Parece que virou rotina. Superpromoções com centenas de produtos a R$ 1 têm arrastado multidões de Curitiba e região para pequenos mercados da capital. Esse tipo de evento passou a fazer parte do calendário do curitibano no começo deste ano, quando comércios de bairro recorreram à estratégia para se tornarem conhecidos e atrair clientela. Desde então, até grandes redes varejistas, com marcas já consolidadas, têm entrado na onda das “baratezas”.

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A consultora de vendas Silvia Cristina Rodrigues, 50 anos, e a mãe dela, Áurea Watzco Rodrigues, 72 anos, conferiram as ofertas de perto. Na última quinta-feira (26), elas foram até o mercado do bairro para encher a despensa. A notícia das ofertas correu no boca a boca em grupos de WhatsApp da vizinhança do Atuba e do Tingui. “Saímos com a sensação de que fizemos um bom negócio. Sentimos que economizamos de verdade. Da outra vez, a economia foi de R$ 70”, contam mãe e filha, que tinham no carrinho itens do dia a dia e supérfluos, como produtos de limpeza e higiene, bebidas, enlatados e guloseimas.

O economista Carlos Magno Bittencourt, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR), explica que esse tipo de campanha tem sido impulsionado e influenciado por um cenário de economia enfraquecida, alto índice de desemprego e menor poder aquisitivo da população. Nesse contexto e dentro de um segmento em que a diferença de preço é muito pequena, criar um fato novo para chamar a atenção dos clientes e impulsionar as vendas – sem a necessidade de grande investimento em campanhas e propaganda – torna-se praticamente uma estratégia de sobrevivência.

“É muito difícil no varejo de mercado se posicionar como a marca mais barata. É preciso fazer algo inusitado para chamar a atenção. Esse tipo de ação não gera lucratividade, mas aumenta o fluxo de pessoas que se esforçam para conhecer a loja”, conta o professor da Universidade Positivo e consultor de franchising e gestão de redes de varejo Leandro Krug Batista.

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Além de estruturar e fortalecer a marca e fidelizar novos clientes, quem busca as promoções acaba comprando outros produtos, o que também estimula as vendas. “A promoção acaba sendo um chamariz para os consumidores, que acabam impulsionados a levar outros produtos”, afirma Bittencourt. Entretanto, o economista avalia que as superpromoções não devem ter vida longa por dependerem muito do envolvimento e adesão de fornecedores. “Mercado pequeno não sobrevive com essas promoções”, diz.

Novas marcas

O empresário e professor de Comportamento do Consumidor na FAE Business School, Alexandre Andrade, concorda que o envolvimento de fornecedores é vital para a continuidade dos eventos e pontua que as superpromoções também são propícias para que as pessoas experimentem novas marcas e atestem a qualidade dos produtos. “Esses eventos são interessantes para o fornecedor que quer ver seu produto conhecido. Todos se unem em torno de uma ação ocasional”, diz Andrade, ressaltando que a demanda por seus alimentos de rotisseria aumentou 20% depois de aderir a uma superpromoção.

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O especialista lembra que fazer promoções apenas com produtos encalhados, para desafogar o estoque, não dá certo. “Oferecer desconto em produtos de grande giro é o que chama a atenção das pessoas”, aponta. E, para que a ação não se torne um problema, os estabelecimentos devem estar atentos à logística e à estrutura do evento. Longas filas, trânsito comprometido por falta de vagas de estacionamento e pouca quantidade de produtos em promoção para atender a demanda podem comprometer a relação do cliente com o mercado.

Um dos precursores das promoções de R$ 1 em Curitiba foi o supermercado Ítalo, no Atuba. Com 20 anos de história, 14 lojas no Paraná e em Santa Catarina e pouco conhecida na capital, a rede varejista replicou a iniciativa que fez sucesso no interior para popularizar a marca entre os curitibanos. “No interior, queríamos mostrar ao consumidor que as nossas lojas, além da qualidade e do padrão gourmet, também têm boas ofertas. Não imaginávamos que o resultado seria tão bom. De modo geral, houve um crescimento de 15% nas vendas”, conta a gerente de Marketing, Luciane Grigolo.

Barganha

Se por um lado as superpromoções trazem benefícios aos varejistas, na outra ponta, os consumidores também tiram vantagens. A principal delas é evidente: conseguir uma barganha. Krug explica que as promoções de R$ 1 tendem a atrair, principalmente, clientes de baixa renda, que costumam ter de priorizar escolhas. “Para quem recebe um salário mínimo, gastos essenciais com higiene e alimentação consomem cerca de 50% do orçamento. Às vezes, economizar R$ 200, R$ 300 representa uma semana de trabalho”, diz.

Contudo, é importante estar atento para que a vantagem econômica em um produto não se torne uma dívida que afete as contas da família. Um dos principais alertas feitos por Bittencourt é não fazer compras por impulso. “Geralmente, esse tipo de promoção contém bens supérfluos, que não são de primeira necessidade. E, no mercado, as pessoas acabam comprando outras coisas, o que pode comprometer o orçamento familiar”, diz.

Como aproveitar melhor uma superpromoção?

*Esteja atento às regras da promoção. Geralmente, há limite de quantidade a ser comprada por pessoa.

*Verifique se o que está sendo vendido é o que realmente foi divulgado.

*Confira a validade dos produtos para decidir a quantidade a ser comprada.

*Esteja atento à qualidade do produto. Se a lata estiver amassada, por exemplo, não compre.

*Calcule se o gasto com tempo e deslocamento será compensado pelas compras.

*Não compre no impulso. Tenha em mente os itens que você realmente precisa.

*Ao levar produtos fora da promoção, tenha noção dos preços praticados em outras redes.

*Caso o estoque de produtos promocionais já tenha acabado, pense duas vezes antes de voltar naquela loja. O comerciante deve estar preparado para atender uma grande clientela.

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