Curitiba parece estar dentro de uma nuvem gigante de fumaça. Basta olhar para o céu para perceber um nublado diferente, que dá a impressão de um ar carregado, poluído. Esse cenário já soma alguns dias.
Professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (PPGEA/UFPR) Ricardo Godoi afirma que esse impacto está sendo causado pelas queimadas que atingem várias regiões da América do Sul. No caso do Paraná, o maior impacto vem das queimadas no Pantanal, com os ventos que carregam a fuligem.
“Você queima uma planta, uma árvore e isso gera uma fuligem. Essa mesma folha quando é carbonizada se desintegra em partículas bem pequenas e que são carregadas pelo vento. Então o que acontece é que toda essa fuligem, essa fumaça que está sendo gerada no Pantanal, os ventos estão trazendo para a região de Curitiba”, explica o especialista.
Godoi conta que essa sensação de poluição que está sendo sentida pela população também é uma consequência da ‘viagem’ da fuligem, pois essas pequenas partículas dificultam a passagem da luz.
Para facilitar a compreensão, o professor utiliza como exemplo o café passado e depositado em uma xícara. “Você tem um café expresso, ele está mais concentrado. Quando olha você vê um marrom escuro. Quando é um café fraquinho, você olha e consegue ver do outro lado. É a mesma coisa com poluição atmosférica. Quanto mais poluído está o ar, mais difícil da luz passar, mais concentração de poluentes ele tem”, diz.
Medidores de poluição exibem cenário preocupante em Curitiba
Godoi é coordenador do Labair – Laboratório de Análise e Qualidade do Ar. O laboratório possui vários medidores espalhados pelo Paraná que monitoram como está o ar em diferentes cidades. Os resultados são atualizados a cada dois minutos e podem ser consultados em um mapa online.
De acordo com o professor, os sensores estão mostrando que o ar realmente está bastante poluído em todo o estado. O especialista comenta que desde 2005 mede os níveis de poluição atmosférica em Curitiba. Por se tratar de uma cidade urbana, a capital concentra níveis de poluição ‘rotineiros’, causados por atividades automotivas e industriais, por exemplo.
Por conta dessas atividades na cidade, Godoi afirma que no normal a concentração é sempre por volta de 10. “Hoje de manhã [segunda-feira (09)] fui ver os números [em Curitiba] e a gente tá falando de ordem de grandeza de 100, 150. Os sensores estão registrando números muito altos mesmo”, relata.
O mapa do Labair utiliza a medida µg/m³, unidade que mostra a concentração de material particulado na atmosfera. Na tarde desta segunda-feira (09) os dados apontam que Curitiba está na classificação vermelha, entre 55 e 150 µg/m³. Uma qualidade de ar satisfatória seria entre 0 e 12 µg/m³.
Em uma média de seis horas atrás, o medidor aponta 104 µg/m³ na capital paranaense. Os dados de um dia atrás também preocupam: 97 µg/m³. Apesar de estarem em um nível mais baixo, os marcadores da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) não fogem muito desses resultados.
A maioria das cidades da RMC está na escala laranja, que apesar de indicar baixa possibilidade de problemas de saúde, já acende um alerta. De acordo com Godoi, o ar muito poluído entre no sistema respiratório e aumenta a possibilidade de doenças respiratórias. Confira os dados em tempo real.
Laboratório em Curitiba estuda relação entre poluição e aumento da temperatura
O professor revela que o laboratório também está estudando as consequências dos casos de extremos climáticos e da poluição. “O corpo humano tem dificuldade de resposta a uma variação muito grande [de temperatura]. A gente pode somar essa dificuldade com a inalação de poluentes. O corpo tá tentando se adaptar a variação e ainda inala poluição. Por isso o grupo de pesquisa está estudando essas duas variáveis simultaneamente”.
Chuva é solução para o ar poluído
Além da poluição, o calor e a baixa umidade relativa do ar completam a receita de problemas. Quem pode ajudar a resolver essas questões é a chuva. No entanto, precipitações não estão previstas para os próximos dias no Paraná.
Segundo o meteorologista do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) Lizandro Jacóbsen a chuva só deve aparecer no fim de semana.
“Mudanças só são esperadas entre sábado e domingo em todo o Paraná. Uma frente fria chega, consegue provocar chuva. Finalmente limpa a atmosfera, melhora a qualidade do ar e também diminui o déficit hídrico que vem de vários dias e semanas em algumas cidades paranaenses”, comenta.
Por isso, é fundamental cuidar da saúde até lá.
Veja algumas dicas para se proteger da poluição
- Aumentar a ingestão de água ajuda a manter as membranas respiratórias úmidas;
- É indicado fechar portas e janelas durante os períodos de muita fumaça;
- Usar máscaras pode ajudar a diminuir a inalação das partículas poluentes;
- Exercícios físicos ao ar livre devem ser evitados nesses dias;
- Para quem tiver em casa, purificadores de ar são recomendados.