Uma sensação de revolta, impotência e de estar com as mãos amarradas. Familiares de pessoas infectadas pela covid-19 e que precisam com urgência de leitos em hospitais paranaenses tentam driblar este momento de pura ansiedade e nervosismo, tendo a fé como companheira. Ao todo, atualmente são 1.296 pacientes à espera de um espaço em todo o Paraná, contabilizando Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ou leitos em enfermarias. Sem dúvida, é o pior momento da pandemia. Aliás, se acabassem hoje os casos ativos no estado, a fila por leitos ainda iria durar por mais quase um mês.

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O momento é crítico e as autoridades de saúde informam diariamente que o colapso no sistema hospitalar beira o caos, como em uma espécie de guerra. O coordenador das UTIs do Hospital VITA Batel, em Curitiba, e presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (SOTIPA), o médico intensivista Rafael Deucher, 41 anos, relatou à Tribuna do Paraná na segunda-feira (8), que leito é artigo de luxo e que é preciso ter sorte para conseguir rapidamente.

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“Um leito de UTI é artigo de luxo e se você conseguir uma hoje em dia, você é sortudo. Vai começar a morrer gente com falta de assistência médica em todos os lugares do Paraná. As pessoas que estão em casa não têm noção, basta um familiar precisar do hospital para você ter a dimensão do que está acontecendo. É desesperador o que estamos vivendo”, desabafou o médico.

O relato de quem está trabalhando diretamente com os pacientes é semelhante aos daqueles que atuam na parte administrativa ou gestão hospitalar. A situação é crítica ao ponto de que critérios técnicos e clínicos são analisados para definir qual paciente da fila irá receber atendimento primeiro. Vários fatores são determinantes e a decisão cabe a um médico regulador do estado.

Vinicius Filipak, diretor de Gestão em Saúde na Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa), relata que todos os pacientes são cadastrados na Central de Regulação de Leitos e que ela que possui a tarefa de gerenciar a ocupação. “Todos os pacientes que precisam de internamentos, eles entram pelo sistema regulador do estado, com a inserção de todos os dados. Existem vários critérios para priorizar o atendimento de um paciente. Idade, perspectiva da doença, comorbidades, quadro clinico atual e até a localização. É uma situação muito difícil de ser fazer e muito complexa, por isso a decisão precisa ser tomada por um médico regulador”, disse Filipak.

Fila sem prazo para acabar

Apesar dos esforços com a criação de mais leitos e decretos, que buscam frear a contaminação, a fila de espera não deve acabar tão cedo. O diretor da Sesa reforça que a velocidade de propagação do vírus está altíssima e só mesmo um milagre divino ou mágica iriam reduzir o tempo de espera por uma vaga. Aliás, não existe uma precisão de quanto tempo se aguarda na fila.

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“Se por mágica ou intervenção divina ninguém mais for infectado, este ciclo vai demorar ao menos um mês. Um paciente hoje contaminado, circulou pela cidade e pode ter contaminado outra pessoa. Tem que torcer que não precise de internamento e se precisar, vai para o fim da fila. As pessoas não fazem ideia do problema. A gente não quer acabar somente com a fila, e sim, tratar as pessoas até o fim para fazer todo o tratamento. O tempo de cada paciente é diferente do outro ”, relatou Filipak.

Na Justiça!

No caso do radialista Luiz Antônio Rodrigues, 55 anos, a família teve que procurar um advogado para conseguir um leito para ele. A esposa Joelma Afonso Ramos, 47 anos, sentiu na pele a aflição de não ter vaga para o marido que em menos de uma semana precisou ser entubado. Na segunda-feira (1), Luiz começou a apresentar sintomas de gripe e foi medicado. Com o passar dos dias, não apresentou melhora e na sexta-feira (5), demonstrou cansaço. Um dia depois, foi encaminhado de ambulância para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Boa Vista. Os médicos o atenderam e avisaram a esposa que ele precisava de um hospital com mais estrutura. A partir disso, a família entrou em desespero.

“O médico então veio falar comigo e avisou que ele precisava ser intubado em um leito de emergência, mas que não tinha vaga na cidade. Começamos a conversar com os amigos para tentar uma ajuda, mas não tinha vaga em nenhum lugar. É uma impotência tão grande, um desespero que você fica perdida. Você não sabe se chora, se fica forte, é terrível. A doença é muito malvada, pois a gente sofre sozinho”, afirmou Joelma.

Aconselhada por amigos a procurar um advogado, que entraria com uma medida judicial pedindo a internação urgente de Luiz, Joelma teve uma resposta positiva da Justiça. “Em menos de 24 horas, um promotor entrou em contato para confirmar as informações e ele já está na UTI do Hospital de Medicina. Agora a angustia está na recuperação e na falta de notícias. Os médicos e as enfermeiras estão sobrecarregados e fico no aguardo de um telefonema, que acontece no período da tarde. É fato que consegui um leito por ter amigos que indicaram um caminho, mas quantas pessoas estão perdendo os familiares por falta de atendimento? É uma é guerra e precisamos nos cuidar”, completou Joelma.