A reforma do Teatro Paiol tem gerado uma série de críticas nas redes sociais nesta quinta-feira (15). Isto porque o projeto de reforma descaracterizou totalmente a fachada da estrutura, que foi construída em 1874 para abrigar pólvoras e que quase cem anos depois foi reciclado pelo arquiteto Abrão Assad em 1971.
+Repercussão! “Não se pode dizer que está errado”, defende arquiteto de obra do Paiol
Em comunicado oficial, o arquiteto Abrão Assad comentou a reforma e se disse “surpreso, indignado e desolado” com o resultado do restauro. Confira a nota do arquiteto na íntegra:
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Prezados!
Sou autor do projeto de reciclagem do Teatro Paiol (1971), contratado pelo IPPUC – primeira obra realizada na primeira gestão do prefeito Jaime Lerner.
Semana passada, professores e alunos da UTFPR me convidaram para participar de uma Live; assunto: “Restauro” do Teatro Paiol – Estudo de Caso.
Soube então que o teatro passada por uma reforma.
Surpreso com a notícia e perplexo por não ter sido previamente chamado, consultado ou sequer informado pelos órgãos da prefeitura responsáveis pela preservação do nosso acervo, fui imediatamente verificar in loco a ocorrência.
Muito mais surpreso, indignado e desolado fiquei ao constatar o andamento de um desconcertante trabalho de reforma totalmente equivocado! – uma desastrosa, grotesca e irresponsável descaracterização da obra original.
Para entender o ocorrido, solicitei uma reunião com os órgãos responsáveis, que igualmente consternados admitiram a gravidade deste sinistro acontecimento.
Diante de tal embaraço, de forma proativa, propus uma solução remediável para o problema – uma espécie de “cirurgia reparadora” de emergência – ressignificando na essência a fisionomia original da edificação.
O Paiol desde sua origem passou por diversas adversidades, todas elas superadas. Infelizmente, quis o destino submetê-lo a mais uma.
Grave é o problema, porém mais grave será se nada for feito.
Salve o Paiol.
Curitiba, dezembro de 2022.
Abrão Assad Arquiteto
No Instagram, o deputado estadual do PDT Goura Nataraj criticou a reforma do local. “Este é o modelo Greca de urbanismo: feito sem consultar especialistas e a população, sem concurso de projetos, de cima pra baixo, que gera resultados lamentáveis como esse no Teatro Paiol”.
O deputado lembrou que esta não é a primeira polêmica da gestão de Greca com relação a preservação de patrimônio. Em 2017, a Casa Erbo Stenzel foi demolida de forma apressada após um incêndio. Também houve situações envolvendo o Centro de Criatividade no São Lourenço, reciclagem de uma antiga fábrica de cola, projeto dos anos 70 do projeto Roberto Gandolfi – que foi modificado para se tornar o Memorial Paranista.
Greca defende o “rebocado” feito no Paiol
Pelo Facebook, o prefeito Rafael Greca defendeu a reforma feita no Teatro Paiol. “Nosso Paiol precisa ser rebocado para proteção dos tijolos antigos que são anteriores a 1874. Se fosse descascado o velho Paiol poderia arruinar-se”, defendeu.
Fundação Cultural de Curitiba se manifesta sobre a reforma
Confira a nota da Prefeitura de Curitiba na íntegra:
A obra de recuperação do Teatro do Paiol, urgente pela ruína do telhado e por conta de outros problemas na estrutura da construção de 1906, não está concluída.
A reforma foi precedida de estudos técnicos e a cor amarela trabalhada conforme prospecção realizada por arquitetos especializados em patrimônio histórico. O projeto elaborado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) foi aprovado pela Comissão do Patrimônio Histórico e Cultural (CAPC) e submetido ao programa Cultura: Preservação, Promoção e Acesso do Governo Federal.
A pintura não foi realizada com tinta. A técnica usada é a pintura a base de cal, para a proteção da alvenaria e que com a ação do tempo gradualmente devolverá o caráter rústico da fachada da edificação (efeito “desgaste” de cor e reboco). Vale lembrar que o tom da tinta também varia conforme a umidade da parede.
A etapa da pintura ainda não foi concluída e o arquiteto Abrão Assad, responsável pelo projeto de transformação do espaço em teatro, em 1972, está colaborando com a comissão responsável para se chegar ao efeito de cor de aspecto antigo que costuma caracterizar o imóvel.
As obras no Teatro do Paiol acontecem para aumentar a durabilidade e melhorar as condições de uso do imóvel que estava com processo de degradação das paredes, graves infiltrações, com risco inclusive de colapso de toda a estrutura.
A obra da Prefeitura de Curitiba garante o uso do Teatro do Paiol, com segurança, por pelo menos mais 50 anos.