E como acontece na vida, quem vive muito tem muita história. A história do Johnscher começa antes que ele tivesse este nome, por volta de 1900, quando um cidadão chamado João Leandro percebeu que era bom negócio abrir um hotel nas proximidades da Estação Ferroviária – quem chegava cansado, principalmente homens de negócios e imigrantes com recursos, queria comer e descansar, antes de procurar um lugar para se instalar na nova terra. Foi assim que nasceu o Hotel Paris.
No entanto, se os imigrantes queriam comer e dormir, os amantes queriam ficar acordados e fornicar. E o hotel, como a Paris daqueles anos, virou uma festa, ponto do encontro dos amantes. E ganhou má fama, inspiradora de contos e poemas dos escribas da capital na segunda década do século 20. E com aquela fama, imigrantes e homens de negócios procuraram outros locais. E o Paris decaiu em pouco tempo. A mudança de nome para Hotel Stumbo não resolveu muito. O problema não era o nome, era a clientela – barra pesada para a época.
Os anos de ouro
Por esta razão, a família Parolin, dona do imóvel, decidiu alugá-lo em 1915 para uma viúva chamada Vitória Johnscher. A matriarca ganhou experiência hoteleira em Paranaguá, ao lado do marido Francisco. Os dois tinham uma pensão às margens do Rio Itiberê para abrigar imigrantes alemães. O Johnscher mudou da água para o vinho – ficou chique, elegante e famoso. Todo mundo queria dormir no Johnscher. Em 1923, Francisco Lourenço, filho mais velho de Vitória, já estava em outro empreendimento – o Grande Hotel Moderno, na Rua XV de Novembro – e por esta razão transferiu o controle do Jonscher para o cunhado Leopoldo Niemeyer. E com este comando o hotel foi até os anos 70.
A coqueluche de Curitiba
Marco André Lima |
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Hotel continua no mesmo endereço, na Rua Barão do Rio Branco. Veja na galeria de fotos o Hotel Johnsche. |
O certo é que os dois hotéis – Johnscher e o Moderno – se tornaram coqueluche de Curitiba na primeira metade do século passado, ainda que novos empreendimentos do gênero chegassem a Curitiba. O Johnscher era luxuoso para os padrões da época – tinha água quente e banheiro no quarto. Muitas famílias o visitavam para conhecer a novidade que ele trouxe, um tal de elevador, um dos primeiros da cidade, uma engenhoca que dispensava subir as escadas. Para quem acabou de comer muito ou beber demais no térreo, não tinha coisa melhor – era só entrar na engenhoca, subir e chegar no quarto do terceiro andar e cair na cama, poupando os bofes.
O hotel virou atração turística. Por muitos anos foi o mais charmoso e um dos melhores da cidade. Era famoso pelas festas de Natal que fazia, com orquestra e a grande atração que todo mundo queria ver: árvore gigante montada na frente do Johnscher. Mas a história do hotel seguiu a mesma curva da história do homem – nascimento, vida e morte. Com o tempo, ele perdeu terreno para empreendimentos modernos e com mais ape,los e entrou em decadência, até ser desativado em 1977 e ficar abandonado até o ano 2000. Neste ano a rede San Juan Hotéis o adquiriu e investiu em sua restauração – e o Johnscher renasceu em 2002, revigorado e charmoso como parte de um plano de renovação do centro velho de Curitiba, principalmente da Rua Barão do Rio Branco e seu entorno.
O novo Johnscher
O número original de quartos foi reduzido de 34 para 24, dos quais duas suítes grandes no terceiro andar que mantém aspectos e mobiliário do começo do século 20, proporcionando verdadeira viagem no tempo. O recepcionista Anderson Machado diz que embora o hotel esteja carregado de história, atualmente ele segue o mesmo padrão de administração e ocupação de qualquer empreendimento similar. O pacote de núpcias é o seu ponto forte.
Espaçoso, romântico, lembrando uma Curitiba que só se vê em velhas fotos, o Johnscher atual é quase um cenário de cinema. O Johnscher teve mais sorte que o Grande Hotel Moderno, outro empreendimento da mesma família, que se transformou num centro de pequenas lojas populares. O Moderno, que ficava na Rua XV, assim como o Johnscher, também é cheio de história. Foi lá que morreu Emiliano Perneta, Plínio Salgado não queria outro lugar para se hospedar na cidade, era o preferido de presidentes e grandes líderes nacionais quando vinham a Curitiba. Até Santos Dumont foi um de seus hóspedes. Mas do Grande Hotel Moderno sobrou apenas a arquitetura. O Johnscher ainda está cheio de vida – e de história.
Veja na galeria de fotos o Hotel Johnsche.