O narguilé é 100 vezes mais nocivo do que um cigarro. Ou seja, uma sessão dele (que geralmente dura em torno de 60 minutos), equivale a ter fumado 100 cigarros. É como fumar cinco maços de cigarros de uma vez só. Estudos científicos também derrubam a alegação de que este tipo de fumo não faz mal porque passa por um “filtro de água”. Pelo contrário, pois além da nicotina, o usuário aspira as fumaças tóxicas (principalmente o monóxido de carbono) e outros venenos contidos na folha de tabaco.
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Não é difícil andar por parques e praças nos fins de semana e ver grupos de jovens fumando o narguilé, inclusive compartilhando a mesma piteira com várias bocas. Além de ser uma forma de sociabilizar com os amigos, o que vem “convidando” cada vez mais jovens a utilizar o produto são as ervas flavorizadas, que não deixam aquele cheiro e gosto ruins do cigarro. Há ainda quem substitua o fumo próprio do narguilé por maconha ou outras drogas (algumas até pesadas, como cocaína e heroína) e bebidas destiladas, no lugar da água, o que aguça a curiosidade dos jovens em experimentar.
“As pessoas tratam o narguilé como se fosse algo de diversão, de balada. Muitos que usam narguilé não fumam cigarro, porque pensam que o narguilé não faz mal. Mas ele é muito mais prejudicial que o cigarro. E eu não vejo propagandas combatendo o narguilé, assim como se combate o cigarro”, lamenta o cirurgião torácico do Hospital Vita, Marcos Chesi, que também é presidente da Sociedade Paranaense de Cirurgia Torácica. 80% dos pacientes que ele atende em seu consultório são com doenças geradas pelo tabagismo.
Faz muito mal!
O pneumologista Jonatas Reichert, da Secretaria Estadual de Saúde e membro da Comissão Científica de Tabagismo, da Associação Médica Brasileira, alerta: o uso do narguilé, tanto como do cigarro, causa doenças respiratórias, cardiocirculatórias e as neoplasias (câncer). Juntos, estes três grupos somam 56 diferentes doenças. E não é necessário que a pessoa trague (levar a fumaça para dentro dos pulmões, para depois expeli-la) para estar sujeito às doenças.
Mesmo que a fumaça seja mantida somente na boca e depois expelida, a nicotina e substâncias tóxicas são absorvidas pelas células das mucosas e absorvidas pela corrente sanguínea. Em poucos segundos, já estão no cérebro. Inclusive, quem usa o narguilé é, ao mesmo tempo, fumante ativo e passivo, pois está exposto à fumaça de quem está fumando ao seu lado.
A nicotina é um dos maiores cancerígenos do mundo. E o tabagismo é o campeão das mortes evitáveis no mundo, conforme a OMS. “Nada na folha do tabaco é benéfico. Inclusive os fertilizantes usados nas plantações, a base de urânio, que é radiotivo”, alerta Jonatas.
Quem compartilha a mesma piteira do narguilé com outras pessoas também está exposto a contrair outros tipos de doenças, inclusive as sexualmente transmissíveis, como herpes, hepatite, tuberculose, pneumonia, etc. “Quando você vai ao restaurante, você não compartilha seus talheres com ninguém. Então porque compartilhar o narguilé?”, alerta o cirurgião torácico Marcos.
Doença pediátrica
Na última década, o tabagismo tem sido considerado uma doença pediátrica, porque as crianças (abaixo dos 12 anos), estão fumando cada vez mais cedo, seja consentido pelos pais ou escondido deles.
“Os maços de cigarros estão ali, em farmácias, mercados, panificadoras, no meio de painéis super coloridos, com imagens interessantes, ao lado de bombonieres cheias de embalagens de chocolate também muito coloridas, que atraem os olhos das crianças. Estudos dizem que cerca de 100 mil crianças se tornam dependentes em todo o mundo por dia”, lamenta Jonatas.
Ciclo do vício
O pneumologista Jonatas Reichert explica que a nicotina, quando chega ao cérebro, causa a sensação de prazer, bem estar e recompensa, porque libera grande quantidade de dopamina e outros neuro hormônios. A sensação é igual quando comemos uma comida de que gostamos muito ou quando praticamos um esporte. Mas a diferença é que, quando esse estímulo vem de forma química (através da nicotina, por exemplo), ele chega de forma muito veloz ao cérebro (em questão de pouquíssimos segundos), enquanto o comer e o exercitar-se traz prazer de forma mais lenta.
Sendo assim, o corpo começa a “exigir” cada vez mais essa forma mais rápida de prazer, o que leva ao vício. E se a pessoa não fuma para saciar o que o cérebro está pedindo, acaba tendo alterações de comportamento e humor. Se o cigarro já causa essa dependência, o narguilé, que é 100 vezes mais “concentrado”, acelera o processo do vício.
Projeto quer proibir narguilé em locais públicos
O vereador Dr. Wolmir Aguiar (PSC), da Câmara Municipal de Curitiba, propôs em fevereiro um projeto de lei, que pretende proibir o uso do narguilé em locais públicos e a venda do produto a menores de 18 anos. Caso o projeto seja aprovado pelos vereadores, a lei prevê a retenção do narguilé, pagamento de multa (25% do salário mínimo ou mais para reincidentes) e perda do alvará de funcionamento de estabelecimentos pegos vendendo o produto a menores de 18 anos.
O projeto já passou por todas as comissões da Câmara e está apto para ir à votação dos vereadores. Está apenas aguardando agenda, para ser colocado em pauta. “Vemos pessoas usando em praça pública, em parques. As crianças começam a achar que é uma coisa normal, que é bonito estar numa roda de amigos usando isto. Como pai, eu vejo que não é um bom exemplo”, disse o vereador, justificando o seu projeto de lei.