Decisão da Unimed Curitiba de alterar o sistema de atendimento a pacientes que precisam de terapias especiais vem causando polêmica. Com a mudança, crianças que antes eram atendidas por profissionais escolhidos pela própria família passarão a ser tratadas por um quadro profissionais delimitado pela própria operadora – interrupção que, segundo os pais, pode afetar severamente os tratamentos já iniciados.
O novo parecer levou dezenas de pais a protestarem na tarde da última terça-feira (23) em frente à Unimed Curitiba, que alega que a mudança foi definida por causa de problemas acumulados com alguns profissionais. O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) e pelo Departamento Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon).
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“Minha filha já faz tratamento com os mesmos profissionais há dois anos, os terapeutas sabem o que ela perdeu e ganhou neste tempo, e isso se perderia no caso de uma mudança”, acusa a professora Pérola de Paula Sanfelice, mãe da menina Pétala, de 3 anos, portadora da síndrome de Rett, uma doença que atrapalha a locomoção e a fala da criança.
Pérola relata que, quando começou o tratamento da filha, a Unimed não tinha clínicas credenciadas para a terapia e indicou profissionais para realizar o procedimento. Agora, o plano exige que os clientes troquem o tratamento para os lugares credenciados. “Recebi uma carta faz um mês falando que teria que interromper o tratamento atual e começar em um novo lugar credenciado em 30 dias”, explica a professora, para quem a transição pode complicar o tratamento. “É complicado porque a criança já tem uma rotina estabelecida e, com uma possível troca de terapeuta, isso pode ser prejudicado”.
A advogada Luanna Carla Rubino, mãe de Giulia, de 4 anos, também recebeu a informação de que teria de interromper o tratamento da filha. “Eles avisaram que iríamos ter que interromper o tratamento. Consegui reverter por conta do vínculo terapêutico, mas no começo deste mês [abril] eles voltaram a cortar”, conta.
A filha de Luanna sofre hipotonia muscular, condição que compromete a força, e faz tratamento três vezes por semana. A advogada disse ter buscado clínicas credenciadas, mas não encontrou o que precisava. “Eles alegaram que não têm profissionais para atender minha filha, além de não terem vagas. Eu estou na fila faz um mês e ainda não consegui”, ressalta. “A Giulia faz natação e balé, tudo acompanhado pelo terapeuta. E nessas clínicas não há esse acompanhamento externo”, acrescenta a mãe, que disse ter recomendação do médico da filha para não interromper o tratamento que já vinha sendo feito.
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Direitos
O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, vinculado à Secretaria da Justiça, Família e Trabalho, foi procurado pelas famílias. O órgão acionou o Procon, que agora acompanha a situação. Perante o Procon, já foram realizadas duas reuniões. Na primeira, com a presença das mães, foi determinado que o prazo para a troca do tratamento seja de 180 dias.
“É uma questão muito delicada, pois são vários quadros nestes tratamentos”, destaca Claudia Silvano, diretora-geral do Procon. “Queremos uma solução que gere menos desgastes para as famílias e, sobretudo, para as crianças”, pondera a diretora.
Depois das reuniões, uma possibilidade que vem sendo estudada é de acionar um avaliador neutro, para que, como um perito, seja capaz de apontas problemas e soluções.
O Ministério Público do Paraná também foi acionado. O órgão informou ter aberto um inquérito para ouvir tanto a operadora quanto os pais.
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Se por um lado há pais contestando a mudança, por outro há famílias que afirmam não terem sido afetadas pela alteração. É o caso da estilista Priscila Santana Vasconcelos Siqueira, mãe do Miguel, criança de 6 anos portadora da Síndrome de Inv Dup Del 8p, doença rara que afeta desenvolvimento psicomotor e de fala.
Priscila se mudou de Sorocaba para Curitiba há três anos e, até o ano passado, mantinha o filho em tratamento em clínicas particulares. “Há um ano decidi contratar um plano particular e a Unimed indicou algumas clínicas. Fiquei triste em um primeiro momento, mas agora estou muito satisfeita. Nessa vida que a gente leva temos que sempre que nos esforçar e arriscar”, avalia. A estilista disse que o processo de transição foi tranquilo. “Eu entendo o receio das mães, porque o terapeuta não conhece seu filho e começa do zero. Porém, com o que Miguel, o que importa é que ele já veio com desenvolvimento e o terapeuta percebe isto nas atividades”, conta.
O diretor de Prevenção e Promoção à Saúde da Unimed Curitiba, Jaime Luís Lopes Rocha, alegou que a rede começou a credenciar clínicas após perceber problemas nas autorizadas. “Começamos a perceber que alguns lugares estavam faturando muito com os tratamentos, outros estavam com uma estrutura ruim, e decidimos fazer a nossa rede para fazer esse atendimento”, justifica.
Conforme Rocha, antes de definir a mudança, a operadora trouxe um especialista para avaliar os locais e ver quais clínicas estavam aptas para receber o credenciamento. “Nos últimos meses credenciamos três clínicas que vieram por recomendações dos pais, estamos indo atrás de todas e dispostos a conversar, o problema é que nem todos estão abertos a isto”.
Sobre a questão do vínculo das crianças com os terapeutas, Rocha reconhece que é importante, mas, na opinião dele, a dependência não é algo benéfico. “Pode acontecer qualquer coisa na vida do terapeuta, ele pode ir embora da cidade, falecer. A criança não pode ficar muito presa a ele. As crianças que estão fazendo essa transição são avaliadas pelo nosso núcleo de atenção”, finaliza.
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