Contaminação

Rodovias brasileiras podem ser rotas de contágio do coronavírus, aponta UFPR

A rota entre Curitiba e Porto Alegre (RS), pela BR-376, é um dos trechos. Foto: Arquivo/André Rodrigues/Gazeta do Povo.

Análises realizadas pelo Observatório do Litoral Paranaense da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vêm comprovando, diariamente, que determinados trechos de rodovias brasileiras podem ser rotas de disseminação do coronavírus (covid-19). Os principais focos de contaminação, segundo a pesquisa, estão concentrados principalmente na região sul. A rota entre Curitiba e Porto Alegre (RS) é um dos trechos. Os resultados são alcançados ao se inserir os dados divulgados pelo Ministério da Saúde sobre a contaminação pelo novo vírus em ferramentas que geram cartografia e informações geográficas. A investigação indica que quase 95% dos casos confirmados de covid-19 estão concentrados nesses pontos rodoviários. Segundo boletim mais recente, desta quinta-feira (05), Curitiba já registrou 1.212 pessoas infectados e 54 óbitos.

De acordo com os pesquisadores, a contaminação tem ocorrido de forma concentrada principalmente nas regiões metropolitanas do país e arredores, ao longo do sistema rodoviário em alguns municípios situados em cruzamentos. É o que explica Ricardo Monteiro, professor do Setor Litoral e doutor em Ciências: “se analisarmos esses trechos, verificamos que quase 95% dos casos estão situados em torno de 22% dos municípios brasileiros, cidades que englobam aproximadamente 53% da população total do Brasil. Isso indica uma concentração e um padrão de distribuição que acompanham alguns trechos rodoviarios. Esse é um indício muito forte de que esses segmentos podem ser fortes vetores de contaminação”.

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Na região sul, os casos da doença estão centralizados, principalmente, ao longo da BR-386, entre Carazinho e Porto Alegre, e entre Porto Alegre e Curitiba, ao longo da Freeway e da BR-101. Outro fenômeno que está sendo estudado pelos pesquisadores é a concentração da doença na região oeste de Santa Catarina, nas proximidades dos municípios de Chapecó e Xanxerê, onde ocorre atividade frigorífica. “Estamos acompanhando milhares de casos de contaminação relacionados a essa atividade. Nós sabemos que o transporte de aves, suínos e bovinos acontece pelas rodovias. Será que existe alguma lógica relacionada a isso? Ainda não sabemos ao certo, é necessária uma análise minuciosa, mas há fortes indícios de que sim”, revela Monteiro.

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Essa correlação também existe nas regiões sudeste e nordeste e, em menor escala, na centro-oeste que, segundo o especialista, tem um aspecto demográfico diferente em relação às outras três. “A região norte é diferente devido à navegação ao longo do Rio Amazonas, ou seja, não tem essa característica tão acentuada de modal rodoviário”. Para o professor, apesar de ainda ser necessário continuar estudando o tema, está claro que a contaminação pelo coronavírus não acompanha a lógica demográfica da população nos municípios. “Várias cidades populosas e arredores não apresentam grandes incidências de casos; o fenômeno é localizado em alguns trechos, o que nos deixa intrigados”.

Medidas de prevenção

A partir dessa análise, é possível adotar medidas de controle e prevenção como ações educativas, monitoramento de temperatura de motoristas e passageiros em pontos estratégicos, distribuição de máscaras e álcool em gel e até limpeza de veículos. “Os veículos poderiam passar por sanitizantes que façam a limpeza dos pneus, por exemplo”, sugere Monteiro acreditando que esses cuidados poderiam reduzir a disseminação do vírus ao longo do sistema rodoviário e nos acessos a regiões metropolitanas.

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“Como os mapas revelam, são poucos trechos em todo o Brasil. Se for feito um trabalho nesses locais estratégicos, é possível reduzir o contágio”, afirma o professor. Segundo ele, outra atitude que poderia ser tomada pelas autoridades é o investimento em pesquisas, para que seja possível descobrir mais elementos que fortaleçam essa hipótese.

Método

O estudo, feito a partir de dados divulgados pelo Ministério da Saúde, utiliza três tipos de análise: análise estatística, análise de mapas – elaborada com aplicativos de cartografia – e análise de geoprocessamento – realizada em um aplicativo de sistema de informações geográficas. De acordo com Monteiro, são utilizados apenas softwares livres. “Temos o compromisso de capacitar as pessoas a fazerem as observações geográficas por conta própria. Divulgamos tutoriais em nosso canal do YouTube ensinando como realizar análises e usar esses dados”.

Análise dos casos por município no Brasil

Representar espacialmente qualquer informação relacionada a um fenômeno tão complexo, como a contaminação pelo coronavírus, é extremamente importante para o especialista. “Essa representação espacial, por meio de mapas, pode nos ajudar a compreender a situação e não apenas em relação à distribuição no espaço e à vinculação com rodovias. Também é possível estabelecer relações climáticas, pluviométricas, de estiagem; podemos incluir dados sociais  e econômicos. São vários aspectos que podem auxiliar na compreensão desse fenômeno no espaço geográfico”.

Observatório do Litoral Paranaense

O Observatório do Litoral Paranaense é um projeto de extensão, vinculado ao Setor Litoral da UFPR, que tem como princípios norteadores compreender a realidade, difundir a geoinformação e capacitar os cidadãos para serviços de georreferenciamento, por meio de aplicativos livres, e para a elaboração de cartografia e de diagnósticos territoriais.


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