Império do medo

Violência toma conta de bairro que está abandonado em Curitiba

Comerciantes e moradores do bairro Tatuquara já não aguentam mais a ação da bandidagem. Roubos em pontos de ônibus, arrombamentos e outros crimes têm sido comuns, segundo os relatos. Iniciativa de lideranças do bairro pretende criar um novo Conselho de Segurança (Conseg), para dar força às reivindicações da comunidade.

As grades na mercearia de uma comerciante, que preferiu não se identificar, afastaram os clientes – que antes costumavam passar horas conversando sentados no estabelecimento. A medida foi tomada após assalto em que ela foi ameaçada. “Eles queriam dinheiro ‘grande’ ou diziam que iam me matar”, desabafou.

Mesmo tendo sistema de monitoramento no comércio, os bandidos não se intimidaram. Como perdeu parte do lucro depois de instalar as grades, a mulher precisou demitir os funcionários e atualmente trabalha sozinha. “Antes perder dinheiro do que perder a vida. Eles matam por qualquer coisa”, disse. “Fiquei traumatizada. Mesmo com as grades, toda pessoa estranha que chega eu me assusto”. Ela conta que o problema não é isolado. “Todo mundo por aqui já foi assaltado. Se virem porta aberta, já era”.

“São muitas mortes e ouvimos falar em assaltos também”, diz Samuel. 

Cadê a polícia?

Morador do bairro há apenas seis meses, Samuel Roberto de Souza, 30, contou estar assustado com a violência do Tatuquara. “Teve tiros esses dias na rua da minha casa. Tem muitas mortes violentas, a gente ouve falar bastante em assaltos também”, comentou. Ele disse sentir falta da polícia nas ruas. “Não vejo viaturas e nem policiais passando”. Outro morador, que não quis ter o nome divulgado, revelou ainda que são os muitos os roubos em pontos de ônibus da região.

Armazém da Família ficou vários dias fechado após arrombamento.

Ataques indiscriminados

O vice-presidente da União das Associações de Moradores e Entidades Comunitárias do Tatuquara (Unat), Ivo Pedroso, ressaltou que até janeiro do próximo ano deve ser montado um novo Conseg na região, uma vez que o último foi desativado por problemas na administração. “A intenção é cobrar as autoridades para melhorar a segurança do bairro”, destacou.

Segundo Ivo, além dos assaltos a comércios são frequentes os roubos a alunos de colégio, mesmo durante o dia, e arrombamentos às casas. “A pessoa sai para trabalhar e, quando volta, vê que limparam tudo”. Nem o Armazém da Família foi poupado pelos bandidos. Na semana retrasada, ele teve a estrutura danificada em arrombamento e ficou fechado até o sábado passado, prejudicando a população que conta com as mercadorias vendidas a preço mais baixo que no mercado formal.

Resposta padrão

A exemplo de outras reportagens feitas pelo Paraná Online, denunciando a insegurança nos bairros da capital, a Polícia Militar encaminhou novamente uma resposta padrão . Em nota, informou que o Tatuquara recebe o policiamento do 13º Batalhão, que faz operações diárias, policiamento a pé e operações de reforço do Bope. Segundo a corporação, a região conta com a Unidade Paraná Seguro (UPS) Ludovica, que mudou-se para a Rua Enette Dubard. Sobre os assaltos em pontos de ônibus, a PM informou que faz o policiamento em parceria com a Guarda Municipal e, em caso de serem flagrados os crimes, é feito o encaminh,amento dos suspeitos. A nota destacou que, se as pessoas já possuírem características de marginais ou informações como placas de veículos, tipo de vestimenta, cabelos e horários, devem repassar à Polícia Civil, que é responsável por investigar.

É o seguinte!

O leitor vai notar que alguns dos entrevistados preferiram não se identificar. Foi por isso que a foto que ilustra a manchete propositalmente oculta a personagem. As pessoas não se sentem seguras para reclamar e exigir segurança. Sabem que nem a polícia ou o Estado conseguem garantir que eles não sofrerão represálias dos criminosos. As instituições precisam demonstrar na prática que não estão falidas.

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