Segurança hídrica

Por que a Sanepar não aproveita a seca para ampliar capacidade dos reservatórios?

Nível da barragem do Passaúna bem abaixo do normal. Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

A estiagem que castiga Curitiba e região metropolitana é a maior que se tem registro até hoje. As cenas das represas do Passaúna, Iraí e Piraquara I praticamente vazias levantaram questionamentos sobre a segurança e capacidade do sistema de abastecimento. Para amenizar problemas futuros – enquanto torcemos para que chova bastante – a Sanepar está construindo outro reservatório em São José dos Pinhais para aumentar a capacidade de armazenamento de água.

Outra possibilidade aventada seria aproveitar o momento de baixo volume para cavar e deixar mais fundos os reservatórios atuais, ampliando a capacidade de captação. A Tribuna procurou a Sanepar para entender se isso é tecnicamente possível e se poderia ajudar a ampliar a capacidade dos reservatórios.

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Segundo a companhia de abastecimento, as barragens não são escavadas. Elas ocupam uma área onde já tem uma formação topográfica necessária para acumular água naturalmente. Não é como fazer uma piscina ou um açude. Não se escava este espaço de armazenamento. As intervenções humanas acontecem na construção da barragem, para erguer o anteparo que dá estabilidade à barragem, suportando a pressão do enorme volume de água.

Quando se pensa na construção de uma barragem, é preciso pensar na escala. Por exemplo, a Barragem do Passaúna tem capacidade de armazenar 48 bilhões de litros de água e tem vazão de 2 mil litros por segundo. Ou seja, num único dia a vazão é de 173 milhões de litros, o equivalente a 69 piscinas olímpicas.

Portanto, a ideia de escavar aquele espaço para tornar a barragem mais funda não se aplica. No caso da barragem do Passaúna, por exemplo, seria necessário escavar o equivalente a 69 piscinas olímpicas para garantir apenas um dia a mais de abastecimento. É terra (e pedra, e areia) pra chuchu!

Toda a estrutura física já existente nas barragens foi pensada para captar aquele volume de água, naquela profundidade. Se o terreno fosse rebaixado, não seria tão fácil continuar a captar essa água numa área mais profunda.

Leito original do rio Passaúna, represado para formar o reservatório. Foto: Lineu Filho

A primeira conta que se faz para se projetar uma barragem, segundo a Sanepar, é qual será a vazão para atender a necessidade da população. No caso da Passaúna, a vazão necessária é de 2 mil litros por segundo.

Para que a barragem tenha essa vazão, observa-se então a vazão dos rios próximos, já que uma barragem serve para armazenar a água dos rios. A vazão é avaliada por um período extenso de tempo e então se analisa qual o maior período em que os rios não atendem àquela demanda necessária. A diferença entre a vazão real observada e a vazão necessária é que vai determinar qual o volume que a barragem terá.

Definido esse volume, é feito um estudo topográfico da região para buscar uma área que permita fazer o barramento do rio para alcançar o volume pretendido. Uma barragem recebe água de um manancial, de uma bacia hidrográfica inteira, não apenas de um riozinho. Por isso, não adianta só chover no local da barragem, mas sim em todo o entorno, principalmente nos rios que compõem esta bacia hidrográfica.

Desassoreamento

Toda essa parte verde rasteira era coberta por água e poderia ser retirada para dar espaço pra mais água. Foto: Lineu Filho

Na Barragem do Iraí, já está em ação uma parceria da Sanepar para extração de areia na parte seca porque há facilidade de acesso e deslocamento. Este serviço não será feito na parte úmida para não prejudicar a qualidade da água. No Passaúna foi feita limpeza manual com retirada de entulho, lixo e de carcaça de veículo que apareceram.

Precisa chover

A capacidade de armazenamento atual dos reservatórios de Curitiba está em cerca e 29%, com a cidade encarando um rodízio de um dia e meio com água, um dia e meio sem água. Se a capacidade chegar aos 25%, o rodízio ficará ainda mais severo, passando a 2 dias sem água para um dia com água – 24h por 48h.

Se, numa hipótese maluca, não chover nada na região até o final do ano, considerando o consumo de 7% a 8% do volume total dos reservatórios por mês, eles podem secar até o final do ano.

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