Um protesto do Sindicato dos Permissionários de Centrais de Abastecimento de Alimentos (Sindaruc) deixou cerca de 50 mil pessoas carentes de pratos vazios em ONGs e instituições de caridade por dois dias em toda grande Curitiba. Insatisfeitos com a indicação de Vilson Goinski, feito pela nova governadora Cida Borghetti para o comando da Central de Abastecimento (Ceasa), eles usaram a doação de alimentos sem valor comercial para o Banco de Alimentos, que ajuda diretamente pessoas carentes, para forçar a troca da direção.
A pressão, de ética duvidosa, surtiu efeito. Uma reunião realizada na tarde desta terça-feira (22) terminou com a revogação da indicação de Goinski, que segundo os representantes do sindicato se deu exclusivamente por indicação política. Um novo nome deve ser indicado assim que a governadora volte de uma visita oficial a Brasília.
O Sindaruc informou a indicação anterior era “duvidosa”e a escolha de Vilson Goinski para a presidência da entidade foi vista com maus olhos pelos empresários, uma vez que ele “não possui qualificação técnica para o cargo”. Além disso, outras reinvindicações por parte dos permissionários estão na pauta de assuntos a serem analisados junto ao governo.
Até lá, segundo o sindicato, não existe previsão de liberação para doações. Em nota, o Governo do Paraná informou que acompanha com preocupação a manifestação de permissionários que deixaram de repassar produtos para o Banco de Alimentos, consequentemente, reduzindo o estoque do programa e o atendimento às organizações assistenciais beneficiadas pela iniciativa. Presentes na maioria das centrais de abastecimento do Brasil, os bancos de alimentos foram criados para tentar reverter e otimizar o desperdício que acontece desde a produção até o consumo final.
Prejudicados
Adriana de Paula, 35, foi uma das afetadas pela interrupção. Diretora da Associação Beneficente Anjos da Cidadania, em Fazenda Rio Grande, ela não sabe a quem recorrer para conseguir os recursos para as merendas das 130 crianças que atende pelo projeto. “Meu trabalho depende dessas doações. Desde 2016 eu venho semanalmente à Ceasa fazer as coletas, sem as quais não seria possível oferecer as três refeições que disponibilizamos às crianças diariamente”, desabafa.
Na mesma situação, Adriano Alberto Ribas, diretor do Projeto Nova Terra, que ajuda diretamente 110 crianças e mais de 900 famílias do bairro Atuba, se sente indignado com o corte de doações. E não é pra menos. De acordo com Ribas, 70% de tudo que é consumido na ONG que administra, vem do Ceasa. “Todo dia tem café da manhã, almoço, café da tarde e janta. Tudo preparado com os alimentos que retiramos do banco da Ceasa toda a segunda-feira. Fomos pegos de surpresa com essa ‘novidade’ e sinceramente, não sei como farei nessas próximas semanas”, diz.
O banco
Com uma média de mais de 200 toneladas de alimentos doados por mês, o Banco de Alimentos da Ceasa atende cerca de 140 instituições cadastradas que, juntas, auxiliam em torno de 50 mil pessoas carentes por meio do reaproveitamento de frutas, verduras e hortaliças provenientes do excedente da comercialização, ou seja, que não chegaram a ser vendidas no comércio, mas que apresentam plenas condições de consumo.
Segundo números divulgados pelo governo, em 2017, quase 20 mil quilos de hortigranjeiros que iriam para o lixo, foram doados diariamente nas cinco unidades da Ceasa no estado no ano passado. No Paraná, a atividade é uma iniciativa realizada em parceria com agricultores e permissionários atacadistas das Ceasas de Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu, através da coleta e repasse de hortigranjeiros sem padrão de comercialização, porém ainda em boas condições de consumo. Ao todo, cerca de 88 mil paranaenses são beneficiados pelo programa por meio de hospitais, asilos, escolas, creches, hospitais e unidades de tratamento, que atendem cidadãos em situação de carência alimentar e vulnerabilidade social.
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