Se a grande novela curitibana da Linha Verde segue sendo exibida, uma outra série também está no ar. O Viaduto do Orleans, há cinco anos virou promessa de obra, e a única certeza no momento é a confusão diária aos motoristas e pedestres que circulam em uma região importante de deslocamento em Curitiba, e também rumo ao interior do Paraná.
O trecho que engloba o Viaduto do Orleans abraça pontos estratégicos da cidade nos bairros São Braz, Santa Felicidade, Cidade Industrial de Curitiba e Campo Comprido, conectando a BR-277 por Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba.
Segundo a prefeitura de Curitiba, passam pelo local cerca de 3 mil veículos por hora nos picos de movimento. No entanto, não é preciso estar nestes horários de maior movimento nos acessos para sentir o drama de quem precisa passar pela Rua Professor João Falarz e a Avenida Vereador Toaldo Túlio.
Para Itacir Farinéia, morador da região, o tempo nos semáforos prejudica a evolução no trânsito em um trecho com pouco espaço. Passo todo dia aqui, esses semáforos são lentos e o transito fica carregado. Eu não acredito mais na obra, acho que as autoridades prometeram e depois perceberam que a dificuldade é muito maior que fazer o projeto no papel”, disse Itacir.
O aposentado Mauro Godoy deixou o carro na garagem na tentativa de se livrar do grande movimento no trecho. Ele agora está usando uma bicicleta. “Muitas das vezes deixo o carro na garagem, mas confesso que aqui é perigoso também para a bicicleta. Falta ciclovia”, cobrou Mauro.
Um outro problema é a falta de educação do motorista. Conversões proibidas para acessar a BR-277 são constantes, o que deixam vários pedestres em situação de perigo ao atravessar de uma rua para a outra. Marli Kaminski, 75 anos, reforça a dificuldade de se locomover pela região. “É difícil, é muito trânsito. Os motoristas desrespeitam a sinalização e quase atropelam a gente. Todo mundo entra pelo cano aqui”, afirmou Marli.
O problema não é meu!
O que se percebe ao buscar informação sobre o trecho, é que ninguém quer assumir a responsabilidade total da obra. Primeira obra de grande porte anunciada por Greca no primeiro ano de mandato, em 2017, o projeto previa a construção de duas novas transposições, uma em cada ponta da estrutura, que transformaria o viaduto em uma enorme rotatória, facilitando o acesso aos bairros São Braz e Campo Comprido, além da própria BR-277. Também foi prometida a revitalização dos cruzamentos da Rua Professor João Falarz e Avenida Vereador Toaldo Túlio com a BR-277. O projeto era a solução para o “viaduto caótico”. Veja abaixo como seria:
Em agosto de 2020, três anos após o anúncio da obra, prefeitura e governo do estado formalizaram convênio para repasse de R$ 1,2 milhão para o projeto que teria a tão esperada rotatória gigante.
No entanto, a proposta desenvolvida em convênio com o Estado teve o andamento suspenso por conta de exigências da nova concessão das rodovias que cortam o Paraná, entre elas a BR-277, que avança sob o viaduto existente, com responsabilidade da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). As rotatórias, inclusive, deixaram de existir em uma atualização do projeto.
A partir do pedido da ANTT que prevê que sejam implantadas mais faixas de rolamento (tanto no sentido Curitiba como no sentido Interior do Estado) na BR-277, o prazo só aumentou, ou melhor, ninguém sabe quando vai começar…
Fala aí prefeitura?
Em nota, a prefeitura reforçou que a área é de domínio federal, onde está localizado o viaduto. “Essa alteração de ampliação das faixas na rodovia, definida pelo órgão federal, obrigou a formatação de uma nova alternativa a ser projetada para o Viaduto do Orleans, cujo encaminhamento depende de formalização de convênio pelo governo do Estado.
A nova proposta, desenvolvida pela coordenação do Sistema Viário do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e apresentada ao governador Ratinho Junior, em junho de 2022, é a da implantação de um binário por sobre a rodovia, com a manutenção do viaduto existente, e a construção, pelo governo do Estado, de outro viaduto em paralelo e das obras viárias na faixa de domínio da rodovia. Este encaminhamento depende da definição quanto à concessão da rodovia, área de domínio federal, onde está localizado o viaduto”, diz a nota.
Vereadores cobram uma solução imediata
Com esse dilema, os vereadores de Curitiba demonstram certa irritação com a demora das obras. “Em junho, vai completar um ano que a licitação do projeto da rotatória elevada do Viaduto do Orleans foi encerrada. Voltamos à estaca zero”, lamentou o vereador Mauro Ignácio (União).
Uma das tentativas para tentar entender a demora para uma intervenção fez com que os vereadores tomassem a decisão de convidar o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Cristiano Machado, para comparecer na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) para explicar os conflitos de responsabilidade de obras em áreas de rodovias federais.
“Estamos na iminência de ter uma nova concessão de pedágio e o Contorno Sul, que não tinha pedágio, passará a ter. Se as obras foram incluídas no rol de obrigações da concessionária, só vão acontecer daqui 7, 10 anos”, disse Mauro Ignácio.
E aí, ANTT?
Procurada, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), informou que os estudos de viabilidade de concessão apontaram como intervenções fundamentais a duplicação e implantação de faixas adicionais em alguns trechos da BR-277/PR, sem necessidade de construção de viaduto na rodovia. O prazo para início e conclusão ainda não foram definidos. Já a Secretaria de Estado da Infraestrutura e Logística (SEIL) não respondeu aos questionamentos da Tribuna do Paraná.