Com o preço do gás de cozinha e da gasolina nas alturas por causa da política de preços da Petrobrás, que leva em conta a variação do dólar e do mercado internacional do petróleo, o planejamento econômico dos brasileiros não tem sido fácil. Em Curitiba, as famílias vêm cortando despesas extras e fazendo contas para os salários caberem dentro do mês. A gasolina, por exemplo, está chegando perto dos R$ 5 o litro em Curitiba. Apenas em 2021 já são quatro aumentos consecutivos dos combustíveis por parte da Petrobras.
Tem gente escolhendo se come ou se paga as contas, tamanho é o malabarismo para manter a carteira fechada. A interferência do preço do botijão de gás e da gasolina, dentro da cadeia econômica, tende a provocar reflexos em diversos setores, provocando inflação. A pandemia ainda acelerou a crise econômica no ano passado e 2021 segue na corda bamba. Mas como superar esse momento e aguardar uma calmaria com alguma reserva? Tem jeito?
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Para o professor Marcelo Luiz Curado, do departamento de Economia da UFPR e líder do grupo de pesquisa História do Pensamento Econômico e Economia Brasileira, a realidade econômica das classes menos favorecidas gera preocupação. “Principalmente, porque a tendência é que o preço internacional do petróleo siga em alta até o fim do ano. E o governo federal vem indicando que não vai interferir na política da Petrobrás”, aponta Curado.
Por isso, segundo o professor, as famílias devem intensificar ainda mais o planejamento de gastos. “O primeiro passo é montar uma planilha para entender qual é o gasto mensal total da casa. Pode ser no computador ou no papel, não importa, mas a planilha é importante para que a pessoa enxergue onde está indo o dinheiro e onde será possível fazer cortes”, explica Curado.
Ainda de acordo com Curado, pelo menos até o fim do ano os cortes serão indispensáveis. “Os preços do gás e da gasolina devem continuar subindo. Essa é a tendência, caso não haja mudança na política da Petrobrás. Sendo assim, não tem jeito, as famílias vão ter que se reorganizar”, diz o professor. Isso inclui repensar gastos com lazer, economizar gasolina o máximo possível, não desperdiçar gás de cozinha, rever o cardápio de alimentação para variar o consumo de carnes, poupar água entre inúmeras outras possibilidades de economia.
A população parece já ter entendido que é preciso cuidar das finanças neste momento, mas não tem sido fácil. O funcionário aposentado da prefeitura de Curitiba Luiz Carlos Bressan, 60 anos, mora sozinho e diz sofrer para pagar as contas desde o ano passado. Ele reclama que o salário mal dá para manter a sua alimentação diária. No caso dele, mesmo com o botijão de gás durando mais que a média – por ser sozinho e cozinhar pouco –, a variação de preço tem deixado a sua situação econômica complicada.
Segundo ele, o que já era difícil ainda piorou na pandemia. Há algum tempo, ele fez empréstimo consignado para manter as contas. “O salário fica sempre defasado. Na pandemia, acabei fazendo um refinanciamento. Agora, sobra no mês pouco mais de R$ 350. Com o preço das coisas do jeito que estão, gás, combustível e até um quilo de tomate, tá complicado até para fazer minhas refeições”, conta Bressan, que mora no Vista Alegre, bem próximo do primeiro Farol do Saber de Curitiba.
“Fui na feirinha que tem aqui para comprar dois tomates. Voltei sem comprar, pois estava quase R$ 5,50 o quilo. Não deu. A situação que a gente vive hoje está bem complicada”, diz o aposentado. Bressan ainda diz que recebe um vale mercado para as compras, mas garante que tem ficado difícil escolher onde gastar. “Ou eu como ou pago as contas”, desabafa.
Já a principal reclamação do comerciante Paulo Monteiro Jacoby, 33 anos, do Pilarzinho, é com o preço do gás. Assim como indicou o professor Marcelo Curado, o comerciante já está cortando gastos para equilibrar as contas da família. “No começo do ano passado, o botijão estava em torno de R$ 60. Hoje, estamos em um cenário que pode ser até R$ 90. Então, a gente está tendo que tirar de algum lugar, às vezes até da hora de lazer, para colocar a realidade para funcionar. Gás, luz, água… Não tem o que fazer, você vai usar, não tem como substituir por outra coisa, não tem volta”, reclama.
Monteiro ainda acha que o custo de vida vai ficar mais caro quando as aulas do ensino público voltarem, por causa do uso do carro. “Vai se somar a tudo isso o custo da gasolina. Fora a carne vermelha, alimentação. Está bem conturbada a coisa. Você tem que ficar escolhendo um dia da semana para comer carne vermelha. No resto, você tem que se virar no ovo, no frango. Até o porco está difícil”, lamenta.
Marcelo Curado diz que o raciocínio do comerciante está correto e que, por enquanto, a organização familiar é a melhor saída. “Principalmente, nessas horas em que a economia está parada, há recessão, desemprego e o salário não aumenta. Uma outra dica, além de cortar gastos, é procurar algum tipo de renda extra. Nem sempre é fácil, mas pode ajudar”, finaliza.