Qual é o cheiro de Curitiba? Visitante ou morador, você já parou para pensar quais aromas são possíveis associar com a capital paranaense? É isso que a perfumista Pamela Dalla está fazendo: criando o cheiro de Curitiba. Unindo diversas plantas que fazem parte da cidade, como pitanga, laranjeira, musgo e até mesmo a famosa araucária, Pamela está desenvolvendo uma fragrância especial.

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Proprietária da Alkmia Natural, ateliê de perfumaria natural que fica em Santa Felicidade, Pamela é especialista em perfumaria botânica. Conforme ela explica, esse processo busca exaltar o verdadeiro cheiro das coisas. Ou seja, a flor, planta ou madeira são realmente usadas na confecção do produto.

“A minha proposta é apresentar para as pessoas esse novo universo aromático que é diferente da perfumaria tradicional, que a gente está mais acostumado. São aromas de verdade. É diferente daquilo que é levado para um laboratório, pra criar um cheiro bem parecido ao da flor. [Na perfumaria botânica] é o cheiro da flor. Então é aquela flor com tudo o que ela tem de bom e também seus espinhos. Isso mexe com a gente”, diz.

Um cheiro para Curitiba

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A inspiração em criar um cheiro para Curitiba surgiu por dois motivos. O primeiro foi por conta da vista do ateliê de Pamela. Em um ambiente bem calmo, dá para sentir a tranquilidade já ao entrar no local. Ao olhar pela janela é possível admirar três araucárias que, facilmente, são destaque na paisagem.

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“Por causa dos pinheiros, do quintal de casa. Eu [também] dou aula de yoga aqui e a gente sempre tá virada para as araucárias”.

Já o segundo motivo apareceu depois que ela fez uma fragrância especial para a queijaria da mãe. Nessa produção, Pamela usou queijo de verdade para confeccionar o perfume.

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“Tem cheiro de queijo, mas não tem só queijo. Entrou ali tudo o que tem a ver com a queijaria dela. Os queijos dela levam tempo, então entrou raízes e madeiras que também falam sobre isso. Por exemplo o cedro, fica cinco anos criando raízes para depois crescer. Uma vetiver que vai se espalhando por debaixo da terra, é úmida, tem meio que esse cheiro de terra molhada. Claro, a gente vai vendo o que faz sentido para cada coisa e fiquei pensando ‘tá, e Curitiba? Não tem um cheiro? Não tem! Vamos fazer então’. Nada mais justo com a nossa cidade”, conta.

Perfumista que apresentar perfume para a prefeitura

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Com fabricação totalmente natural, o perfume de ambiente da capital das araucárias ainda está em “processo de crescimento”, brinca Pamela. Ela acredita que será finalizado dentro de um mês. Depois que estiver com o produto pronto, ela quer mostrar o trabalho para a Prefeitura de Curitiba.

O objetivo dela é poder espalhar esse cheiro em pontos estratégicos da cidade, como os pontos turísticos e o aeroporto. “Imagina que legal. A pessoa que chega em Curitiba ter uma experiência de sentir um cheiro que é natural, é de verdade, é da nossa terra”, afirma.

“Esse é o meu sonho grande, de ter [perfume] nos lugares que os turistas vão. De poder levar para casa ou para alguém, como um mimo, o cheiro de Curitiba, a energia de Curitiba, algo nesse sentido”, completa.

Muitas das nossas memórias são ligadas ao olfato. Por isso, ao pensar no perfume de Curitiba, Pamela levou muitas coisas em consideração justamente para provocar sensações nas pessoas.

“O olfato, o nosso sentido, é o único que está ligado diretamente como nosso sistema límbico, que é onde a gente processa as nossas emoções e está ligado a memória. Então é aquela coisa que não tem como fugir. Ou te lembra uma coisa boa, ou te lembra alguma coisa ruim. Mas vai te lembrar alguma coisa. Então ajuda a criar essas memórias afetivas”, revela.

Cheiro da araucária no perfume curitibano

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Pamela enfatiza que é possível tirar o perfume até das raízes. Existem várias formas de fazer esses processos, mas ela opta por meios artesanais.

A composição do perfume leva grimpa – ramo seco de araucária. Ao extrair esse aroma, a especialista comenta que dá para sentir um “cheiro de inverno”, pois a grimpa pode ser associada com fogueiras, usadas para espantar o frio curitibano.

“Eu fui selecionando, pesquisando ao redor tudo aquilo que é característico da cidade, as espécies da nossa região. E dentro desse único aroma, dessa fragrância, tem ali por volta de 15 aromas regionais. Desde pitanga, laranjeira, manacá de cheiro, musgo de pedra, de araucária. Tudo vem entrando junto para dar cheiro. A própria madeira da araucária”, explica.

Na madeira do pinheiro, por exemplo, ela coleta a resina, que é um líquido viscoso de forte odor e cor, produzido naturalmente pela ação de alguns fungos. Depois de ser retirada, passa pelo processo de destilação para virar óleo e ser usada na perfumaria. Nesse caso, a resina e a grimpa foram utilizadas para fazer a base do perfume.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Com a base feita, Pamela consegue acrescentar os chamados óleos essenciais e absolutos (cheiros concentrados) das outras plantas e flores, para ajudar a compor o perfume.

Para extrair o cheiro das flores, um dos processos que ela utiliza é o Enfleurage. Esse método consiste em deixar a flor na gordura para tirar o aroma. Pamela usa gordura de coco sem odor e, aos poucos, a flor vai liberando o cheiro. Depois, ele é tirado da gordura e passado para o álcool.

Sensibilidade da perfumaria botânica

A jornada de Pamela na perfumaria botânica começou durante a pandemia da covid-19. Antes, ela usava o espaço do ateliê Alkmia apenas para aulas de yoga. Com a chegada do isolamento, ela começou a dar aulas online e fazer os óleos usados nos encontros presenciais para enviar para as alunas.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

“Então elas recebiam em casa o aroma que elas estavam já acostumadas na aula. E começou a ficar gostoso. Começou como uma ‘brincadeira’ e minha paixão veio crescendo, eu fui me aprofundando, estudando e entraram os cursos na minha vida e hoje estou fazendo perfume botânico”, conta.

Ao se aprofundar nos estudos sobre o tema, Pamela revela que percebeu a importância dos cheiros na descoberta individual. “Quando uma pessoa sente determinado aroma, as vezes ela fica balançada. Isso mexe com a emoção, o sentimento. Eu falo que é muito mais do que mais um cheiro. É uma outra proposta de perfumar. É se conhecer, entender e escolher se aquilo realmente te faz bem ou não. Se você quer trabalhar aquilo agora ou não”.

Ela também destaca que esse tipo de perfumaria valoriza os ingredientes naturais e permite mais escolhas do consumidor. “Hoje infelizmente muito do que a gente usa não é legal. Então assim, poxa, tá na hora das pessoas saberem, conhecerem, escolherem com consciência. Eu encontrei na perfumaria botânica um processo muito grande de autoconhecimento e a minha maior vontade é fazer com que as pessoas se apaixonem como eu me apaixonei”, diz.

Oficina de perfumaria botânica em Curitiba

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Recentemente, Pamela começou a fazer algumas oficinas no ateliê. O objetivo é permitir que as pessoas explorem o sentido do olfato e conheçam mais detalhes sobre a botânica.

“Nas oficinas que eu faço aqui, as pessoas vem e sentem tudo [os cheiros] sem saber o que tão sentindo. A gente vive numa bolha em que a gente acha que todo mundo gosta do cheiro de rosa. Mas, não é bem assim. As vezes é profundo demais. Têm pessoas que vem sentir esses aromas e choram. Falam ‘isso eu não quero, não é pra mim agora’ e escolhe outro e diz ‘esse eu gostei muito’. A gente vai descobrindo um pouquinho da gente através disso”, comenta.

Em uma das oficinas, o público recebe informações iniciais sobre a perfumaria botânica, colhe algumas plantas que estão no jardim do ateliê e criam um perfume exclusivo.

Para quem tiver interesse, as atividades são anunciadas no Instagram da Alkmia Natural.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.
O que??

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