Ensino na pandemia

Recado em lição de casa comove professora e viraliza; “ninguém quis fazer comigo”

Foto: arquivo pessoal.

Um pequeno recadinho de uma aluna de 10 anos para sua professora viralizou nas redes sociais nesta última semana, com mais de 11 mil compartilhamentos. Rosiani Machado, de 50 anos, foi surpreendida em meio as correções das atividades durante a madrugada quando se deparou com a seguintes palavras no canto de uma página: “desculpa profe não ter feito essa lição, ninguém quis fazer comigo”. A mensagem comoveu tanto que fez a professora chorar. “Eu fotografei com a intenção de remoer, refletir depois. Mas acabei abrindo o Facebook e postei”, revela a pedagoga.

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Por causa da pandemia, Rosiani, que é professora de educação física na Escola Municipal Professor Floresvaldo Meres de Creddo, em São José dos Pinhais, tem preparado atividades para seus alunos fazerem em casa. A educadora dá aulas para alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com idades que variam dos 6 aos 12 anos de idade. “A gente vai fazendo as atividades, enviando para a escola. A pedagogas vão imprimindo e os pais buscam na escola. As crianças têm uma semana para fazer. Eu corrijo e devolvo”, conta Rosiani.

A atividade com o recado da aluna de 10 anos que viralizou era de uma brincadeira de Jogo da Velha, pensada para que pais e alunos pudessem interagir em casa nesse período de pandemia. “As crianças precisam de apoio, nem a gente sabe muito o que fazer nesse momento, nem a família sabe, porque precisam trabalhar, trazer o sustento pra casa. O que eu poderia fazer era entregar o recado com carinho. Eu prometi fazer a atividade com ela e vou cumprir, só não sei quando”, reforçou. A tarefa ainda será entregue para a aluna com a correção.

Situações que marcaram

Rosiani trabalhava com moda e depois que cursou Letras, descobriu um grande amor pelo ensino. Logo no começo da sua carreira como professora, uma pequena aluna do 2º ano marcou sua profissão. “Eu estava escrevendo no quadro, quando uma aluna me puxou e pediu para eu abaixar. Ela foi falar no meu ouvido, talvez ela já estava com vontade de falar há muito tempo, e disse: ‘profe, você sabia que eu já passei seis meses numa casa que ninguém da minha família podia me ver? O namorado da minha mãe fez aquilo comigo, que os adultos fazem’. Eu parei a minha aula na hora”, relembra a professora, que ficou muito sensibilizada com a história da criança. 

Além dessa situação comovente, Rosiani também recordou de uma vez em que uma criança não tinha condições de aprender a escrever porque não tinha material escolar suficiente. “Eu estava com alunos de alfabetização quando vi a expressão de uma criança muito triste. Fui na cadeira dela para saber o que estava acontecendo. ‘Profe, eu não consigo escrever porque não consigo apontar meu lápis’. Eu olhei para o lápis dela, tinha uns 2 cm, apontado dos dois lados. Aquilo mexeu comigo”, recorda. 

Para ajudar, Rosiani fez um trato com a criança. “Eu disse pra ela, ‘a profe vai te dar três lápis, mas você vai me dar esse lápis de presente, pode ser?’ Foi logo no início da minha carreira como professora, faz uns quatro anos”, revela. A professora até hoje tem o pequeno lápis guardado. “Ele simboliza uma dificuldade na educação que as crianças às vezes não são culpadas. Como uma criança que tá aprendendo a escrever, como pode desenvolver com um lápis que não tem onde pegar?”, questiona.

Amor pelo que faz

O dinamismo no ensino fez a professora Rosiani, ao cursar a faculdade de Letras, encarar o desafio da educação. “É muito gostoso você participar da vida de um indivíduo, ajudando na formação dele. Eu me formei, fui passando em concursos. Cada vez que me chamavam, eu ia trabalhando. É um desafio muito grande”, enfatiza a professora.

E com a pandemia e as dificuldades do ensino remoto, a pedagoga tem esperanças de que tudo acabe logo. “A gente sabe que o ano está praticamente no final e muita coisa ficou a desejar. Como, por exemplo, a relação professor e aluno, que é de extrema importância. Você administrar as aulas no computador, falta o calor humano, essa interação que é muito importante no desenvolvimento deles”, confessa.

Ao notar as dificuldades atuais, a professora torce para que tudo volte como era antes. “Que a gente volte ao normal, mas ao normal de verdade, de brincar junto, de estar junto com eles na sala. É muito triste querer estudar e não ter o professor do lado. Tem crianças que se sentem mais a vontade interagindo com o professor, criança que se abre melhor na escola. Tem que ter esse acolhimento, saber escutar, saber que a criança precisa ser ouvida. Ser professor é isso, é ter amor pelo que faz”, finaliza.

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