Estudantes de escolas estaduais começaram a segunda-feira (10) com protestos por toda a capital e Região Metropolitana de Curitiba (RMC) contra a Medida Provisória 746 (MP 746/2016), que propõe mudanças no ensino médio. No bairro Tarumã, próximo ao Detran, os alunos de quatro colégios bloquearam uma faixa da Avenida Victor Ferreira do Amaral. Já no Sitio Cercado, estudantes protestaram na Rua Izaac Ferreira da Cruz.
A manifestação do Sitio Cercado começou cedo, por volta das 7h. Os estudantes caminharam pela Rua Izaac Ferreira da Cruz e chegaram a bloquear um trecho da rua em alguns momentos, mas permitindo que o trânsito fluísse. A manifestação acabou por volta das 11h.
Da mesma forma que o protesto do Sitio Cercado foi a manifestação dos estudantes do Colégio Estadual Paulo Leminski, que fica no Tarumã. Os jovens se uniram a outros adolescentes do Colégio Estadual Cecilia Meireles, do Bairro Alto; do Colégio Estadual do Paraná (CEP), e do Colégio Estadual Amâncio Moro, que fica no bairro Jardim Social.
A manifestação, que começou por volta das 8h, durou o mesmo período que a dos alunos do Sitio Cercado. Os estudantes bloquearam uma faixa da Avenida Victor Ferreira do Amaral em cada sentido (Centro de Curitiba e Pinhais), mas permitiam que os veículos passassem sem interdições. Eles disseram à reportagem da Tribuna do Paraná que pretendem ocupar o Colégio Estadual Paulo Leminski, mas não divulgaram quando isso vai acontecer.
Indignação
Para os estudantes, uma única palavra pode definir o que sentem neste momento: indignação. “Somos contra essa reforma não porque somos massa de manobra, mas porque isso vai nos prejudicar diretamente. Muita gente faz estágio e trabalha à tardem, por exemplo, para ajudar a família. Se a gente parar para pensar, isso vai prejudicar de forma imediata no orçamento da família”, desabafou uma estudante de 15 anos, que cursa magistério no 1º ano do ensino médio.
Conforme os jovens, uma reforma no ensino poderia ser feita, se o Governo Federal pensasse melhor nos estudantes. “Sabem que somos o futuro da nação. Mas como querem que sejamos esse futuro, se não pensam na gente? Aumentando o número de gente que não vai poder trabalhar, vai aumentar a quantidade de gente que vai deixar a escola também”, defendeu a adolescente.
“Ocupa e resiste”
Em todo o Paraná, conforme os dados divulgados nesta segunda-feira (10) pelo Movimento Ocupa Paraná, 65 escolas estão ocupadas. O motivo é o mesmo de todos os outros estudantes: protestar contra a Medida Provisória do Governo Federal e a PEC 241. A MP propõe mudanças no ensino médio e a PEC 241 limita os gastos do governo federal.
São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), é a cidade que mais registrou colégios ocupados pelos estudantes. Até o momento, são 19 escolas. Na capital, seis colégios permanecem ocupados, entre eles o Colégio Estadual do Paraná (CEP), o maior do estado.
Reintegração de posse
Pedidos de reintegração de posse dos colégios ocupados em todo o Estado já foram pedidos desde sexta-feira (7). O governo espera a decisão, que deve sair nesta segunda-feira (10), para que as liminares sejam cumpridas. Os estudantes não estão dispostos a um diálogo para desocupar as escolas, uma vez que querem que a MP não seja aceita.
Ainda na sexta-feira, durante um evento em Guarapuava, o governador Beto Richa afirmou que os alunos não sabem o porquê estão protestando. O governador disse que os protestos são ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), à APP Sindicato e ao PT e que os sindicatos estão usando, de forma criminosa, as crianças e adolescentes.
Distorção dos fatos
Através do site, a APP Sindicato – que representa os professores –, divulgou nota em que afirma que Beto Richa tenta distorcer o movimento. Já a CUT-PR manifestou apoio às ocupações e afirmou que são pacíficas e que os estudantes dão exemplo de organização e perseverança no enfrentamento às medidas autoritárias propostas pelo governo Temer.
O Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores no Paraná (PT-PR), por sua vez, também manifestou apoio à iniciativa do movimento estudantil. A União Paranaense dos Estudantes Secundaristas afirmou, também em nota, que sempre lutou por uma reformulação do ensino médio, mas que “o governo ilegítimo apresentou uma proposta de reforma por meio de uma MP, em regime de urgência, sem um amplo debate com a comunidade escolar”.
A União afirma que a MP vai contra tudo o que defendem e que a reforma desconsidera a opinião de estudantes e educadores. A UPES repudia as declarações do governador Beto Richa, “que desqualificam a luta dos estudantes e busca deslegitimar as ocupações, desconhece que as ocupações são uma reação a forma com que a educação é tratada”, disse a nota, que finaliza ainda com a orientação para que os estudantes só desocupem as escolas quando a MP for barrada e o governo federal estabelecer espaços de amplo diálogo com a comunidade escolar.