Um professor de história da rede pública de ensino de Curitiba se propôs a deixar em vida um legado para os mais de 150 alunos que frequentavam as suas aulas a cada ano.
Ambientalista, João Augusto Reque, 49, se preparava para concluir sua dissertação de mestrado, no qual defendia que o desmatamento não pode ser sinônimo de desenvolvimento.
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O professor, porém, não conseguiu concluir seu sonho. Um câncer linfático o matou em 14 de fevereiro, com aproximadamente 95% de sua dissertação concluída. A obra, porém, vai chegar não só a seus alunos, mas ao mundo inteiro.
O orientador do mestrado de Reque, o professor do IFPR (Instituto Federal do Paraná) Ederson Lima, e a viúva do mestrando, Lílian Santos, se uniram para concluir o trabalho, que foi apresentado em banca no dia 21 de setembro na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e aprovado.
“Eu sabia que o trabalho não havia sido terminado. Quando ele morreu, passei a ler toda a dissertação. Vi frases e parágrafos que ele não conseguiu terminar já por causa da doença”, disse a viúva de Reque, também professora de história.
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“Foi muito doloroso, triste, mas também alegre, por buscar a conclusão de um trabalho que ele queria tanto finalizar”, acrescentou Lílian. O professor começou o mestrado em 2018. Foi diagnosticado com a doença em 2019. Fez tratamento, mas o câncer voltou em julho de 2020. O casal tem um filho de 12 anos.
A conclusão do trabalho foi tratada diretamente com a banca que seria a responsável por avaliar a dissertação, explicou Lílian.
Trabalho concluído
“Trata-se de um caso excepcional, uma homenagem. A família não vai chegar a receber um diploma, mas terá um certificado de que o trabalho foi concluído, e que o programa de mestrado profissional no ensino de história reconhece que a dissertação chegou ao fim”, declarou o orientador de Reque.
Com sua conclusão, a dissertação do mestrado, que abordava o desmatamento e o desenvolvimento urbano do Paraná ao longo de 100 anos (entre 1870 e 1970), será lançada no sistema da UFPR, de acesso público pela internet.
Além de Reque ser uma pessoa extremamente querida em Curitiba, a decisão de continuar seu trabalho teve como motivação também o empenho do professor durante a produção da dissertação.
“Às vezes ele me ligava para falar sobre o mestrado e eu percebia que ele estava no hospital passando por sessão de quimioterapia, pelo barulho que dava para ouvir das máquinas”, contou Lima.
Reque dava aulas para o sexto ano do ensino fundamental no Colégio Estadual Dom Orione, no bairro Seminário, em Curitiba. “Ele tinha uma cara de bravo, mas era muito legal. Explicava tudo direitinho para a gente. E quando alguém não entendia, tinha paciência para esclarecer dúvidas”, afirmou Gabriela de Amorim Ferreira, 13, ex-aluna do professor.
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Quando ele adoeceu, a escola se mobilizou em apoio. “Ele era muito comprometido e preocupado com a educação. Durante seu tratamento, os alunos enviaram cartas de incentivo. Deram muita força para ele”, lembrou a diretora da escola, Ana Maria Veiga.