Sem trabalhar desde março do ano passado por causa da pandemia, motoristas de ônibus e vans escolares de Curitiba e região metropolitana encontram-se numa batalha para conseguir sobreviver, mesmo com a volta às aulas programada para o dia 18 de fevereiro. Nesta quarta-feira (27), a Urbs anunciou que o transporte escolar deverá operar com 70% da capacidade com o retorno às aulas. E com a baixa procura pelo serviço, já que as aulas retornam em sistema híbrido, quem trabalha oferecendo o serviço já está à procura de uma nova profissão.
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“Estamos parados desde o dia 19 de março, foi completamente traumático. Afetou diretamente a classe do transporte escolar. O problema principal é a falta de ajuda por falta do estado e município. A vida do transportador escolar, não só em Curitiba, mas em todo o Brasil, entrou num caos total”, desabafou o presidente do Sindicato dos Operadores de Transporte Escolar de Curitiba (Sindotec), Douglas Carlos Silveira.
O sindicato briga pela isenção da outorga, que é uma taxa anual que dá direito aos operadores de transporte escolar de exercer a função. Carros acima de seis anos são obrigatórios passar pela vistoria do Inmetro, que gera mais uma taxa. Também existe a taxa de tacógrafo, mais impostos, contador, funcionários. Em média, o gasto do transportador escolar com duas vans, segundo o sindicato, pode chegar a 7 mil ao mês.
Pandemia levou à venda da van
Claudenir Ribeiro trabalha há 19 anos com transporte escolar em Colombo, mas a crise da pandemia o obrigou a vender uma de suas duas vans. “Ao todo, éramos quatro funcionários. A ideia era colocar três vans para trabalhar, mas aí veio a pandemia, as aulas pararam e nos arrebentou. Atendíamos 10 escolas, entre municipais e estaduais. A pandemia me deixou sem renda, sem nada”, lamentou.
Para continuar com a outra van, Claudenir segue fazendo frete, mas o retorno é pouco. “Tentei com empresas para fazer transporte de funcionários, mas não deu. O pessoal está se virando de Uber, diarista e por aí vai. Trabalho desde 2002, gostamos de fazer isso e agora estamos sofrendo”.
À procura do plano B
Para sobreviver ao ano de 2020, o transportador escolar de Curitiba Renan Wolfesgrau conseguiu manter as contas com a colaboração dos pais dos alunos. “Eu fiz um acordo, um contrato anual com os pais. Não foram todos que optaram por continuar pagando. E agora [com o retorno das aulas] a procura tá bem baixa. Não tem nada certo”, revelou.
Sem nada definido para esse ano, Renan decidiu procurar outra fonte de renda. “Até as aulas voltarem pra valer, vai ser complicado cobrar alguma coisa. Com o sistema híbrido, o custo benefício talvez não valha a pena”, confessou. Para manter as contas em 2021, Renan pretende apostar em outro ramo. “Fiz um curso para aprender a operar na Bolsa. Estou numa fase de aprendizado no momento, estudando pra isso. E procuro outras coisas também pois sinceramente não sei como vai ser”, desabafou o transportador.
Para conseguir manter a casa e dois filhos durante a pandemia, a transportadora escolar de Almirante Tamandaré, Francyelle Marícia de Oliveira, fez empréstimos e se virou como pôde em 2020. “Trabalhei de secretária, de motorista, fiz faxina, telefonista, de tudo. A gente tem que se virar. Mas vou te dizer, estou providenciando um plano b”.
Antes da pandemia, Francyelle transportava diariamente 55 alunos, seus clientes. Até o final do ano, apenas 4 deles continuaram pagando pelo serviço, com 50% de desconto. “Eu sou mãe e pai de dois filhos. Com o que recebia, não conseguia manter as contas”, disse. Mesmo vendo um mercado quase abandonado, a empresária tem se esforçado para continuar na área. “Eu amo de paixão. Quando a gente ama o que faz, a gente se esforça até o último”, confessou.