem!

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os veículos que se deslocam sobre trilhos têm sempre referência de passagem sobre os demais. Isso porque por causa do tamanho, o trem tem mais dificuldade de parar completamente.

Conforme o CTB, deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea é infração gravíssima, com aplicação de multa. O cruzamento com a linha férrea deve obrigatoriamente contar com sinalização horizontal e vertical. Ainda de acordo com a legislação federal, é obrigatório que os trens apitem quando se aproximam de cruzamentos, como medida de segurança.

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No caso acidente desta terça, o motorista do micro-ônibus relatou aos sócios da empresa que não teria escuto o apito. Porém, o barulho do trem sempre é ouvido de muito longe pelos motoristas – inclusive, de tão alto, gera muitas reclamações dos vizinhos.

Em nota, a Rumo, concessionária que administra a ferrovia, lamentou o ocorrido e reforçou que o motorista do micro-ônibus cruzou a ferrovia no momento em que o trem passava. “O maquinista acionou todos os procedimentos de segurança, mas não foi possível evitar a colisão. Equipes da empresa foram acionadas e prestaram todo suporte às equipes médicas para atender a ocorrência. A empresa realiza campanhas de conscientização para alertar motoristas e pedestres sobre os cuidados com o trem”, afirma a Rumo.

A empresa SMP Automotive, do grupo Motherson, fornecedora de peças para a Renault e para a Volkswagen para quem trabalham os passageiros transportados no micro-ônibus, disse que não há mais nenhum colaborador hospitalizado e todos os que estavam no acidente estão recebendo acompanhamento. “A empresa está em contato com a família da colaboradora que faleceu, oferecendo suporte emocional e todas as orientações necessárias”, diz a empresa.

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