Cerca de 50 adolescentes queimaram pneus e trancaram a Rua Abel Scuissiato, Atuba, em Colombo, na tarde de ontem. Naquele local, dois jovens foram mortos em suposto confronto com policiais militares da Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais (Rone), na noite de segunda-feira.
Os manifestantes, alguns se recusavam a mostrar o rosto, se diziam amigos do mecânico Luann Ladislaw Terlecki, 21 anos, e do auxiliar administrativo Danilo Ricardo Lofh, 18, baleados pela PM.
Familiares dos jovens acusaram os PMs de tê-los assassinado. A polícia, no entanto, afirmou que os dois não foram abordados próximo ao local do confronto. Houve perseguição desde o Santa Cândida até o Atuba, onde ambos atiraram contra os PMs.
Segundo explicou o tenente Alves, comandante da Rone, todas as viaturas da Companhia de Choque são dotadas de GPS e rádio, e que as transmissões são gravadas na Central de Operações Policiais Militares (Copom). Toda a ação foi gravada, o que pode servir de prova que não houve excessos.
Perseguição
O cabo Solek, da Rone, explicou que sua equipe patrulhava a região da Olaria, no Santa Cândida, quando avistou Luann e Danilo em uma moto. Na tentativa de abordagem, a dupla fugiu e foi perseguida por cerca de 10 minutos até a Rua Abel Scuissiato. Ali Danilo perdeu o controle do veículo e bateu na calçada. Já caídos, os rapazes trocaram tiros com os policiais e foram baleados, conforme relatou Solek.
Luann, o garupa, morreu perto da moto e estava com um revólver calibre 38, o mesmo que aparece segurando em foto no seu perfil no Orkut. Danilo portava uma pistola 380. Morreu dentro da ambulância do Siate.
O cabo Solek explicou que, como os jovens moravam na região do confronto, amigos e familiares chegaram rápido ao local e se revoltaram. Houve tumulto e a PM usou bombas de efeito moral e balas de borracha. Os policiais, ameaçados, colocaram o corpo de Danilo na viatura e o levaram até uma ambulância do Siate, que os aguardava na Estrada da Ribeira.
Vítima reconhece dupla
Giselle Ulbrich
Reprodução |
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Luann: coragem na internet. |
Quando a equipe da Rone envolvida no tiroteio chegou à delegacia do Alto Maracanã, encontrou uma vítima que disse ter sido assaltada no Santa Cândida, pelos dois rapazes mortos, e teve o celular e dinheiro roubados. A vítima, afirmou o cabo, seguiu até onde estavam os jovens mortos e os reconheceu como autores do roubo.
O delegado Rafael Vianna afirmou que está ouvindo familiares e testemunhas e ouvirá os policiais nos próximos dias. Ele preferiu não se manifestar sobre os casos. De acordo com o cabo Solek, entre os pertences de Danilo e Luann, entregues na delegacia pela PM, estavam o dinheiro e o celular do rapaz assaltado.
Regra não é rígida
Giselle Ulbrich
Leonir Batisti, coordenador do Grupo de Atuação no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, que entre outras funções investiga condutas das polícias Civil e Militar, comentou a última determinação do governador, que os policiais não podem mais remover as vítimas baleadas dos locais de confronto.
Batisti diz que, em condições especiais, podem haver exceções. Se a equipe policial entender que a situação é de risco à ordem pública, a determinação pode ser revista. “Mas quando a exceção ocorrer, vamos analisar se foi justificável. A função do Gaeco é não deixar que exista,m dúvidas sobre o trabalho policial.”
Ordem pública determina socorro
Janaina Monteiro
Desde a metade do mês quando o Governo do Estado ordenou que todas as vítimas de confronto fossem atendidas pelo Siate e não mais removidas aos hospitais pelos policiais, a Polícia Militar se envolveu em quatro tiroteios. Os oito suspeitos acusados de reagir à ação foram mortos. Em todos os casos, o socorro foi acionado em obediência à norma.
No episódio de segunda-feira, segundo relatório do Siate, três ambulâncias foram acionadas para atender a ocorrência. Enquanto não chegavam, os policiais tentaram manter o corpo de Luann no local, mas com a situação quase fora do controle, colocaram o cadáver no camburão para agilizar o translado. No meio do caminho, o corpo foi removido para a ambulância 5868 e levado ao Hospital Cajuru. Danilo, ainda vivo, foi levado pela ambulância 8315 ao mesmo hospital, onde morreu.
Estrutura
O major Mascarenhas, da assessoria de comunicação dos bombeiros, explicou que, até a polícia estabilizar a ordem pública, o Siate não chega ao local dos feridos. “Os bombeiros nunca ficam na linha de frente”, completou. Mascarenhas disse ainda que os bombeiros têm condição para atender todas as ocorrências, mesmo que em certas situações a ambulância demore a chegar. “Só em Curitiba, que contabiliza 40% de todas as ocorrências atendidas no Paraná, são 14 ambulâncias. Ninguém fica sem atendimento.”
