A Prefeitura de Curitiba anunciou nesta terça-feira (11) que pretende revitalizar a área onde estão localizados o Santuário Nossa Senhora de Guadalupe e o Terminal Guadalupe, no Centro de Curitiba. O projeto inicial propõe uma transformação radical na área que faz parte da memória e do dia a dia de gerações de curitibanos e está sendo bastante criticado por arquitetos e especialistas em patrimônio da capital.
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De acordo com a gestão municipal, a proposta é revitalizar o espaço por meio de uma parceria público-privada e transformá-lo em um polo de turismo religioso nacional. Para isso, prevê a construção de uma praça elevada sobre o terminal de ônibus, a partir do nível de acesso da igreja. Com isso, o santuário passaria a ser o ponto focal da área e serviria como uma espécie de mirante para a região do Rebouças.
“Queremos criar uma praça de convívio urbano na região do Guadalupe, oferecer um espaço mais qualificado do que o atual. Essa é a intenção do projeto”, resume o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Reginaldo Luiz Reinert.
Segundo ele, a prefeitura tem como meta a requalificação urbana de alguns pontos da cidade, entre eles o do Guadalupe. Ao mesmo tempo, o santuário havia apresentado a necessidade de modificar e ampliar suas instalações, o que contribuiu para que o projeto de requalificação fosse “startado”. “Unimos o útil ao agradável, pois podemos fazer disso um processo de devolução do espaço público para a cidade”, acrescenta o presidente.
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Ele reforça, ainda, que a praça será uma espécie de complemento aos serviços urbanos presentes no local. Isso porque, sob ela, funcionarão o terminal de transporte e as áreas comercial e de estacionamento. O projeto ainda prevê um espaço reservado à TV Evangelizar.
Críticas
É ponto pacífico que a região do Guadalupe demanda um projeto de revitalização que devolva a segurança e a qualidade do espaço urbano ao local. A proposta apresentada pela prefeitura, no entanto, tem recebido críticas de arquitetos, urbanistas e especialistas que questionam a qualidade arquitetônica do projeto e sua possível interferência sobre o patrimônio construído da cidade.
Isso porque o Guadalupe foi o primeiro terminal rodoviário de Curitiba (sendo substituído na década de 1970 pela Estação Rodoferroviária) e teve seu projeto assinado pelo engenheiro Rubens Meister, como lembra o arquiteto e urbanista Fábio Domingos Batista, da Grifo Arquitetura. Meister foi um dos expoentes da arquitetura moderna da capital, sendo responsável, também, por projetos como o do Teatro Guaíra e do Centro Politécnico.
“O que me espantou neste projeto é que ele irá demolir ou criar uma grande área coberta em um prédio que tem uma importância histórica para a cidade substituindo-o por algo que não tem uma qualidade arquitetônica melhor”, aponta Batista.
Moisés Stival, mestre em arquitetura e chefe substituto da divisão técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), concorda. Na opinião dele, o que precisaria ser feito era uma intervenção urbana que tentasse restaurar o conjunto urbano reconhecendo os valores culturais daquele bem. “Investir na conservação urbana é uma atitude contemporânea. A partir do momento que se desfigura a arquitetura de tal forma, começa a se esconder os valores que a obra tem”, acrescenta.
Os profissionais questionam, ainda, o fato de a prefeitura apresentar uma proposta de revitalização fechada, ao invés de discuti-la com a comunidade e/ou de abrir um concurso público para sua escolha. Segundo Batista, isso faria com que arquitetos de todo o país pudessem pensar na melhor proposta para aquela área, ampliando as soluções para sua requalificação. “A cidade poderia ganhar muito com isso”, resume.
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