Com o pé nas costas

Preso sem um braço e com pinos na coxa foge da prisão

Pela segunda vez o preso Dionatan Mendes Quadros, 23 anos, ganhou liberdade com ajuda de outros marginais. Em 5 de setembro, quatro comparsas o arrebataram durante uma consulta no dentista, no centro de Campo Largo, e o policial Marcos Antônio Gogola foi executado com tiro na nuca. Dionatan foi preso no fim do dia, depois de ser baleado em confronto. Estava internado no Complexo Médico Penal, em Pinhais, impossibilitado de andar.

Ontem de madrugada, com o braço direito amputado e com quatro fixadores na perna, foi carregado para fora. Outros quatro presos fugiram com ele. Um retornou por vontade própria no início da tarde. Dionatan e Rodrigo Filgueira Santos foram recapturados nas proximidades do CMP, às 17h, por dois agentes que estavam indo para casa. Os presos estavam bastante sujos, pois haviam passado a noite no mato, debaixo de chuva.

Dionatan foi encontrado bastante debilitado. Ele estava internado na ala destinada aos presos com deficiência física, com outros 12. Fugiram com ele Max Cabral, Ederson Machado, Orlei Gonçalves e Rodrigo. Ederson está com uma perna fraturada, agravada por trombose. Orlei, Rodrigo e Max eram presos auxiliares, que ajudavam a cuidar dos colegas. Max, que estava há dois anos nesta função, retornou ao complexo. Ederson e Orlei continuam foragidos.

Risco

O diretor do CMP, Marcos Marcelo Müller, admitiu que a “vigilância é fragilizada” na ala onde os presos estavam. Alegou que fica em área de difícil visualização para os policiais militares que fazem a segurança. “O CMP é um hospital e não uma penitenciária como as outras. Ficamos bastante surpresos com a fuga, porque os presos dessa ala tem quadros clínicos graves e precisam de acompanhamento constante”, justificou.

Segundo ele, Ederson corre risco de vida. “Ele, assim como Dionatan, eram acompanhados por ortopedistas, além de outros especialistas. Orientamos a família e advogado para que o entregue ao CMP, mais rápido possível”, explicou Müller. “Dionatan queria fugir há algum tempo, mas não tinha condições. Voltou a andar há uma semana, porém, com dificuldade”, completou.

O CMP sempre foi uma unidade tranquila, justamente por ser destinado a tratamentos de saúde. No fim do mês passado, quatro presos transferidos da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP I), onde há presença de membros de facções criminosas, simularam doença para promover rebelião na quarta galeria do CMP. Depois de quase 20 horas de motim, eles libertaram os agentes reféns e ganharam transferência para outras unidades.

Valioso

Suellen Lima
CMP começou a ter problemas com presos no fim do mês passado.

O motivo de Dionatan ser tão valioso para planejarem tirá-lo do sistema prisional duas vezes ainda não foi esclarecido. Em setembro, policiais comentavam que ele seria membro de facção criminosa. Outros disseram que foi libertado para matar uma pessoa.

Gogola o havia prendido em junho, por roubo. Quando puxou a ficha dele, descobriu que o rapaz estava envolvido em pelo menos dois assassinatos. Acompanhava de perto o caso e naquela manhã, atendeu aos insistentes pedidos do preso e de familiares, e o levou ao dentista, sem saber que assinava sua sentença de morte. Dos quatro envolvidos no arrebatamento que matou Gogola e deixou outro policial ferido, três foram presos e um morreu em confronto com a polícia. Na época, a polícia levantou a suspeita contra a família do preso. Os pais dele foram detidos, mas liberados por falta de provas.

Agentes vão protestar

Aliocha Maurício
Antony: “quintal bagunçado”.

As recentes rebeliões, motins e fugas registradas no sistema prisional motivaram os agentes penitenciários a promover manifestação. Amanhã, eles vão manter as penitenciárias de Piraquara fechadas e se reunirão, a partir das 8h, em frente ao Departamento de Execução Penal do Paraná (Depen), para cobrar repostas.

“Nos últimos 40 dias a situação ficou pior, com pelo menos oito confusões. Vivemos momentos tensos, com agentes feitos reféns. Vemos a secretária de Justiça indo ao Maranhão, para auxiliar na crise que o sistema penitenciário deles vive por lá, com decapitações e tudo mais, deixando para trás o quintal de casa bagunçado”, declarou Antony Johnson, vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen).

Cerca de mil agentes foram convocados para a manifestação. Eles pedem mais investimento, segurança no exercício das funções e estrutura adequada.

Investigação complexa

A investigação da fuga do CMP está em andamento. “Além da investigação interna, as polícias Civil e Militar foram informadas”, informou o diretor Marcos Müller. Entretanto, segundo investigadores da delegacia de Pinhais, jurisdição onde o CMP se encontra, nenhuma informação chegou até eles. Como o delegado titular está de férias, quem responde pela delegacia é o delegado de Piraquara, que não foi encontrado. O delegado Cassio André Conceição, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), acompanha o caso, mas disse não saber quem está à frente das investigações.

A Secretaria de Justiça emitiu nota em que a secretária da Justiça, Maria Tereza Uille Gomes, e o diretor do Departamento de Execução Penal do Paraná (Depen), Cezinando Paredes, classificam a fuga como “muito grave” e determinaram “rigorosa apuração”. Conforme a nota, a Corregedoria do Sistema Penitenciário do Paraná investigará falhas e eventuais responsabilidades.