A pandemia de coronavírus fez o movimento na rodoviária de Curitiba, talvez um dos lugares mais agitados da cidade, despensar 84%. No local, que normalmente tem grande circulação de pessoas e um som ambiente característico de burburinhos de conversa, agora só se ouve o eco da própria voz e dos alto-falantes do sistema de som mandando recados para praticamente ninguém. O barulho de motores de ônibus também é quase nenhum, já que poucos ainda estão circulando.

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Nem mesmo as medidas sanitárias de proteção implementadas pela administração do espaço e a reabertura de viagens interestaduais para Santa Catarina, autorizadas semana passada, foram suficientes para aumentar o movimento.

Em números, a média semanal de passageiros que passavam pelo terminal girava em torno de 60 mil pessoas. Nos últimos 30 dias, entre julho e agosto, a quantidade caiu para 9,5 mil.

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O reflexo negativo vai direto para as lanchonetes, comércio de conveniência, taxistas e empresas de prestação de serviço que atuam ali. Por outro lado, é sinal de que as pessoas estão se cuidando por causa do risco de contágio da doença.

Segundo o administrador da rodoviária, Elcio dos Anjos, se fosse em outra época o terminal estaria lotado, como de costume. A reportagem conversou com ele na tarde de segunda-feira (10), por volta das 16h. “Com certeza, os corredores do embarque apresentariam um vai e vem intenso se não fosse a pandemia. Para se ter uma ideia da queda, nem a totalidade das catracas de acesso está ativa. São poucas operando dentro do planejamento para o distanciamento social, que já nem é mais um fator preocupante de tão pouca gente”, afirma dos Anjos. “É só você olhar os bancos adesivados para o distanciamento. Estão vazios”, completou.

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O administrador se mostra apreensivo com o impacto no comércio e prestação de serviços. “Além do baixo movimento, conversando com os donos das lojas e lanchonetes, o público também está se segurando para não gastar. Quem passaria por aqui e faria um lanche ou compraria alguma coisa de conveniência já não está mais fazendo isso”, disse.

Lanchonete vazia na rodoviária de Curitiba: efeito pandemia. Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

A funcionária de uma loja de revistas e equipamentos eletrônicos diz que as vendas caíram cerca de 75%. Ela não fez um balanço geral, mas mencionou o preenchimento da planilha do caixa, impressa em uma folha tamanho A4. “Estaria quase toda preenchida neste horário, mas não está. Os dias estão complicados”, lamenta. Ela preferiu não se identificar.

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Já Francine Camargo, 38 anos, funcionária da empresa de guarda-volumes, explica que apenas 10% dos armários estão operando. Os outros 90% só são abertos para manter a limpeza. “Por causa da pandemia, as pessoas que estão viajando estão retendo dinheiro, não estão gastando. Por que a gente não sabe o dia de amanhã. Mas a gente espera que vai passar e vai melhorar. Enxergamos uma luz no fim do túnel”, confia.

Ainda de acordo com ela, com a pandemia, a empresa passou a disponibilizar o serviço de guarda-volumes automático, em que o próprio passageiros efetua todo o processo para usar. “Foi pensando na pandemia, para evitar contato com outras pessoas e proteger passageiro e funcionários”, destaca Francine.

Com a pandemia, foi instalado autoatendimento nos armários da rodoviária para evitar contágio de covid-19; Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

A administração da rodoferroviária também tomou suas medidas. Além do serviço de catracas intercalado e bancos adesivados, também há medição de temperatura realizada pelas empresas de ônibus e disponibilização de totens de álcool em gel em várias partes do terminal.

Cadê todo mundo?

A rodoviária está tão vazia, que até para encontrar alguém para ser entrevistado nesta matéria não foi tarefa fácil. Luzia Aparecida Prado, 53 anos, era uma das raras passageiras no local na tarde de segunda-feira. Ela segue embarcando diariamente para Matinhos, no Litoral. E, apesar dos riscos do coronavírus, diz se sentir segura nas viagens. “Estou nesse trajeto há seis meses, por motivos profissionais. Eu acho que está funcionando. Eles medem a temperatura, dão álcool gel, os ônibus são esterilizados, tudo certinho”, relata.

Mas sobre a queda brusca no movimento, Luzia diz que até tem sua vantagem: dá pra embarcar com mais calma para a viagem sem aquela multidão em volta. “Movimento está menor, os ônibus estão reduzidos. Não sinto falta do movimento, está melhor assim”.

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Pandemia espantou passageiros da rodoviária de Curitiba. Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

Já o taxista Dante Luís Brittes, 56 anos, não vê vantagem nenhuma na rodoviária vazia. “Está de ruim a pior. Implicância por causa de máscara, muito aplicativo e você tem pouca corrida. Aqui, não passa de R$ 100 por dia, raspando o tacho”, reclamou.

Contudo, a administração da rodoviária ainda espera uma recuperação gradual no movimento. “Neste mês, ainda pode haver um crescimento por causa da liberação das viagens em Santa Catarina. É um destino comum para os passageiros. Mas o que esperamos é que tudo isso passe e tudo volte a ficar bem. Tomamos todos os cuidados para isso e o baixo movimento também é sinal de que as pessoas estão se cuidando”, avalia Elcio dos Anjos.


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