Um medicamento que deveria ser fornecido pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) poderia ter salvo a vida de Davi Lucas Alves, o bebê de 47 dias que morreu na manhã da última sexta-feira, após sete horas de espera por um leito em uma UTI neonatal.
O atestado de óbito de Davi dá como causa da morte uma bronquiolite viral aguda, junto com insuficiência respiratória. Já que o bebê nasceu prematuro, de 32 semanas, a mãe da criança, Kelli Jucoski Alves, disse que o medicamento palivizumabe poderia ter evitado que o bebê pegasse a virose e morresse. O medicamento é um imunobiológico que previne viroses em bebês tão pequenos. “Dei entrada na papelada na secretaria no começo do mês. Terça-feira liguei para saber, mas o remédio ainda não estava disponível”, disse Kelli.
A mãe explica que, como teve câncer nos ossos e precisou fazer um enxerto no quadril, sentia muitas dores no final da gestação e por isto precisou fazer o parto prematuramente. Depois dos 16 dias que Davi ficou no Hospital Nossa Senhora de Fátima, saiu bem de saúde da maternidade e contraiu a virose nesta semana.
A Sesa, explica que, em 2012, o Ministério da Saúde incluiu no Sistema Único de Saúde (SUS) o fornecimento do palivizumabe. No entanto, como é uma medicação muito cara, o protocolo recomenda que apenas bebês prematuros, nascidos com até 28 semanas de gestação, portadores de cardiopatias graves ou de doenças relacionadas à prematuridade é que recebam o medicamento, que pode ser dado em até cinco doses. Mas, para isso, a família tem que dar entrada no pedido junto à Sesa e anexar documentos médicos que comprovem os requisitos. Outros casos de bebês prematuros, fora destas recomendações, também são analisados e podem ganhar a medicação.
Segundo a Sesa, Kelli deu entrada no pedido do palivizumabe às 15h do dia 9 de maio. Apesar de Davi estar além do recomendado no protocolo – nasceu com 32 semanas – o pedido foi analisado na última quinta-feira por um médico auditor, que disse que faltavam informações para comprovar a necessidade do medicamento.
Apesar de o remédio fornecido diretamente pelo Ministério da Saúde, a Sesa diz que não recebe e medicação desde fevereiro. Para que os bebês não fiquem sem ele, a secretaria diz que tem feito compras para atender casos emergenciais, até que o ministério regularize o fornecimento. Desde março, a Sesa diz que já fez três pedidos do palivizumabe ao ministério.
Agonia
Kelli acredita que as sete horas que passou com o filho agonizando não têm perdão e promete processar as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, não só pela demora por um leito de UTI neonatal, como também pela burocracia e demora no fornecimento da medicação. O drama da família durou da 1h45 da manhã de sexta-feira, quando o Samu foi acionado, até as 8h, quando Davi não resistiu a uma terceira parada cardiorrespiratória e faleceu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista.
Emergências estão lotadas
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No Pequeno Príncipe, espera normalmente passa de duas horas. |
Além da falta de UTI infantil, quem procura atendimento de emergência também encontra dificuldade. No hospital Pequeno Príncipe, os pediatras estão sobrecarregados e o tempo de espera pode passar de duas horas. A demanda é muito maior que a capacidade de atendimento. O hospital afirma que a falta de profissionais nas unidades de saúde dos bairros contribui para o aumento das filas.
De acordo com a assessoria do Pequeno Príncipe, nos dias de maior movimento, a ala de ate,ndimento via convênios chegam a realizar 700 atendimentos. A falta de pediatras nas unidades de saúde e o fechamento das alas pediátricas em outros hospitais contribuem para o aumento nas filas. Na chegada, há uma triagem e casos especiais são atendidos com prioridade. Muitos pais procuram atendimento para casos que não necessitaria de consulta, apenas de orientação, mas por falta de um profissional para orientá-los, acabam nas filas de espera.
Uma das mães que aguardavam atendimento elogiou os profissionais, mas criticou a espera. “Minha filha foi atendida depois de várias horas, agora temos que esperar para fazer os exames e mais quatro ou cinco horas para saber o resultado. Eles são atenciosos, mas é muito tempo. Cheguei aqui por volta das 13h e não sei que horas vou embora”. Nesta sexta-feira, o tempo médio de atendimento na ala planos de saúde era de 2h50 enquanto no sistema único de saúde, de 3h30 a 4h.
Saturado
De acordo com o hospital, no mês de abril foram realizados 4.577 atendimentos, sendo que 4.200 procuraram o hospital diretamente – 3.003 pessoas de Curitiba, 1.197 da Região Metropolitana. A assessoria explicou que pacientes encaminhados pelas unidades básicas de saúde têm prioridade e que esses deveriam ser os únicos atendimentos realizados. Mas para não deixar os pacientes à deriva, quem procura diretamente vai para o final da fila.
A tendência é o crescimento das filas na parte da noite, que é o horário após as aulas das crianças. E com a chegada do inverno, as doenças em decorrência do frio podem aumentar ainda mais o tempo de espera.