Quem pretende se aventurar em uma obra nova ou reforma ainda neste ano ou em 2021 é bom preparar o bolso. O preço dos materiais de construção disparou em Curitiba por causa da pandemia de coronavírus (covid-19) e isso ocorre em outras cidades da região metropolitana e do Brasil. De março deste ano até a primeira quinzena de dezembro, o aumento nos preços de quase tudo dobrou. Ferro, cimento, pisos, fios elétricos, tijolos.
A lista é geral e ainda há dificuldades de encontrar estoques para entrega imediata. Alguns produtos como pisos, por exemplo, só pagando agora para garantir entrega com prazo de até 60 dias. O jeito é fazer as contas, ver se vale a pena mexer aqui ou ali, em casa ou na empresa, e se planejar para não estourar o bolso.
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Um saco de cimento em Curitiba, por exemplo, que em março deste ano custava em média R$ 17, chega a R$ 28 agora em dezembro. Em março, o rolo de 100 metros do fio flexível de 10 mm era R$ 450. Está saindo por R$ 960 em média. Seguindo com a comparação de preços médios dentro do período já citado, de março a dezembro, e levando em conta itens básicos de uma construção ou reforma, uma escada de alumínio com três degraus era R$ 79 e está R$ 145. O ferro de 8 mm saía R$ 25 e foi para R$ 45. O milheiro do tijolo subiu de R$ 320 para R$ 460 e o tubo de PVC de 100 mm deixou os R$ 44 para chegar a R$ 72 o valor médio.
Segundo o empresário Gelson Cosendei Junior, 35 anos, em sua loja de materiais de construção no Orleans, em Curitiba, a negociação de pagamento e prazo de entrega tem valido para ele e para o cliente. “Antes, eu trabalhava sem precisar de muito estoque porque os fornecedores tinham esse manejo. Comprava o que precisava na loja para o dia e em uma semana chegava. Agora, eu tenho que fazer estoque para garantir que o preço de compra não mude e para ter produto pra venda. Escada de alumínio, por exemplo, não tem nem na fábrica”, conta Cosendei.
Ele revela que já se obrigou a renegociar uma entrega e os valores combinados no meio do caminho do pedido. “Fechadura. O pedido, que geralmente era em 20 dias, já estava em 45. Mas quando faltavam cinco dias para entrega, me ligaram e me deram reajuste de 15% no valor. Se eu não aceitasse, eles cancelavam o negócio”, disse o empresário, que também reclama da margem de lucro. “Muita gente está reformando. Temos vendido mais itens só que a margem de lucro é muito menor. Se eu pego minha planilha de vendas em março e comparo com hoje, vendi mais, só que o caixa não reflete isso”.
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A arquiteta Ana Paula Bortolli, 29 anos, confirma o crescimento no número de reformas e novas obras em Curitiba e região na pandemia. Ela conta que sente a falta de produtos no mercado, o aumento nos preços e a mudança na forma de negociação com clientes, fornecedores e prestadores de serviço como o de pedreiro, pintor, eletricista e calheiro. Para não perder trabalho ou serviço, ela e o sócio Fabiano Zanoello, 30 anos, garimpam fornecedores de empresas menores.
“Notamos muita diferença tanto nos materiais de construção quanto na matéria-prima para marcenaria e decoração. Um dos materiais que nos chamou atenção foram os fios, que tiveram um aumento por causa do cobre. O MDF para móveis, esse também teve uma alta muito significativa, teve também escassez de espuma para cabeceiras estofadas e poltronas”, conta a Ana Paula.
Já Zanoello explica que os preços altos também foram percebidos em outros estados como Santa Catarina e São Paulo. “Sempre prezamos a qualidade e algumas marcas na hora de executar um projeto, mas com esse aumento, além de buscarmos orçamentos diferenciados, aprendemos a valorizar as pequenas empresas onde fizemos muitas parcerias para conseguir atender a todos da melhor maneira possível”, ressalta.
Os dois arquitetos destacam que houve um aumento no número de obras de reforma. “Com a pandemia, as pessoas viram o que faltava em casa, o que não era funcional ou até mesmo falta de um espaço home office, para ter onde trabalhar. Elas resolveram fazer mudanças”, aponta a Ana Paula. Ainda segundo ela, na área comercial não foi diferente. “As empresas aproveitaram o tempo em que estavam fechadas na pandemia para dar um upgrade, pensando no momento de tudo voltar ao normal. Muitos que pensavam em investir construindo acabaram optando por reformar por causa dos preços e por medo da crise”, diz.
Sobre os estoques limitados, Fabiano Zanoello conta que o prazo tem sido de 60 dias para entrega. “”Por exemplo as empresas de porcelanato, que hoje não trabalham mais com estoques, apenas com pedidos feitos sobre encomenda”, explica.
E quem vai encarar uma obra?
A dica dos arquitetos é procurar profissionais qualificados, ter uma reserva financeira para a obra e saber o quanto está disposto a investir. Eles destacam que a média de custo de um serviço de pedreiro em Curitiba, por exemplo, está em cerca de R$ 100 o metro quadrado. “Com o eletricista e o pintor é preciso negociar caso a caso, já que os tipos de trabalho podem variar em sua complexidade”, aponta.
Para um serviço simples, a Ana Paula diz que paga cerca de R$ 150 o dia do eletricista. “Mas a instalação de um padrão de luz 110 volts, por exemplo, já sai por R$ 300”, destaca. Já o serviço básico do pintor sai entre R$ 20 e R$ 50 o metro linear do projeto. “Se for pensar em diária, caso alguém precise de uma pintura, o valor é parecido com o do eletricista”.
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Quanto às formas de pagamento, os arquitetos indicam tentar o valor à vista, por causa do desconto maior. Mas as empresas, segundo eles, fazem parcelamentos entre duas e 12 vezes. “Acreditamos que o mercado inteiro está sofrendo com tudo isso, tanto as grandes construtoras quanto os pequenos. Por isso, estão tentando de tudo para atender a todos da melhor maneira”, finaliza a Ana Paula.