Só no papel

R$ 1 bi mais caro e sem prioridade, metrô de Curitiba vê obras cada vez mais longe

Metrô de Curitiba está só no papel. Foto: Divulgação.

A esperança da atual gestão em torno do projeto do metrô de Curitiba recebeu duas notícias antagônicas nas últimas semanas: para os pessimistas, a informação de que a gestão do presidente interino dará prioridade aos projetos já contratados (algo que não ocorreu com o metrô) confirmou a tese de que o modal sobre trilhos da cidade é mais um sonho do que uma realidade; em outra trincheira, os otimistas puderam comemorar que a Caixa Econômica Federal encaminhou suas considerações sobre o projeto ao Ministério das Cidades. Apesar de o banco ainda não dizer quais foram essas considerações, a prefeitura de Curitiba comemorou que essa etapa tenha sido superada.

sonho do metrô curitibano se arrasta há mais de uma década (veja mais ao lado). Em agosto de 2014, na antevéspera da abertura dos envelopes dos concorrentes, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná suspendeu o processo alegando ter encontrado indícios de irregularidades no edital. Refeito, o certame encontrou novo obstáculo: quem iria pagar a inflação acumulada desde a suspensão da concorrência. Em vias de ver o país entrar em recessão, a União sinalizou que não aportaria nem um real a mais no projeto. Naquela época, a diferença era de pouco mais de R$ 400 milhões. Agora, ela supera R$ 1 bilhão.

Apesar desse impasse, no último mês de julho, a Caixa Econômica Federal encaminhou ao Ministério das Cidades seu parecer sobre a análise do anteprojeto técnico do metrô. Foi a primeira vez que isso ocorreu em caráter conclusivo desde que a cidade passou a sonhar com o novo modal.

O banco afirmou, entretanto, que essa etapa não se refere a aceitar ou não o projeto da prefeitura de Curitiba. “Isso cabe ao Ministério das Cidades”, enfatizou a assessoria da instituição financeira. Mas o secretário municipal do Planejamento, Fábio Scatolin, avaliou positivamente o trâmite. “Esse envio serve como uma chancela para o trabalho que fizemos até aqui, demonstrando que estamos no caminho certo. Queremos que a próxima gestão, seja quem for, tenha um projeto pronto para ser licitado caso seja esse o desejo”, disse.

Água no chope

A notícia poderia ser mais comemorada, não fosse o fato de o ministro interino das Cidades, Bruno Araújo, ter afirmado recentemente que “a prioridade é terminar as obras já iniciadas”. A declaração foi dada em notícia publicada no último dia 13 de julho no site da pasta, logo após encontro de Araújo com parlamentares.

Ao todo, segundo o ministério das Cidades, serão priorizados neste momento 200 projetos de mobilidade contratados com recursos de R$ 43,7 bilhões. Desses, 90 estão com obras em andamento, 78 ainda não saíram do papel, 13 foram concluídos e 19 estão com obras paralisadas. O ministro também informou na publicação que a maior parte dessas obras “se refere a corredores de ônibus, VLT e BRT (140); 21 são obras de transporte sobre trilhos; e 12 de adequação de vias”.

Scatolin avaliou que a fala do ministro faz sentido: “também achamos que tem de ser priorizado o que está em andamento. Para fazer voos maiores, não se pode esquecer o que está andando”. O secretário, entretanto, mostrou otimismo para os próximos meses. “Nossa gestão também entende que o governo federal, seja ele qual for (o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda está em andamento), terá de ter uma agenda de retomada do crescimento e não temos dúvidas de que um dos melhores projetos que o país tem é o do metrô de Curitiba”, defendeu.

Procurada pela reportagem para comentar especificamente o caso do metrô de Curitiba, a pasta federal não retornou com informações sobre o andamento do projeto até o fechamento desta reportagem.

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