O Paraná Online teve acesso a relatórios direcionados à inspetoria dos agentes penitenciários da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP I), em setembro, relatando a entrada de drogas e celulares dentro de marmitas servidas aos presos. A comida é a mesma dada aos funcionários, que muitas vezes chega estragada e azeda, por conta da demora em ser servida.

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As marmitas são enviadas por uma empresa terceirizada instalada em Araucária, dentro de um caminhão lacrado. Tanto o motorista, quanto o veículo, passam por revista. Depois disto, o lacre do baú (que é numerado e vem anotado na nota de entrega) é rompido na frente do motorista e dos funcionários e a comida é levada para a cozinha (central de distribuição), onde, além de funcionários, presos com melhor comportamento também trabalham.

A segunda etapa da revista é passar a raquete detectora de metal em todas as marmitas. Por amostragem, algumas são abertas para ver se há drogas ou outros produtos, além da conferência do estado da comida e do peso, já que, no contrato da licitação, elas precisam seguir um peso médio determinado. Depois destas etapas, as marmitas são colocadas em carrinhos e distribuídas nas celas, por agentes e presos que trabalham no setor de cozinha. Quando se percebe que alguma marmita já estava aberta, ela nem é servida. Já é descartada.

Como saber a qual preso aquele celular deve ser entregue? De acordo com agentes penitenciários, isso pode acontecer de duas maneiras. Na primeira, alguém coloca os produtos dentro das marmitas, enquanto elas estão no carrinho, a caminho das celas.

Correria

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Em outra situação, quando a revista deixa escapar alguma marmita “premiada”, os presos se organizam. Um aviso prévio é emitido a toda a cadeia, para que, quem receber a marmita “recheada” deve fazer o aparelho chegar ao destinatário.

Agentes não descartam a possibilidade de ex-presidiários infiltrados como funcionários na empresa de alimentação. Por isto, o diretor da Secretaria da Justiça, Leonildo Grota, disse que todas as possibilidades foram investigadas pela Corregedoria dos Presídios.

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Corregedoria

Joran Pinto Ribeiro, corregedor dos presídios até dezembro, acha que a probabilidade de drogas ou celulares entrarem dentro de marmitas é quase nula. Ele explicou que o carrinho com a comida e os funcionários que distribuem as marmitas nas celas passam por detector de metal, igual aos usados em aeroportos, e que detecta até pequenos detalhes em metal usados nos sapatos. “É uma revista muito rígida. Não é impossível passar algo, mas a probabilidade é muitíssimo pequena. Mas nós já demitimos um funcionário que apenas tentou fazer isto”, afirmou Joran.

A outra possibilidade, de que presos consigam se articular entre galerias para repassar objetos, ou de que agentes façam este transporte, também foi quase descartada pelo corregedor. “Nosso pessoal é muito esforçado e dedicado. Eles fazem o que podem para coibir este tipo de coisa”, elogiou. Pra ele, a maior possibilidade de entrada de materiais ilícitos na cadeia é dentro do corpo de visitantes. “Nosso pessoal da revista é sério e bom, mas não podemos encostar em ninguém. Enquanto não existir um scanner corporal, é impossível pegar tudo”, afirmou Joran.

Corpo é embalagem pra drogas

Reprodução
Fixação é com cola de dentadura. Confira no vídeo a situação da PEP

Mesmo com todo esfor&,ccedil;o dos agentes penitenciários em revistar os visitantes e não deixar passar nada ilícito, Joran Ribeiro, corregedor dos presídios até dezembro, afirma que o corpo dos visitantes ainda é o maior meio de entrada de drogas e celulares na cadeia. Todas as pessoas que desejam visitar presidiários precisam fazer cadastro junto à Corregedoria dos Presídios, informando seus dados pessoais e o grau de parentesco com o preso, para ganhar uma carteirinha de acesso. Nem todo mundo consegue a permissão.

Todos os visitantes e as sacolas que trazem (alimentos, roupas ou produtos de higiene) passam por revistas antes de entrar. Há as verificações femininas e masculinas, onde todos tiram completamente a roupa. As mulheres, ainda, precisam se agachar em cima de um espelho, para que as agentes femininas observem se não há nada dentro das partes íntimas.

Para driblar a revista íntima, muitas introduzem drogas e celulares dentro da vagina, enrolados em camisinhas e coladas com fixador de dentadura. Quando se agacham no espelho, não há o risco do material ser expelido.

Formas

Ou então, colocam o material numa camisinha e introduzem no ânus, já que a musculatura desta parte do corpo permite que a pessoa consiga segurar o que há dentro, mesmo se estiver agachada. Uma forma menos complicada e perigosa que colar na vagina.

Outros visitantes se arriscam ainda mais. Engolem buchas com drogas e, durante as visitas íntimas, em vez de encontros românticos com seus pares, ou ficam horas sentados em penicos improvisados até que toda a droga seja expelida ou provocam o vômito.

Reposição de agentes

A Secretaria da Justiça divulgou ontem que, até março, vai contratar 423 agentes penitenciários, que passaram em concurso público no ano passado. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) afirmou que os novos agentes irão apenas para substituir os 423 contratados em Processo de Seleção Simplificado (PSS), contratados até março. A Seju pediu a renovação do contrato dos PSS, mas não sabe se o governador irá autorizar.

Antony Johnson, vice-presidente do Sindarspen, alertou que, entre 70 e 80 dos que seriam chamados já desistiram do cargo, e acredita que o motivo foi a demora no processo de contratação e o medo, pelas notícias de rebelião.

A Seju garantiu que está dentro das recomendações do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), que determina um agente para cada cinco presos. Os agentes penitenciários dizem que o total deve ser dividido pelos turnos de trabalho, o que às vezes resulta em um agente pra cada 25 presos, por exemplo. Para o Sindarspen, deveriam ser contratados mais 1.200 agentes.

O Sindarspen denunciou que, dos 3.600 agentes, um grupo considerável atua como recepcionista, telefonista e motorista, entre outros cargos fora da função.

Acham jeito pro tráfico

Dentro da penitenciária, drogas e celulares podem ser passados de uma galeria a outra por agentes ou presos (que conseguem convencer agentes em deixá-los circular por outras galerias que não a sua) ou jogados por cima de muros (de fora do presídio ou entre muros da unidade mesmo), entre outras artimanhas.

O Paraná Online teve acesso a um desses relatórios de agentes, contando que uma corda improvisada foi encontrada no pátio de sol, enquanto era puxada pelo muro, da segunda para a primeira galeria. Na ponta da corda, havia uma sacola com um pó, provavelmente cocaína.

Os agentes identificaram o preso que puxava a corda e verificaram que, assim, ele vinha traficando drogas entre as galerias.

Confira no vídeo a situação da PEP