Ultrapassar o limite de velocidade, estacionar em local proibido e trafegar pelas faixas de uso restrito aos ônibus. Esses são alguns dos itens que lideraram o ranking de multas em Curitiba durante o primeiro semestre de 2017. No entanto, o leque de infrações de trânsito registrado na cidade é ainda mais amplo.
O uso do celular ao volante tem lugar de destaque entre os motoristas curitibanos. Embora seja uma infração gravíssima com multa de R$ 293,47 e perda de sete pontos na carteira de habilitação, essa foi uma das principais violações ao Código de Trânsito Brasileiro registradas na capital de janeiro a junho de 2017. Os dados são da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran).
Somando as penalizações recebidas ao mandar mensagens, conversar e segurar o aparelho, foram emitidas 17.716 multas, o que equivale a 4,9% de todas as infrações.
Muita barbeiragem
“Vemos muita barbeiragem por aí! Inclusive, quase fui atropelada esses dias por uma motorista que estava falando no celular enquanto dirigia”, lamentou a pedestre Cícera dos Santos Nascimento, de 59 anos.
Moradora do bairro Campo Comprido, na capital, ela sempre caminha pelas ruas prestando atenção para não ser pega de surpresa por algum condutor desatento. “Eu vejo muita coisa errada, então sei que tenho que tomar cuidado. Naquele dia, eu estava aguardando para passar pela faixa de travessia elevada e percebi que o carro diminuiu a velocidade pra que eu fosse. Só que, quando coloquei os pés na rua, a motorista acelerou. Percebi que ela estava falando no celular”, recordou, indignada.
Outra situação frequente constatada pelas ruas é o uso indevido das faixas exclusivas. “Sei que não deveria fazer isso, mas já aconteceu de eu dirigir pelas vias onde está escrito ’ônibus’, principalmente nos casos em que eu precisava realizar alguma conversão próxima ou queria passar um veículo lento”, admitiu um motorista de 27 anos que preferiu não se identificar.
A ação do rapaz é uma infração gravíssima apresentada no inciso III do Artigo 184 do Código de Trânsito. Além disso, prejudica o tráfego dos coletivos que, com faixas e corredores específicos, tentam otimizar o tempo e beneficiar seus usuários. Em Curitiba foram registradas 22.024 notificações relacionadas a essa penalidade.
Para o taxista João Neto, que trafega pelas ruas da capital há 20 anos, dirigir pela cidade tem sido uma aventura. “Sempre encontro alguém andando pela contramão, furando o sinal vermelho e ultrapassando o limite de velocidade, principalmente nos finais de semana, quando muitos condutores bêbados saem por aí”, lamentou.
Inclusive, ele conta que já foi vítima de um acidente ocasionado pela mistura entre álcool e volante. “Eu estava parado em um ponto no bairro Caiuá, quando um carro desgovernado e em alta velocidade atingiu meu táxi com força. O motorista estava completamente bêbado e se machucou. Com certeza, ele colocou muitas pessoas em risco correndo daquele jeito”.
O que conforta João é saber que andar “apressadinho” por aí, seja pela irresponsabilidade de dirigir alcoolizado ou pela tentativa de “tirar o atraso no pé”, não sai barato. Afinal, os casos que não terminam em acidente acabam com infrações diversas que são registradas pelos radares espalhados pela cidade. Segundo a Setran, apenas no primeiro semestre de 2017 foram fotografados 145.905 “flagras” pelas ruas de Curitiba, totalizando 40,5% das notificações com multas leves, médias, graves e gravíssimas.
Estacionamento proibido
Outro campeão na geração de notificações é o “estacionamento proibido” em calçadas, guias rebaixadas, esquinas, canteiros centrais e, principalmente, nas vagas de idosos. Apenas na capital, essas penalidades ficaram com a posição de vice-campeã com 128.641 multas, ou 35,7% do total.
“O que a gente mais vê é carro estacionado na faixa amarela com placas de proibição. Já vi até veículo estacionar em cima da faixa de pedestres, obrigando os transeuntes a darem a volta pra atravessar a rua. É uma falta de respeito sem tamanho”, comentou a vendedora Fátima Guimarães Santos, 45.
Para ela, essa e outras violações no Código de Trânsito serão cada vez mais frequentes enquanto o respeito não for aprendido em casa. “Não adianta apenas termos leis rígidas e multas cada vez mais caras. O que precisamos é que os pais deem o exemplo para seus filhos. Meu marido trabalha como motorista e nós sempre orientamos nossos quatro meninos a respeitarem as leis. Afinal, se isso não for aprendido dentro de casa, o mundo vai ensinar da pior forma. E nem sempre a vítima de um acidente de trânsito tem essa segunda chance”, pontuou.