Os constantes assaltos na região fizeram com que professores e alunos do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Batel, tomassem uma atitude drástica. Nesta segunda-feira (6), por volta de meio-dia, eles fecharam a Rua Coronel Dulcídio, em protesto.

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“Medo de chegar, medo de sair. Nós não vamos ficar mudos, não dá pra contar com a sorte. Faça arte, não assalte”, diziam os manifestantes. Nas proximidades da universidade, os organizadores do protesto contam que são registrados, em média, sete assaltos a cada 10 dias. No final do ano passado, um aluno de Música da UFPR foi esfaqueado na rua.

Thiago de Lira Rosário, de 21 anos, é o caso de assalto mais comentado entre os estudantes. “Saí da faculdade com um saxofone pendurado ao meu corpo e fui abordado por um bandido, mas não entendi que era um assalto. Quando percebi, reagi e a gente lutou. Levei duas facadas, uma na barriga e outra na costela”, contou o rapaz, estudante do último ano de música.

O jovem ficou cinco dias internado, se recuperou e disse ter mudado drasticamente a forma de ir e voltar para a faculdade. “Sobrevivi, mas o medo ficou. Eu, que ia de ônibus, me vi obrigado a tirar carteira de motorista e vir de carro, o que não precisaria se tivéssemos segurança. Hoje carrego as cicatrizes das facadas”.

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A história de Thiago serviu de espelho para que todos os outros alunos passem a tomar cuidado ao sair de casa. “A gente já teve gente que foi roubado na saída da faculdade. Eu só consegui escapar, porque corri. Mas já se tornaram muito comuns os relatos e as histórias”, disse a estudante Carolina Araújo, 24.

Segundo os organizadores, o protesto foi a única forma encontrada de chamar a atenção da Polícia Militar, isso porque os estudantes dizem que os policiais sequer passam pela região. “Os bandidos escolheram aqui por ser uma área vista como nobre, ter bastante gente com alto poder aquisitivo circulando, mas nós somos estudantes. Acabamos pagando o pato”, desabafou Carolina.

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Conforme os estudantes, mesmo andando em grupos de quatro a cinco pessoas, os jovens são frequentemente assaltados e, na maioria das vezes, a mão armada. “O que piora ainda mais é que a rua é escura, tem muitas árvores, e isso contribui para a ação. A gente tem informação de pelo menos sete assaltos em duas semanas”, contou Nicole Garcia, 19.

Os estudantes contaram que vários boletins de ocorrência já foram registrados, mas até agora nada foi feito. “Taxistas no ponto, segurança de um supermercado que tem na mesma rua, moradores, comerciantes, todos já foram assaltados. Não é uma situação que aflige só os estudantes, mas sim a todos. E tudo indica que seja o mesmo grupo, pois eles agem sempre da mesma forma”, desabafou Anderson Toni, 20.

Bloqueio

O bloqueio feito pelos estudantes durou poucos minutos, mas o suficiente para gerar revolta em alguns motoristas, que saíram dos carros e discutiram. “Essa não é a forma de se manifestar. Vocês estão prejudicando a população. Não é assim que tem que ser feito”, dizia um homem que se identificou apenas como Sergio.

De acordo com o motorista, que disse ser morador da região, a proposta de pedir por segurança era justa, mas deveria ser feita de outra forma. “Minha esposa já foi assaltada por aqui. Mas não concordo em parar o trânsito. Se eles quisessem, eu iria junto com eles até as autoridades pedir solução, mas desse jeito não”, desabafou.

Depois de fecharem a Rua Coronel Dulcídio e o trânsito ser desviado pela Rua Comendador Araújo, os manifestantes subiram até a Avenida Batel, onde também bloquearam parcialmente, mas sem afetar o trânsito. De acordo com os organizadores, a manifestação tinha apoio dos comerciantes e moradores da região, que devem participar da assinatura de um abaixo ass,inado que será entregue às autoridades pedindo por alguma solução no local.