Dados do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba revelam um fato muito positivo: de dezembro até agora, as mortes por covid-19 entre idosos sofreram uma queda drástica. Durante todo o mês de dezembro do ano passado, das 569 mortes provocadas pela doença, 147 foram de idosos de 80 anos ou mais.

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Em abril desse ano, as mortes totais aumentaram em relação a dezembro: foram ao todo 784 óbitos por covid-19 em Curitiba. Mas desse total, apenas 84 deles foram de idosos com 80 anos ou mais. Isso revela que a vacinação tem colaborado e muito para a diminuição dos óbitos e consequentemente para um menor número de internamentos nessa faixa etária. Porém, ainda há uma dúvida que paira no ar: se os idosos acima de 80 anos já estão imunizados com a primeira e segunda doses, por que ainda há mortes pela doença registradas nesta faixa etária?

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Para a médica infectologista da Secretaria Municipal da Saúde, Marion Burger, infelizmente, idosos vão continuar falecendo das doenças básicas e também das complicações que venham a ter. “Não vamos conseguir zerar óbitos com covid-19 nessa faixa etária. A covid-19 pode ser umas das causas que podem contribuir com as mortes”, revela a infectologista.

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Em Curitiba, 95% dos idosos até os 60 anos se vacinaram com as duas doses contra o novo coronavírus. Boa parte das doses aplicadas contra a covid-19 são da Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e fabricada pelo Instituto Butantan. Em abril, estudos clínicos realizados pelo próprio Butantan revelaram que vacina obteve eficácia que pode variar entre 83,7 e 100% para os chamados casos moderados, que exigem assistência médica, mas que não chegam a agravar a ponto de necessitar de UTI.

Na prática, vida real, a eficácia da vacina não chegou ao patamar alto revelado pelo estudo clínico. A médica infectologista revela: “nenhuma vacina protege 100% da doença. Nos estudos clínicos, a vacina da covid-19 mostrou uma grande proteção para casos graves e óbitos. Mas isso acontece em estudos clínicos, em que se testam a vacina em pessoas saudáveis, mais jovens. A gente precisa esperar pra saber como vai ser na vida real. Não tínhamos a esperança de que fosse 100% de eficácia na vida real, não só em Curitiba como no mundo todo”.

Os óbitos registrados em idosos, mesmo após a imunização completa, também tem acontecido com outras vacinas e em outros países, explica a infectologista. “A expectativa dos estudos clínicos, de 100% de segurança de óbito, não se confirma na vida real. Estamos vacinando pessoas com diversas doenças crônicas, e pessoas que em qualquer circunstância o vírus pode descompensar uma comorbidade”.

A médica explica que quem tem uma cardiopatia, por exemplo, caso adquira covid-19, mesmo de forma leve, pode sofrer uma descompensação, que a leve ao óbito pelas duas doenças. “São situações que a gente investiga a cada óbito”, revela a infectologista.

Antes de um óbito ser confirmado pele Centro de Epidemiologia e somado ao boletim, ele é investigado. “A gente analisa se o diagnóstico da covid-19 é recente. Se ele tem muito tempo que foi diagnosticado, não faz sentido registrar como óbito pela covid-19. Às vezes a investigação demora, mas assim que ele é confirmado, a gente contabiliza”.

Vacina, sim!!

Em mais de um ano de pandemia, aprendemos que evitar com que o vírus circule é a melhor forma de combate. Por isso, quanto mais pessoas imunes a doença, menor a chance que o coronavírus tem de continuar circulando. “A vacinação tem dado uma repercussão bem bacana, o número de óbitos entre os idosos diminuiu muito. A gente precisa continuar com todos os cuidados, como máscara, distanciamento social, evitar que esse vírus circule. E a vacinação é uma das formas de prevenção. Ela é um acordo social”, defende a infectologista.

Como as mortes entre os mais idosos vem diminuindo, a população clínica, internamentos, tem apresentado uma mudança de perfil. Hoje, adultos na faixa de 30 a 59 anos tem necessitado de internamento, também por causa da nova variante, que é mais transmissível. “Enquanto a população idosa foi vacinada, as pessoas perto dos 60 anos tem sido as mais comprometidas”.