Há 75 anos em Santa Felicidade

Restaurante tradicional de Curitiba, Cascatinha é local de histórias e delícias italianas

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A cada olhar uma história, um “túnel do tempo da imaginação”, com recordações de momentos especiais em família e amigos. O tradicional Restaurante Cascatinha, em Curitiba, é um dos mais antigos em funcionamento na região de Santa Felicidade, ao lado do Iguaçu. Aberto em 1949 pela família Trevisan, o rico cardápio típico italiano com risoto, polenta, frango e o caldo de arroz possuí grande relação com o desenvolvimento e de afeto com a sociedade curitibana.  

Vindo da 2ª Guerra Mundial quando foi combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Ogênio Trevisan ao lado do irmão Pedro, comprou em 1946 um terreno com moinho de milho e trigo, na antiga estrada do Cerne, importante acesso para o interior do Paraná ou mesmo para o centro da cidade.

Três anos depois, com o “soldo” que guardaram dos tempos de militar e junto com as respectivas esposas Fior de Lice e Palmira, os irmãos abriram um bar e sorveteria onde serviam sonhos, pastéis, empadas e sorvetes, além de pratos feitos à base de risoto e frango a passarinho, para os caminhoneiros que seguiam em direção à Paranaguá levando café e madeira. Aos domingos, famílias aproveitavam o bosque e a cascata para os piqueniques, e de noite era servida comida italiana. Aliás, foi a cascata deu origem ao nome do comércio.

Altevir Trevisan. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

“Era o ponto de encontro na época para passeios no bosque, famílias se dirigiam aos domingos para aproveitar da comida e dos banhos de rio. Grande parte dos alimentos e criação de frangos eram cultivados aqui, plantávamos as verduras e fazíamos o extrato de tomate, tínhamos os parreirais e produzíamos o vinho. Hoje tudo ficou mais fácil e prático, a história do restaurante é sinônimo de trabalho”, diz Altevir Trevisan, atual proprietário, que é filho de Ogênio e nasceu nas dependências do restaurante em 1953, na atual casa localizada na frente do Cascatinha.]

Época de ouro

Com a criação da Rodovia do Café nos anos 60, o movimento de caminhões passando na entrada do restaurante reduziu. A partir disso, começou um movimento muito forte de turistas viajando de carro ou ônibus, e com o novo asfalto da Avenida Manoel Ribas, curitibanos também passaram a frequentar o bairro. É a famosa “época de ouro do Cascatinha” nas décadas de 1970 e 1980, o primeiro restaurante de Curitiba panorâmico.

“Digo que muitas decisões políticas foram feitas nas nossas mesas. Sempre com muito respeito e humildade no trato com todos. Há 30 anos ou 40 anos, paravam muitos ônibus no estacionamento. As pessoas ficavam mais de uma hora na fila aos domingos. Temos quatro gerações vindo do Cascatinha, somos tradicionais e pouco alteramos no cardápio.” reforçou Altevir.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

O caldo com gosto de infância

A identidade do Cascatinha está em vários lugares do restaurante, seja na entrada com as pinturas da parede, nas luminárias e ventiladores antigos, nos garçons com mais de 30 anos de casa (veja abaixo a história de dois deles), ou mesmo no tradicional caldo de arroz (brodo) servido como entrada aos clientes dentro de uma sopeira e dali, para um prato fundo. É puro gosto de infância.

“O italiano chama de brodo, feita de arroz branco com caldo de galinha, moela fatiada do frango, sal, queijo parmesão e extrato de tomate. O segredo é a pequena quantidade e minha mãe foi a criadora do prato. Esse é o carro chefe e não tem contraindicação para qualquer idade”, comenta Altevir, que chega a comprar uma tonelada por mês de frango para o Cascatinha.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Além do caldo, no rico cardápio tem escarola com bacon, tomate com cebola, lasanha de queijo (a mais consumida), espaguete ao molho vermelho, espaguete alho e óleo, risoto de frango, polenta frita, asinha de frango com alho, frango prensado, frango à passarinho, fígado de frango e moela de frango.

Um dos principais fãs da sopa e de todo o ambiente do Cascatinha é o radialista Mário Neto. A primeira experiência dele no restaurante foi ainda na infância, quando chegou do interior para morar em Curitiba.

“Sou frequentador do Cascatinha desde os 10 anos de idade, vindo de União da Vitória. Meu pai nos levava sempre lá. Tenho um vínculo muito grande com esse restaurante e sou amigo de todos que trabalham lá, Altevir, Arnaldo, Renato Costa, Dirceu, Jorjão, Ferro, Cavali, Dionísio, enfim, de todos, gosto muito do Cascatinha e levo minha família e amigos até hoje lá. O caldo de frango com arroz é o diferencial do restaurante Cascatinha, é servido na entrada antes do rodízio italiano, muito bom”, afirma o radialista.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Marcelo Ortiz, narrador esportivo, também faz parte do hall dos clientes do Cascatinha, e não perde a oportunidade de conferir a famosa sopa. “É um ponto de encontro da família e dos amigos, onde se sente bem, verdadeiramente em casa pelo atendimento. Além da canja ser a melhor de Curitiba, a melhor do Brasil, sem dúvida”, destaca Ortiz.  

Acidente na cascata e lugar predileto dos clientes

Há 33 anos, um menino chegou a cair no rio que passa na cascata. Ali, são dois rios – o Cascatinha e o Uvu, que deságuam na margem direita do Rio Barigui, e que ajudam a formar a lagoa do Parque Barigui.  Na ocasião do acidente, Altevir pulou para salvar a criança que foi dar pão aos peixes.

“Estava de smoking, tirei e pulei. Ele machucou um pouquinho nas pernas, mas nada grave. Ele pulou a cerca, e depois daquele dia, mudei o lugar das carpas. O rio está 80% limpo e com vida aquática”, valoriza Altevir.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

O lugar preferido da clientela é ao lado das janelas basculantes que ficam no lado direito proporcionando uma bela visão da cascata. São 30 mesas no canto preferido do total de 120 dos salões. “É sempre uma disputa para ficar perto das janelas e no domingo tem fila para estar em uma. A gente agradece ao curitibano que vêm ao Cascatinha. É por ele que estamos abertos até hoje, nos últimos 50 anos. Fora a colônia sírio-libanesa que esteve junto em todos os períodos”, completa Altevir.

Craques da bandeja

Garçom Renato Costa. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Os garçons são do “modo antigo”, ou seja, estão sempre elegantes e prontos a servir. Dois craques da bandeja são o Renato Costa e o Dirceu Boscardim. Costa completou 48 anos de trabalho no Cascatinha e Boscardin vai chegar a 51 no próximo mês. “Entrei com 15 anos, passei mais tempo aqui do que em casa. Tenho uma grande amizade com os colegas e a família Trevisan. Conquistei tudo que tenho pelo trabalho no restaurante”, ressalta Costa.

Já Boscardin, questionado pelo longo tempo no serviço, brinca que o patrão não quer vê-lo longe. “Eu moro naquela casa amarela que fica praticamente no mesmo terreno do restaurante. Aqui é minha vida, passei tudo aqui dentro. Não abandamos o barco e o patrão não manda embora”, ironiza o “papa da bandeja”.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Serviço

Restaurante Cascatinha
Endereço: Avenida Manoel Ribas, 4455 – Santa Felicidade, Curitiba
Funcionamento:
Segunda-feira: das 11h30 às 14h30 e das 19h às 22h30
Terças: fechado
Quarta à sábado: 11h30 às 14h30 / 19h até 22h30
Domingo: 11h30 às 15h00

Telefone para reserva:(41)3335 – 1214
Valor: R$ 66 por pessoa.

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