Mascote da atual gestão, as capivaras de Curitiba ficaram famosas nas redes sociais, mas seguem recebendo, na vida real, menos atenção do que na realidade virtual. É que desde 2012, os bichos, facilmente encontrados em parques da cidade, não passam por controle sanitário.
A medida, alertam especialistas do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é importante para que se tenha conhecimento sobre as condições de saúde desses animais e o risco da transmissão de doenças para humanos.
As capivaras, explica o professor Rafael Vieira, da UFPR, podem ser hospedeiras de carrapatos estrela infectados com a bactéria causadora da febre maculosa, a riquétsia. Ele explica que a situação pode apresentar risco, em especial, pelo aumento das temperaturas nos últimos anos.
Estudos internacionais já mostram que, a cada 1ºC a mais na temperatura, a infestação de carrapatos na natureza tende a aumentar 5%. Com dias mais quentes, os parasitas encontrariam melhores condições para se multiplicar. O contato com humanos também ocorreria mais facilmente. “Se tenho dias mais quentes, tenho mais pessoas nos parques, na grama, perto desses carrapatos”, completa o docente.
Vieira comenta que, em Curitiba, a temperatura aumentou cerca de 1,5ºC nos últimos dez anos. “Pode parecer pouco para nós, mas para os vetores é bastante”, pondera ele, ao observar que um projeto da UFPR, submetido a um edital do Programa para Pesquisa do Sistema Único de Saúde (PPSUS), pretende identificar as condições de sanidade das capivaras em Curitiba e Foz do Iguaçu.
O projeto, que deve durar cerca de dois anos, pretende capturar os roedores nos parques Cambuí, Tingui e Náutico, em Curitiba, áreas atendidas por toda a bacia hidrográfica da região. Como as capivaras se deslocam também pelos rios, seria possível, segundo o professor, ter uma boa amostragem da situação no município.
A ação deve possibilitar a identificação de carrapatos hospedados pelas capivaras, além de verificar se os animais estão infectados pela febre maculosa. Em Foz do Iguaçu, o trabalho já teve início, através de uma parceria com a Usina Itaipu Binacional. “A ideia é identificar quais os locais onde existe mais risco de carrapatos, confeccionar placas com indicações e cartilhas com informações de prevenção para a população”, comenta Vieira.
Para o professor Alexander Biondo, também do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR, é preciso atuar preventivamente na área. “Como estamos bem, vamos levando em banho-maria. Mas e quando não estiver tudo bem?”, questiona.
Ele avalia que, quando a situação foge do controle, é comum o pedido das autoridades para retirada ou eutanásia das capivaras dos parques. “Já se temos positividade confirmada, sem caso em humanos, há mais tempo para tomar medidas técnicas. Quando o caso envolve humanos, a saúde pública acaba se sobrepondo à saúde dos animais”, diz.
Complexidade
O manejo das capivaras em caso de febre maculosa não segue fórmula pronta, salienta o professor Matias Pablo Juan Szabo, da Universidade Federal de Uberaba, em Minas Gerais. Alguns fatores costumam impactar nas medidas, cita. O primeiro deles é a emoção da população.
“A capivara é um roedor que se reproduz com facilidade e é carismático. O controle delas acaba mexendo, de certa forma, com a população”, afirma Szabo.
Conforme ele, há ainda o fato de populações de capivaras estarem em áreas com interferência humana e de que carrapatos, após caírem dos hospedeiros, possam sobreviver ainda por anos.
“As pessoas dizem que as capivaras estão retomando um espaço que era delas, mas o problema não é esse. Criam nas cidades ambientes favoráveis para elas, mas sem predadores. Pagamos um preço por querermos áreas naturais, mas só com o lado bom delas”, frisa o pesquisador.