Novo Mundo

Rapaz atingido por policial em abordagem frustrada também morre

Diogo Willian Ribeiro, 26 anos, morreu na noite da última segunda-feira, no Hospital Evangélico, em Curitiba, após não resistir aos ferimentos causados por uma confusão no bairro Novo Mundo, no domingo.

O rapaz é a segunda vítima do tumulto ocorrido em um bar. Anteriormente, Sandra Mara Rangel, 42 anos, já havia morrido no caso. A dupla foi atingida durante uma abordagem frustrada da Polícia Militar.

Relembre o caso:

A ocorrência que originou o deslocamento dos policiais até o bar na Avenida Brasília, esquina com a Rua João Ribeiro Lemos, foi registrada pela Polícia Militar às 21h40. Via telefone 190, o solicitante relatou que houve uma briga no bar e um homem armado ameaçava os clientes.

O motivo da confusão não foi informado, porém, os envolvidos foram retirados do estabelecimento. Segundo testemunhas, esse homem armado se identificou como sendo um policial militar, mas a informação não foi confirmada pela PM. “Essa pessoa não chegou a ser identificada. A ocorrência que se originou via 190, ficou no ar. Antes de ser feita a revista pessoal, aconteceu o fato lamentável”, afirmou o tenente-coronel Assunção, comandante do 13.º Batalhão que atende o Novo Mundo.

Mesmo não sendo a área de atuação, uma equipe da Rotam do 23.º Batalhão, ao retornar para a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), região que atua, após ter encaminhado um menor infrator à Delegacia do Adolescente, ouviu no rádio a ocorrência de ameaça por arma de fogo e procurou prestar auxílio. “Pelo fato de estarem próximos do local e para evitar uma tragédia eles foram atender essa situação”, disse Assunção.

O tenente-coronel relatou que na chegada ao local os policiais se posicionaram de acordo com a técnica e o soldado Yago, responsável pela segurança da equipe, efetuou o “golpe de segurança”, procedimento feito para engatilhar a arma, e quando retornou, a arma disparou, sem mesmo estar com o dedo no gatilho.

Três pessoas foram baleadas – Sandra Mara Rangel, 42 anos, tia de Diogo Willian Rangel, 26 e Ana Carolina Munhoz, 27. Sandra foi atingida no rosto, foi encaminhada ao Hospital do Trabalhador, mas não resistiu. Diogo foi ferido na cabeça e morreu na segunda-feira. Ana foi encaminhada ao Hospital do Trabalhador e liberada em seguida.

RELATOS – A reportagem foi até o bar, mas estava fechado. O dono abre diariamente após as 18h. Funcionários de uma empresa relataram que de fato houve uma confusão e que o suposto policial sacou a arma, dizendo que ia chamar alguns “amigos”. “Quando a Rotam chegou, a briga já tinha terminado e o pessoal estava sentado aqui (em uma mureta do posto de gasolina). O cara apontou pra eles e a polícia veio abordar e deu nisso”, relatou. A testemunha contou que estava um alvoroço e as vítimas estavam com as mãos na cabeça quando o disparou aconteceu.

Após o tiro, o soldado foi colocado dentro da viatura porque as pessoas estavam revoltadas a ponto de capotar a viatura. Ele foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Militar e encaminhado para avaliação psicológica. Um inquérito policial militar foi aberto e enquanto isso, o militar ficará afastado da área operacional.

De acordo com o comandante, ofícios foram enviados ao Ministério Público do Paraná e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) convidando-os a acompanhar os trâmites do inquérito policial. “Queremos transparência nas investigações, por isso fizemos esse pedido para que sejam esclarecidos todos os fatos”.

ARMAMENTO – A arma foi recolhida ao Instituto de Criminalística para exames de prestabilidade, que farão parte do inquérito. “Não podemos pré-julgar sem antes saber se o que houve foi defeito no mecanismo do armamento”, relatou Assunção, que confirmou que na posição que o soldado estava ao realizar o golpe de segurança, a arma estava na mira das pessoas. Esta arma é usada pelos policiais de unidades especializadas como a Rotam pelo alto poder de fogo, e o golpe de seguran&,ccedil;a é dado para “intimidar”. Em apenas um tiro, vários esferas de chumbo são disparadas.

REVISÃO – A Polícia Militar afirmou estar revendo alguns protocolos de abordagem, segundo o órgão, antes mesmo do ocorrido. “Temos que analisar se há necessidade de dar o golpe de segurança com a arma apontada”, entre outras ações. As armas dos policiais também estão sendo encaminhadas para recall. Há relatos de policiais que tiveram falhas nas pistolas, até mesmo espingardas como a que disparou acidentalmente ser acionada somente com o solavanco dentro da viatura.