“O trânsito brasileiro está uma carnificina. Não é possível pensar que isto é uma coisa normal”, diz Renato Campestrini, gerente técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV). Foi dentro do Observatório que surgiu o Maio Amarelo, um movimento mundial que busca conscientizar as pessoas sobre a segurança viária, com o objetivo de diminuir as mortes no trânsito. Este ano, as ações do movimento mexem com a consciência dos motoristas, com o slogan: #MinhaEscolhaFazADiferença.
Dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que, nas rodovias federais, o número de mortos do trânsito aumentou 11,8% de 2015 para 2016. Nas rodovias estaduais, subiu 3,4% neste mesmo período. Neste ano, entre janeiro e abril, a Polícia Militar já registrou 161 mortes nas estradas estaduais.
Capital
Já em Curitiba, em 2016, o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), registrou 5,4 mil acidentes nas ruas (os dados não abrangem estradas, como Linha Verde e BRs que têm trechos urbanos, como os Contornos). A polícia registrou 51 mortes que ocorreram nos locais de acidente (óbitos em hospitais não foram contabilizados).
Neste ano, entre janeiro e abril, o número de acidentes registrados, somente na capital, foi 1,4 mil, causando 15 mortes e deixando mais de 1.100 feridos.
De acordo com um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), que inclui as vítimas do trânsito que morreram em hospitais ou durante o resgate, de 2014 para 2015, 184 pessoas morreram em decorrência de acidentes na capital. A prefeitura ainda não tem fechados os dados do ano passado.
Dados retirados do DataSUS (base de dados de saúde do Governo Federal), cerca de 45 mil pessoas morrem no trânsito brasileiro anualmente. Segundo dados do ONSV, no Brasil, a cada minuto, uma pessoa fica sequelada por causa da violência no trânsito. R$ 56 bilhões são gastos anualmente com acidentes, dinheiro que poderia ser usado em outras áreas estratégicas de desenvolvimento do País.
Questão de escolha
O que muitas pessoas não se dão conta é que são pouquíssimas as mortes no trânsito que acontecem por motivos alheios à vontade dos envolvidos (falhas na pista, situações imprevisíveis, etc.). A maioria das mortes ocorre por escolhas que as próprias pessoas fazem ao volante (usar ou não usar o cinto, beber ou não beber, atender ou não o celular, etc.). É com base nisto que as ações do Maio Amarelo estão concentrando esforços este ano.
Para Campestrini, não adianta uma pessoa andar com um adesivo “Eu apoio a Lava Jato” no carro e dirigir falando ao celular. Ir às ruas protestar contra a corrupção, mas beber uma cervejinha num churrasco e voltar dirigindo para casa. Por isto, as ações do Maio Amarelo pegam forte este ano na questão da consciência dos motoristas. Pequenas percepções de situações de risco podem fazer toda a diferença na preservação de vidas. O Maio Amarelo começou no Brasil em 2014 e já se alastrou por 26 países nos últimos quatro anos.
Rodovias federais no Paraná (2016)
Os acidentes ocorreram |
70% nas reta |
75,9% em pista seca |
53,8% em plena noite |
33,9% em pleno dia |
61,7% em pista simples |
35,6% em pista dupla |
Sobre os mortos |
43,7% estavam em automóveis |
17,8% em motocicletas |
29% foram em colisões frontais |
18,2% em atropelamentos |
20 – 24 anos é a faixa etária que mais concentra óbitos, seguida pelos maiores de 60 anos. |
Os motivos |
30,8% por falta de atenção |
21,9% por velocidade incompatível |
15,6% por ingestão de álcoolSeguidos por (nesta ordem): desobediência à sinalização, ultrapassagem indevida, sono, defeito mecânico em veículo, não guardar distância e animais na pista. |
Metas da ONU
Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, que determina que de 2011 a 2020, todos os países do mundo reduzam em até 50% o número de mortos e feridos no trânsito.
“O Brasil está tendo reduções, porém muito lentas”, lamentou Renato Campestrini, do ONSV, que teve a ideia do movimento Maio Amarelo justamente para contribuir com a redução da letalidade no trânsito. Ele ainda ressalta que excesso de velocidade sempre está entre os principais fatores nas estatísticas de mortes no trânsito, seguido pela imperícia e alcoolemia.
Números das estradas
Rodovias estaduais (Paraná) | Rodovias federais (Paraná) | |||||
Acidentes | Óbitos | Feridos | Acidentes* | Óbitos | Feridos | |
2014 | 10,6 mil | 708 | 8,7 mil | 2,7 mil | 778 | 11,4 mil |
2015 | 9,2 mil | 630 | 7,5 mil | 2,3 | 583 | 10 mil |
2016 | 8,6 mil | 652 | 7,1 mil | 2,4 mil | 652 | 9,7 mil |
2017 | 2,5 mil | 161 | 2,1 mil | – | – | – |
*acidentes graves, com mortos ou feridos graves.
Fontes: PRF e BPRv
Tamo Junto!
Ao longo deste mês de maio, a Tribuna vai publicar quatro matérias especiais, às sextas-feiras, falando sobre acidentes de trânsito. Serão matérias educativas ou reflexivas, que façam as pessoas pensarem na questão da segurança viária.
Números da capital
Acidentes | Óbitos | Feridos | |
2014 | 7 mil | 61 | 6,2 mil |
2015 | 5,9 mil | 48 | 5,1 mil |
2016 | 5,4 mil | 51 | 4,6 mil |
2017 | 1,4 mil | 15 | 1,1 mil |
Acidentes com veículos | |||
Ônibus | Motos | Bikes | |
2016 | 489 | 2159 | 214 |
2017 | 121 | 591 | 58 |
*Levantamento não inclui acidentes em trechos urbanos de rodovias nem as mortes registradas durante o socorro ou no hospital.
Fonte: Polícia Militar
Curiosidades:
– A maior parte dos óbitos ocorre entre 18h às 20h e entre 7h e 8h. Também ocorrem em maior quantidade aos sábados, seguidos das sextas e domingos.
– Jovens entre 20 e 29 anos são as principais vítimas do trânsito. É também a faixa etária em que mais estão associadas as mortes por consumo de álcool.