Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para um crescimento de 25% dos casos de pessoas com ansiedade e depressão em todo o mundo após a pandemia de covid-19.

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Em Curitiba o crescimento também ocorre. Os 13 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) tiveram o maior número de acolhimentos em 2022: mais de 1,1 mil casos por mês, em média.

No começo da pandemia, em abril de 2020, foram registrados 595 acolhimentos nos 13 Caps. Dois anos depois, o número quase dobrou: 1.063.

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“Houve um aumento das demandas em saúde mental nos diversos pontos da rede de atenção psicossocial ”, confirma a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Cristiane Rasera.

Quem são os curitibanos que pedem ajuda

“Em decorrência da pandemia, as pessoas tiveram muitas perdas: trabalhos, vínculos que impactaram na saúde emocional”, acrescenta ela.

A complexidade dos casos também aumentou.

“Há um aumento do uso de substância psicoativa entre jovens de 18 a 25 anos. Isso revela uma mudança de perfil de quem busca atendimento nos Caps, uma população mais jovem”, observa a gerente de Saúde Mental da Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas), Juliana Czarnobay.

Além dos acolhidos (que são atendidos pela primeira vez), o número de pacientes ativos (que recebem acompanhamento) nos Caps também cresceu, superando 4,5 mil usuários por mês em 2022.

Com a diminuição dos casos de covid-19 e o aumento da população vacinada, foi possível iniciar um processo de reorganização do atendimento. Isso permitiu retomar ações essenciais, voltadas à reinserção social e reabilitação psicossocial do usuário.

Entre 2020 e 2021, quando ocorreram os momentos críticos da pandemia, essas atividades terapêuticas e oficinas em grupos tiveram de ser canceladas para garantir a segurança de usuários e trabalhadores da saúde.

“Os Caps funcionaram como retaguarda em saúde mental, acolhendo os casos novos e situações de urgência, mantendo atendimento aos usuários em crise, monitoramento telefônico e, claro, atendimento individual para aqueles que necessitavam”, lembra Juliana.

Treinamentos

Para atender a novas demandas e manter a qualidade do atendimento, Curitiba tem investido em capacitações constantes de suas equipes e processos. Há uma segunda turma da capacitação Álcool e Outras Drogas em andamento, além de manejo em evento agudo na saúde mental toda semana.

Ainda no primeiro semestre estão previstos o curso introdutório à saúde mental no SUS e a capacitação da clínica infanto-juvenil. Para o segundo semestre, as equipes participarão da capacitação da clínica do transtorno mental.

Pioneirismo

Em 2022, a Unidade de Estabilização Psiquiátrica – Casa Irmã Dulce (UEP) voltou a atender exclusivamente a casos agudos de crise em urgência em saúde mental.

“A Unidade de Estabilização Psiquiátrica – Casa Irmã Dulce é pioneira no Brasil por ser um equipamento exclusivo para casos de crise em saúde mental grave, com profissionais especializados para o atendimento deste perfil de paciente, o que tem atraído diversas cidades do Brasil a conhecê-la”, afirma Juliana Czarnobay. 

Foram mais de 1,3 mil internamentos na UEP no ano passado. A Casa Irmã Dulce funciona 24 horas por dia no Tatuquara e recebe pacientes “regulados”, ou seja, encaminhados pela Central de Retaguarda em Saúde Mental (CRSM). Não é possível fazer a busca direta por atendimento no local.

Família foi a motivação necessária

Saber que poderia “se tratar” próximo da família foi a motivação necessária para José (nome fictício) buscar a ajuda do Caps no início de janeiro. Aos 38 anos, o operador de máquinas luta contra a dependência química desde a adolescência.

Ele esteve internado por sete vezes em clínicas terapêuticas. “A cada saída, a recaída era pior”, relatou a esposa. “Ficar trancado para uma pessoa ansiosa era terrível. Eu não conseguia cumprir os tempos de internação”, conta José.

O abuso das substâncias fez José desenvolver quadros de ansiedade e esquizofrenia e também afetou o relacionamento familiar. Era a esposa sair para trabalhar que ele “vendia tudo o que tinha casa para comprar mais droga.”

No momento mais crítico, José passou a dormir na garagem para não ter mais acesso à casa. Após algumas semanas e apesar da adesão ao tratamento, ele não conseguia permanecer sóbrio.

A equipe então reavaliou a situação e José foi encaminhado para um Caps com leito integral, em que permaneceria dia e noite. “Diferentemente da chácara, ele ficou tranquilo e foi por livre e espontânea vontade”, conta a esposa.

“O acompanhamento é diferenciado: o ambiente e o lugar, muito bacanas. A medicação assistida ajuda muito nos primeiros dias, quando a falta da droga no corpo realmente complica”, conta José, que ficou por 15 dias em leito integral.

O paciente em leito integral conta com cinco refeições diárias, pode receber ligações todo dia e visitas semanais. Em Curitiba, sete Caps contam com leitos integrais, femininos e masculinos, adultos e infantojuvenil.

A abordagem no momento de crise foi um marco para José. “Quando voltei para o meu Caps, retomei o tratamento com tudo”, relembra. Agora, ele demonstra dedicação em todas as atividades indicadas para seu caso.

Com a programação semanal em mãos, faz questão de dizer o nome do profissional responsável de cada grupo que participa. “[Participar dessas atividades] realmente faz a diferença, tanto o que é falado como a história de outras pessoas te fortalece”, conta José.

A evolução no tratamento chamou a atenção da equipe. Ele foi convidado a fazer parte da comissão organizadora do CarnaCaps 2022, evento de carnaval voltado aos usuários do Caps.

“Para mim foi um presente participar da organização porque a droga acabou com minha autoestima”, disse José. “Me senti muito importante e feliz com a forma que me trataram”.

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