Após mais de seis meses da entrega de 2.572 unidades habitacionais no Ganchinho, região sul de Curitiba, moradores reclamam da falta de infraestrutura e do aumento da criminalidade. Segundo a população, os problemas que já se acumulavam no bairro apenas cresceram junto com número de moradores.
Ao todo, no ano passado, a região recebeu cerca de 3,5 mil novos moradores em pouco mais de seis meses. A estimativa é que o número de habitantes do bairro dobrou desde o censo de 2010, quando 11.178 pessoas moravam no Ganchinho.
Para os antigos moradores, a falta de planejamento na implantação dos dez empreendimentos construídos pelo programa “Minha Casa, Minha Vida” contribuiu para precarizar os serviços, que já não suportavam a demanda local. “Sempre tivemos problemas para matricular nossos filhos aqui por perto. Agora eles estão indo pra longe, porque a situação das escolas locais, que já não suportavam todos, piorou”, se queixa a representante da Associação de Moradores das Moradias 23 de Agosto, Joelma Palmeira.
A moradora lembra que as instalações que hoje abrigam as famílias beneficiadas pelo programa de habitação passaram cerca de oito anos abandonadas. “Esses conjuntos passaram tanto tempo de lado que roubaram janelas, portas e tudo que tinha instalado. Ainda bem que terminaram, mas se demorou tanto, imagina quanto tempo vai levar pra que se construam novas creches, escolas, unidades de saúde e postos de polícia”, questiona Joelma.
Há mais de vinte anos vivendo na região, Joelma acredita que a situação piorou nos últimos meses porque, apesar do crescimento populacional, os serviços permaneceram parados. “Hoje, quem pega ônibus aqui pena pra entrar, pois todos saem lotados, bem acima da capacidade”, reclama.
“Já precisávamos de novas linhas, pois apenas três passam por aqui. O mínimo que poderiam fazer é colocar mais carros, pois está realmente perigoso para andar”, conta a moradora. De acordo com Joelma, a criminalidade também cresceu. “Já existia um pessoal largado que dava as caras por aqui. Mas ano passado peguei gente usando a frente da minha loja pra esconder droga”, conta a moradora, que possui um salão de cabelereiro.
No papel
A prefeitura diz que já possui terrenos arrendados para construção de ao menos dois Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e duas novas escolas municipais. Os empreendimentos somam R$ 117 milhões, repassados pela Caixa Econômica Federal, que administra as obras do programa “Minha Casa, Minha Vida”.
Criminalidade corre solta
A onda de crimes aumentou tanto na região durante o ano passado que os comerciantes do Ganchinho resolveram comprar um celular pessoal para entregar à polícia. Para os comerciantes, a lentidão no atendimento do posto da Unidade Paraná de Seguro (UPS) facilitava a ação de bandidos.
Durante os meses de novembro e dezembro de 2013, mais de dez assaltos foram registrados nos comércios ao longo da Rua Eduardo Pinto da Rocha.
Os comerciantes se queixam da situação precária do posto da Polícia Militar. “Durante um assalto, um funcionário meu conseguiu escapar pelos fundos e avisou os policiais da UPS. Porém, eles informaram que não podiam agir, pois estavam com problemas nas viaturas”, conta um comerciante, que preferiu não se identificar.