Os casos de vandalismo contra o patrimônio público em Curitiba, mais especificamente contra instalações e equipamentos do transporte coletivo, aumentaram 30% entre os meses de abril em 2021 e 2022. O prejuízo durante o período passou da casa dos R$ 2 milhões, segundo dados da Urbs, responsável pela administração do serviço na capital. E, na avaliação do presidente da empresa, a tendência do cenário é piorar ao longo do ano – em grande parte por causa das depredações ocorridas em dias de jogos de futebol na cidade.

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Em entrevista , Ogeny Pedro Maia Neto detalhou que esses números refletem um período em que os torcedores não estavam liberados para irem aos estádios por conta da pandemia. Agora, desde o retorno das torcidas às arquibancadas, os casos de vandalismo estão mostrando uma forte tendência de alta.

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“Nós estamos falando de R$ 2 milhões em prejuízos entre os meses de abril de 2021 e 2022. Nesse período praticamente não houve intercorrências relacionadas ao futebol, agora é que começaram a ser contabilizados os efeitos do vandalismo relacionado aos jogos. A tendência, infelizmente, é que esses números aumentem no decorrer do ano. Digo isso porque já tivemos, só entre janeiro e abril de 2022, 12% a mais de casos de vandalismo do que no mesmo período do ano passado”, afirmou.

Recursos gastos para reparar depredações poderia ser utilizado em outras ações

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Segundo ele, os danos causados pelos ataques a ônibus, estações-tubo e terminais acabam refletindo, mesmo que de forma indireta, no valor cobrado dos usuários do serviço. “O valor da passagem do transporte coletivo não é atrelado ao vandalismo, mas a manutenção das estações e terminais, sim. Então nós deixamos de fazer as manutenções corretivas, preditivas, para ter que fazer manutenções de urgência. Com esses R$ 2,1 milhões, por exemplo, poderíamos ter feito a expansão da plataforma do Santa Cândida”, comentou Ogeny.

As equipes de manutenção da Urbs, explicou o presidente, têm um tempo de resposta considerado rápido por ele. Após a constatação dos danos, o prazo médio para que as estruturas sejam reparadas tem sido de 23 horas. Para garantir essa agilidade, o time de fiscalização trabalha em parceria com a Guarda Municipal em ações realizadas antes, durante e depois das partidas.

Monitorados, os torcedores deixaram de ser “invisíveis”, diz secretário

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De acordo com o secretário municipal de Defesa Social e Trânsito, Péricles de Matos, essas ações policiais envolvem modificações no fluxo de veículos e de pessoas nos arredores das praças esportivas. Mas o trabalho, revela, começa e termina muito longe dos estádios.

“Nós temos uma parceria muito grande com as prefeituras dos municípios que formam a Região Metropolitana de Curitiba e com os nossos coirmãos das Guardas Municipais. Dessa forma, é possível acompanhar o fluxo de muitos desses torcedores praticamente desde a porta de suas casas até a chegada ao estádio”, comentou.

De acordo com Péricles, a Guarda Municipal participou de 32 operações de grande porte entre os meses de janeiro e maio de 2022 em Curitiba. Ao todo, ele contabilizou 18 situações ocorridas próximas ou dentro de terminais, ônibus e estações-tubo do transporte coletivo. Os números cresceram em comparação com o ano passado, o que torna a percepção do secretário é próxima à do presidente da Urbs quando o assunto é vandalismo provocado por torcedores de futebol.

“Uma ação fundamental que precisa ser reforçada é a conscientização dos torcedores de que eles estão sendo monitorados por câmeras de segurança durante o trajeto entre a casa e o estádio. Com isso, o comportamento desses torcedores tende a ser mais urbano, mais civilizado. A sensação de impunidade tende a ser bastante reduzida, uma vez que o cidadão entenda que não há mais como ficar ‘invisível’ aos olhos das forças de segurança”, comentou.

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Briga entre torcedores de Coritiba e Palmeiras trouxe consequências

Casos de violência envolvendo torcedores são frequentes na capital, principalmente em dias de jogos envolvendo o chamado “Trio de Ferro”: Coritiba, Athletico e Paraná Clube. Sem torcedores nos estádios durante a pandemia, as estatísticas até caíram. Mas com a volta às arquibancadas os conflitos voltaram a acontecer.

O capítulo mais recente dessa história foi registrado no último dia 12 de maio, quando o Coritiba recebeu o Palmeiras no Couto Pereira. Torcedores do clube paulista e do Coxa entraram em confronto nos arredores do estádio, e os policiais que trabalhavam na segurança utilizaram munição não letal e spray de pimenta para dispersar a multidão. O conteúdo do spray acabou indo para dentro do campo, e a partida precisou ser interrompida. Um torcedor do Palmeiras perdeu a visão. Outro foi hospitalizado depois de ter sido atingido no conflito, e morreu em decorrência de um pico de glicemia.

A direção do Coritiba emitiu uma nota oficial na qual repudiou os fatos ocorridos no entorno do estádio. “Conforme informações das autoridades policiais, os fatos aconteceram integralmente fora do estádio, quando torcedores de uma das torcidas organizadas do Palmeiras tentaram invadir as dependências do Couto Pereira, com o jogo já no segundo tempo. O Clube manifesta sua total reprovação e lamenta profundamente os fatos ocorridos e a crescente escalada da violência entre torcidas organizadas em várias cidades pelo país”, afirma o texto.

A torcida organizada Mancha Alviverde também publicou uma nota oficial na qual contesta a versão do Coxa, dizendo que não houve tentativa de invasão. A nota também cita supostas falhas na condução da Polícia Militar, que teria levado os ônibus dos palmeirenses para a entrada do Coritiba no Couto Pereira. “Era nítido que o policial estava perdido e entrou com sete ônibus em uma rua estreita, com carros dos dois lados, próximo ao estádio e com movimentação de torcedores do Coritiba. O comandante da escolta parou para perguntar onde era a entrada, e explicaram que estávamos do lado errado. Esse mesmo comandante pediu para os ônibus voltarem de ré e nesse momento a torcida do time mandante apareceu e começaram a jogar pedras”, relata a nota.

Em entrevista coletiva, a Polícia Militar culpou as torcidas organizadas pelo confronto e rebateu as acusações de despreparo. “Os procedimentos foram eficientes e eficazes para amenizar tudo que foi causado. Não houve excesso nenhum da polícia e agiu com os meios disponíveis para conter a intenção dos criminosos”, afirmou o coronel Rodrigo, comandante do 20º Batalhão da PM.

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Foto: Divulgação/SMCS

Após conflito, Atletibas terão torcida única no Brasileirão 2022

Como consequência, ambos os Atletibas do Campeonato Brasileiro deste ano serão com torcida única. Neste domingo (19), apenas torcedores do Coxa poderão assistir à partida no Couto Pereira. Da mesma forma, as arquibancadas da Arena da Baixada estarão abertas somente para torcedores do Furacão no jogo da volta, ainda sem data definida pela CBF.

Para o delegado Luiz Carlos Oliveira, da Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos (Demafe) da Polícia Civil, jogos com torcida única são consequência das brigas e confrontos protagonizados pelos torcedores. “A questão da torcida única vem justamente para minimizar os efeitos desses vândalos nos outros torcedores. Como é que vai se permitir que torcedores de Coritiba e Athletico se encontrem dentro de um estádio, sabendo que ali dentro essas pessoas podem até mesmo se matar? Não é uma questão de ineficácia ou preguiça da Polícia. Pelo contrário, é a conduta desses torcedores que nos leva a esse tipo de jogo com torcida única. Não se pode permitir uma escalada da violência”, pontuou.

Pandemia pode ter acirrado os ânimos dos torcedores, aponta delegado

Ele explicou que a Demafe conta com um serviço de inteligência que já permitiu acabar com diversos confrontos marcados por torcidas rivais pela internet. Para o delegado, o comportamento violento por parte dos torcedores pode ter se intensificado durante a pandemia.

“Nós esperávamos uma melhor conduta após o retorno. Mas, na verdade, os torcedores vieram piores. Minha opinião pessoal é que isso se deu em virtude do confinamento. As pessoas ficaram fechadas e acessando as redes sociais para se provocarem. Quando liberou a presença de público nos estádios, esses torcedores voltaram piores ainda. Houve um longo tempo de provocação nas redes sociais, isso foi aumentando até o ponto em que foi extravasado na forma de agressões e vandalismo”, avaliou.

O que dizem os clubes

Paraná Clube

Em 20 de fevereiro de 2022, o Coritiba venceu o Paraná Clube por 2 a 1 na Vila Capanema, em jogo válido pelo Campeonato Paranaense. Após o jogo, torcedores das duas equipes entraram em confronto. A PM precisou intervir com bombas de efeito moral para dispersar a multidão.

Seis dias depois, o Paraná Clube perdeu, também em casa, por 3 a 1 para o União-PR. O jogo marcou a queda do time para a divisão de acesso do futebol paranaense, e acabou antes dos 45 minutos do segundo tempo por conta da invasão de parte da torcida. Houve uma briga generalizada no gramado, e o time foi punido com a perda de mando de cinco jogos no campeonato estadual do ano que vem. A pena foi reduzida, e o time poderá jogar as partidas em Curitiba, mas com portões fechados.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do clube questionando quais medidas são tomadas pela administração para tentar evitar, ou ao menos minimizar casos como os ocorridos no início do ano. Em resposta, o clube disse que não irá se pronunciar sobre essas situações neste momento, uma vez que os assuntos internos do clube estão sendo resolvidos internamente.

Athletico Paranaense

Torcedores de Athletico e Juventude brigaram na tarde do último dia 8 de junho em Caxias do Sul, pouco antes da partida entre os clubes no Estádio Alfredo Jaconi, pela 10ª rodada do Brasileirão. O confronto, que envolveu paus, pedras e barras de ferro, acabou somente depois da intervenção dos policiais. Houve dois feridos, quatro presos e nenhum torcedor do Furacão pôde entrar no estádio.

Nesta semana, o Athletico anunciou a proibição de qualquer adereço de torcidas organizadas na Arena da Baixada – bandeiras, faixas, baterias ou instrumentos de percussão, entre outros. Segundo o clube, a decisão foi tomada em conjunto pelos Conselhos Deliberativo e Administrativo e teve como causa “os recentes e gravíssimos episódios de violência praticados por integrantes de torcidas organizadas”.

A reportagem da Gazeta do Povo também entrou em contato com a assessoria do clube para falar sobre as medidas tomadas para inibir o comportamento violento de parte de seus torcedores. Os contatos, porém, não tiveram retorno.

Coritiba

Após a briga no jogo contra o Palmeiras, a direção do clube, em conjunto com os rubro-negros, solicitou que os clássicos entre as duas equipes sejam com torcida única no Campeonato Brasileiro de 2022. O pedido obteve aval tanto da Demafe quanto do Ministério Público do Paraná, e foi chancelado pela CBF.

A reportagem chegou a fazer contato com o vice-presidente do Coritiba, Jair José de Souza. Ele se prontificou a conceder uma entrevista sobre as ações do clube no sentido de minimizar as ocorrências de agressões e vandalismo, mas só depois da definição sobre a torcida única nos clássicos. Procurado novamente após a decisão da CBF, Souza não respondeu aos pedidos.

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