A pandemia de coronavírus (covid-19) completa um ano em Curitiba e praticamente ninguém previu que ela pudesse durar tanto tempo. O primeiro paciente a buscar internamento em Curitiba por estar contaminado pelo vírus tinha 54 anos e deu entrada na rede de saúde no dia 11 de março, exatamente 15 dias após um homem de 61 anos ser positivado com o novo vírus em São Paulo, em 26 de fevereiro. Atualmente, já são 3.116 mortes pela doença na capital do Paraná.

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Quase um ano depois do primeiro caso em Curitiba, apenas 23.160 doses da vacina do coronavírus chegaram no dia 19 de janeiro de 2021 e as primeiras doses foram aplicadas já no dia 20 de janeiro, em ato simbólico. A primeira vacinada foi a enfermeira Silvana Maria Bora. Quem aplicou a vacina na enfermeira foi a secretária municipal de Saúde Márcia Huçulak.

Grupos prioritários passaram a ser vacinados. Profissionais da saúde da linha de frente, idosos acamados e idosos acima de faixas etárias acima dos 95 anos e descendo conforme cronograma que, atualmente, está na faixa dos 79 anos até esta quinta-feira (11).

Esperança e frustração

A vacinação trouxe esperança, mas os altos índices de contágio da covid-19 seguiram, baixaram um pouco, mas voltaram a subir, novas variantes do vírus começaram a circular em Curitiba e o distanciamento social, tão pedido pelos governantes e autoridades sanitárias, foi sendo rompido.

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Festas clandestinas, Natal, Ano Novo, Carnaval. Com isso, a porcentagem de ocupação de leitos no Paraná cresceu e está acima dos 97% e novas medidas restritivas estão em vigor na capital com a bandeira laranja, por meio de novo decreto publicado na terça-feira (9).

Questionada pela reportagem na entrevista coletiva do novo decreto municipal, na terça-feira, a secretária Márcia Huçulak falou sobre como a experiência de um ano no combate da pandemia auxilia na tomada de decisão. “Lá no início a gente não sabia, mas agora temos conhecimento”, disse a secretária, ressaltando que as pessoas parecem não ter consciência do perigo do vírus e destacando que as medidas que se tomam são para o bem da população.

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“Hoje sabemos das sequelas. Tem gente que sai do hospital e terá outros sintomas. O vírus não adianta. Aprendendo em um ano, ninguém pegou covid-19 da nossa equipe. Aqui tem o protocolo que se segue rigorosamente. Se você pegar o índice de contágio do pessoal da Saúde, ele é menor que o da população. E o pessoal está na linha de frente. Essa diferença de alto índice não se justificaria. O vírus não pula, ele precisa que a pessoa tenha contato próximo com alguém sem máscara, em ambiente de aglomeração”, concluiu a Márcia Huçulak.

Há esperança!

Para Francisco Carlos Mouzinho, 57 anos, médico sanitarista, professor da UFPR e da Faculdades Pequeno Príncipe, há esperança. “Comparando com outras doenças, mesmo na história, não é a pior das doenças. Claro que é uma pandemia, mas se na época da varíola tivéssemos as mesmas condições de contágio de hoje, teria matado mais gente”, diz o sanitarista.

Mouzinho ressalta a importância da vacina. “A tendência natural é que o vírus entre em equilíbrio. As mutações que ele sofre não são só para o mal. A virulência vai diminuir, passar a atingir uma ou outra pessoa, e vamos conseguir debelar a pandemia. A vacina dá esperança. No momento em que ela chegar no jovem. Todo o avanço tecnológico está a nosso favor, com gente de ponta em busca de um tratamento, que vai chegar”, avalia o médico.

No entanto, Mouzinho diz que a máscara e o distanciamento ainda deverão continuar por um bom tempo. “O medo hoje é o pessoal enfiar o pé na jaca, desconsiderar o risco e voltar a se expor. Só porque se acostumaram com o risco. Não, o uso da máscara deve continuar mesmo quando os casos baixarem. E o distanciamento também”, alerta.

Já Vinicius Filipak, diretor de gestão em Saúde na Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa), aponta que essa pandemia é a maior emergência de saúde pública da história moderna. “E ela aconteceu num período de evolução da ciência humana de elevado nível de desenvolvimento. Nós temos a melhor ciência hoje do que tínhamos há 100 anos. Nós temos melhores meios de comunicação hoje do que tínhamos há 100 anos, melhores tratamentos. E, no entanto, essa doença assolou o mundo inteiro”, disse.

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A avaliação de Filipak em um ano de pandemia é sobre a falta de compreensão da sociedade. “Não tem como a gente entender, depois desse balanço de um ano, porque a sociedade tem achado que essa doença é uma doença que não precisa se preocupar. Parece que a sociedade pensa assim. Porque quando se estabelece uma recomendação sanitária de que aglomeração causa pandemia, reagem contra isso como se fosse o maior absurdo do mundo”, desabafou o diretor.

Para ele, na sociedade atual, “existe tanta desinformação e tantas ‘verdades mentirosas’ divulgadas, por tantos meios de comunicação, que confunde a cabeça das pessoas”. Mesmo preocupado, Filipak brinca que “há, no Brasil, 200 milhões de especialistas em covid, e todo mundo nem sabe a covid que tem”.

Voltando a falar sério, o diretor diz que esse um ano de pandemia ensinou que a sociedade precisa se unir para vencer o vírus. “Há solução, vamos vencer, mas nós precisamos estabelecer um processo em que as pessoas se unam para fazer um enfrentamento dessa doença. Não é possível a gente conhecer a covid, conhecer as autoridades que estão falando acerca desse risco, mas simplesmente desconsiderar essas informações e agir como se de fato não houvesse doença. É isso que precisa mudar”, finaliza Vinicius Filipak.