Quem vive aos arredores da desativada Prisão Provisória de Curitiba, conhecida como Presídio do Ahú, que está prestes a ser demolido, viu e ouviu muita coisa. Essa visão, que passou de temida para acomodada, se tornou tão rotineira que muitos moradores passaram a simplesmente ignorar a existência do prédio gigante ao lado de casa.
“Confesso que temia. A gente ouviu muito. Vimos também. Inclusive no dia em que os presos, usando um caminhão, planejaram uma fuga em massa, foi aqui, em nossa rua. Eles derrubaram o muro e foi homem correndo pra todo lado. Depois disso, passamos a ver as coisas por aqui de outra forma”, contou um homem, que cresceu ao lado do presídio, na Rua Chichorro Júnior.
Já para Doroti Schlichta, de 74 anos, morar ao lado do presídio sempre foi parte de sua vida. “Vivo aqui há mais de 50 anos. Se parássemos para contar as histórias, teria muitas, mas o que vimos aqui, só a gente sabe”, disse a manicure aposentada. De acordo com a mulher, dividir o muro com o presídio nunca foi um incômodo, mas em alguns momentos era assustador.
“Lembro de um domingo que eles começaram uma rebelião e botaram fogo em tudo. Eu, como era novinha, saía para ver o que acontecia, éramos curiosos. Mas quando a coisa começava a ficar feia mesmo a gente corria pra dentro de casa. Nos sentíamos seguros, porque havia muitos policiais de prontidão”, lembrou.
Alguns dos moradores abordados pela reportagem da Tribuna do Paraná se mostraram um pouco receosos quando o assunto tocado foi o presídio. “A gente viu muita coisa triste. Dia de visita, por exemplo, pra gente era muito bonito, mas também dolorido. A gente se comovia com as famílias, sabe? Os presos acenavam pelas janelas, era doído”.
Com a retirada dos presos do prédio, a sensação de paz e tranquilidade aumentou para moradores e comerciantes. A tensão se foi junto com o policiamento de prontidão, que já não precisa mais ficar a postos aos arredores do presídio. Agora, com a demolição do espaço, ficarão apenas as histórias, o que esses moradores têm de sobra para contar.