“A maior felicidade é saber ser feliz. Felicidade não é avoar alto, é ter onde pousar”. Esse é um pedaço de uma poesia de Efigênia Rolim, artista de 92 anos, que atualmente mora no Asilo São Vicente de Paulo, localizado no bairro Juvevê, em Curitiba. Conhecida como a Rainha do Papel de Bala, Efigênia ganhou destaque ao criar arte utilizando o papel de bala como matéria-prima, além de outros materiais recicláveis.

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Antes de trazer mais informações a respeito da vida da artista, é importante ressaltar a singularidade de Efigênia. Quando se escreve uma história, é comum procurar por outras denominações que possam referenciar a pessoa durante a escrita. Algumas vezes é difícil encontrar atribuições, mas não no caso de Efigênia. Pelo contrário, talvez no caso dela até falte espaço. Efigênia é mulher, mãe, avó, amiga, aventureira, artista plástica, contadora de histórias, poeta, performer e estilista. É uma alma de artista.

É rara a oportunidade de conhecer alguém assim, que carrega um mundo inteiro, desconhecido do resto das pessoas, dentro de si. Eu tive a sorte de conversar com a Efigênia. Vestindo uma roupa vermelha com pequenos brilhos, usando um arquinho na cabeça e sem batom por escolha – “fantasia de Carnaval já basta”, ela proporcionou uma tarde de boas histórias.

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A trajetória da Rainha do Papel de Bala é longa. Ela nasceu em 1931, no município de Abre Campo, em Minas Gerais. Em 1965 se mudou para o norte do Paraná. Já em 1971 chegou a Curitiba. Em 1991, aos 60 anos, participou da primeira exposição de arte. Depois disso esteve presente em muitas outras mostras, além de ter lançado livros e participado de desfiles de moda, filmes e congressos.

A porta de entrada da artesã no mundo da arte foi um papel de bala. Nos anos 1990, durante uma caminhada pelo Centro de Curitiba, ela viu um pequeno objeto verde e brilhante no chão. Surpresa, Efigênia achou que era uma pedra preciosa, uma joia. Mais tarde ela descobriu que tinha achado algo melhor ainda: um novo propósito de vida.

“Mas é papel de bala, achei que era joia. No meu mundo imaginário eu pensei: se fosse uma joia você ia usar ou ia vender. Eu ouvi uma palavra muito séria para nós desse planeta. Nós somos um mísero caído que perdeu o recheio e perambula pela rua. Naquele momento, no meu pensamento e no meu coração, alguma coisa falou ‘olha quanto mísero caído’”, relembra.

A partir do momento que enxergou diversos papéis de bala jogados no chão, a artista decidiu dar um novo significado para cada um deles. Ela, inclusive, compara a nossa existência com o pequeno embrulho do doce. “Nosso recheio é o trabalho. Se a gente não trabalha, perdemos o recheio e perambulamos pela rua. E eu encontrei tanto recheio, tanto mísero caído e eu peguei um, peguei mais outro”, diz.

Assim nasceu a Rainha do Papel de Bala. Dona de uma imaginação incrível, era como se cada papel falasse com ela e, escutando, ela dava um novo sentido para o lixo. “Trabalhei muito, graças a Deus. O pessoal descobriu que era muito bom meu trabalho de ecologia”.

Criações únicas saíram das mãos dela: bonecas, roupas, sapatos, cavalos, chapéus, óculos e diversas outras. Segundo a artesã, o volume é tão grande que apenas um médico que mora em São Paulo possui mais de cem obras dela. A artista também possui um acervo no Museu Oscar Niemeyer (MON) e já foi tema de uma mostra no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR).

“Uma descoberta muito profunda no coração, na minha alma. Da cultura fiz uma escultura”, afirma.

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O talismã de Efigênia Rolim

Com um carinho muito grande por cada criação, afinal, como a própria Efigênia comenta “para mim tudo é importante”, ela costuma dar nome e criar uma pequena história ou poesia para as obras, que se transformam em personagens. E apesar de amar todos, existe uma criação preferida, a Tiburcia.

“A Tiburcia é meu talismã. Minha primeira que me acompanhou, nunca que ia vender ela, queriam comprar. Foi feita com potinho de iogurte. Ela tem uma ponta de colar amarelo que eu pus na boca dela, ai ela tá sorrindo”, descreve a artista.

Foto: colaboração | Wagner Roger.

Conforme o relato da estilista, a personagem foi criada na época do governo de Itamar Franco, quando o Brasil trocou a moeda e lançou o real, com o objetivo de estabilizar a economia. Por isso, a Tiburcia foi construída nessa temática e inspirou uma canção, criada por Efigênia.

“Ah, Tiburcia. Se você tem uma moedinha e quer dela se livrar, bota aqui nessa botinha que Deus vai te abençoar, que Deus vai te abençoar. Quando eu era criança era cruzeiro, mas hoje eu tenho a esperança de ganhar muito dinheiro. Ah, Tiburcia, o que é que nós vamos fazer, se nós não trabalhar, o que é que nós vamos comer”, canta a artista.

“Todo mundo é único”: os desenhos encantados de Efigênia

Efigênia vive no Asilo São Vicente de Paulo há um ano e quatro meses. Com algumas limitações na saúde, ela deixou de andar e faz uso constante de oxigênio. Mas as mãos e mente da artista continuam trabalhando a todo vapor. A artesã já encheu de arte dois cadernos de desenho e novos personagens começam a aparecer em um terceiro caderninho.

Durante uma das poesias que recitou, ela terminou de um jeito diferente, comentando que continua feliz: “Pelas ruas isoladas ninguém me conhecia, mas eu sentava nas calçadas e declamava poesia. Mas nem tudo o que diz é verdade, mas pode ser verdade o que diz. A maior felicidade é saber ser feliz. Felicidade não é avoar alto, é ter onde pousar. Olha onde que eu estou, aqui na enfermaria, com dor, em tudo, nas costas, na perna, to feliz porque você tá me procurando. Não morri ainda.” Ela também agradeceu pelos cuidados que recebe no asilo.

Contadora de histórias animada, ela detalha o que cada desenho representa. Temas como natureza, religião, relações sociais, vivências e até piadas fazem parte das criações, sempre coloridas. “Esse aqui eu acho muito engraçado”, apontou a artista enquanto narrava uma conversa entre dois personagens.

“Na beira da estrada, pode ser noite ou madrugada, acolher a pessoa cansada. As vezes tá com a perna inchada. Comer leite com batata assada e vai para sua jornada, vai procurar outra pousada”, poesia de um dos desenhos.

Ela também faz questão de explicar que, assim como ela, cada criação é original. “Não adianta querer fazer igual, não faço mesmo. É só uma vez. Eu sou única, então todo mundo é único”, afirma.

Dessa forma segue a artista Efigênia Rolim. Talvez sem nem mesmo se dar conta, a cada desenho que termina ela continua deixando Curitiba mais colorida e, a cada verso novo que cria, revela uma nova sabedoria.

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