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Rodízio da Sanepar: quanto precisa chover pra encerrar a falta de água em Curitiba?

Chuva em Curitiba. Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

Na semana que passou, dois dias de chuvas torrenciais encharcaram o solo e elevaram o nível dos rios e reservatórios na região de Curitiba. Seria um indicativo de que a crise hídrica pode estar ficando para trás?

Com tanta água caindo em curto espaço de tempo – foram cerca de 50 mm entre quinta (8) e sexta-feira (9) -, como entender que a Sanepar mantenha inalterado o sistema de rodízio no abastecimento, deixando as torneiras secas a cada 36 horas?

“Uma frase bastante usada no Nordeste é que a primeira coisa que a chuva apaga é a lembrança da seca”, diz o diretor de Meio Ambiente da Sanepar, Julio Gonchorosky. Ele sublinha que a crise hídrica que a capital e região metropolitana atravessam não é algo que será resolvido em questão de dias ou poucas semanas.

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“Essa chuva aumentou em 15 dias o abastecimento e afasta momentaneamente a necessidade de rodízio mais duro, de 48h (sem água) por 24h (com água). Até novembro não se discute mais esse assunto”, assegura. De quinta para sexta-feira passada, o nível médio dos reservatórios de Curitiba se elevou de 28% para 29,37% da capacidade total.

Se por ora medidas mais drásticas de racionamento estão descartadas, o retorno à normalidade é algo que só poderá acontecer em médio prazo. “Todos os meses, daqui para frente, precisamos que chova mais de 120 mm. Se isso acontecer, a gente chega em março com mais de 60% do volume dos nossos reservatórios, o que seria um nível confortável. Essa é a nossa meta para chegarmos mais tranquilos aos períodos mais secos que virão, no outono e inverno”, calcula Gonchorosky.

A última chuva persistiu ao longo de três dias e teve a virtude de encharcar o solo, permitindo um escoamento mais lento da água. Diferente das pancadas do mês de setembro, concentradas em um dia e meio. “Se tiver muita água, aquela onda do rio passa rápido. Mas se vier devagar, aumenta o volume do rio e você tem água por mais tempo, além do que é retido pelo solo. Outra coisa muito boa foi que no alto da Serra do Mar chegou a chover quase 90 mm. A chuva na serra, com floresta e tudo mais, retém a água e garante mais abastecimento lá em Piraquara”, destaca o diretor da companhia de saneamento.

Novo duto

Para não ficar totalmente dependente da sorte de um verão chuvoso para pôr fim ao racionamento, a Sanepar está acelerando obras de transposição de rios para aumentar o volume de água despejado nos reservatórios.

Terça-feira (13), um duto de 2,7km de extensão deve começar a jogar água do rio Miringuava-Mirim para o rio Miringuava, que abastece boa parte da região Sul de Curitiba. Serão até 200 litros por segundo, o suficiente para atender o consumo de 60 mil pessoas.

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Desde julho, outra tubulação de 1,9km já transpõe 130 litros de água por segundo do rio Pequeno para o rio Miringuava. Na região oeste da cidade, um duto mais longo, de 4km, será construído nos próximos três meses para levar água do rio Verde, em Campo Largo, para o reservatório do Passaúna. Neste caso, a Sanepar vai emprestar uma vazão de 200 litros por segundo dos dutos da Petrobras que abastecem a refinaria Getúlio Vargas, em Araucária. “A Petrobras entendeu o tamanho da crise e abriu mão dessa água para apoiar Curitiba”, agradece Gonchorosky.

Emergencialmente, a Sanepar foi buscar também água de cavas e pedreiras para jogar no sistema, mas as transposições são vistas como a forma mais consistente de tentar recuperar o nível dos reservatórios. “Às vezes nos perguntam: por que não abrem mais poços? Uma coisa é um poço para atender condomínio, muito diferente do que para atender 10 mil pessoas. Além disso, o lençol freático está baixando muito, muitos condomínios estão ficando sem água por que os poços estão secando”, ressalva Gonchorosky.

O alerta é de que os próximos dois meses devem ser de travessia difícil para o abastecimento de água em Curitiba e região. O meteorologista Marco Jusevicius, do Simepar, diz que a cidade está no “cheque especial” em relação às precipitações pluviométricas.

“A gente não percebe, mas estamos muito abaixo da média, uma semana de chuva não resolve um problema de 15 meses. O fenômeno La Niña, que não favorece chuva acima da média, foi considerado ativo desde o mês passado. E a perspectiva é que persista durante toda a primavera e início do verão”, observa.

A esperança está em 2021. “Existe um sinal de que após o início do verão poderia haver uma reversão desse cenário. Mas não é nenhuma previsão assegurada. Existe um sinal, apenas. Se no próximo mês o modelo não continuar mostrando isso, já mudou o sinal. A previsão climática depende muito de persistência. Se persistir o sinal, a gente começa a ter mais confiança no resultado”, diz .

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Além do uso racional e consumo consciente, resta torcer para que as próximas águas de março não repitam o fiasco do último ciclo. Em março de 2020, choveu em Curitiba 12 mm, contra uma média histórica de 127 mm. O recorde negativo, anterior, era de 44 mm, em março de 2017. Em todo o Paraná, a defasagem acumulada, de um ano para cá, é de pelo menos 1/3 em relação à média histórica de chuvas.

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