Três delegacias de Curitiba passaram a terça-feira (7) sem nenhum agente de cadeia para supervisionar as carceragens superlotadas. No 8.º Distrito Policial, 70 detentos ficaram sem o devido cuidado, além de outros 70 no 5.º e no 1.º DP.
A ordem foi dada pelo Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) com o objetivo de valorizar o trabalho dos agentes, pois dois deles foram presos por policiais civis enquanto trabalhavam durante a madrugada, fato que indignou os demais servidores.
De acordo com um agente, que preferiu não se identificar, a situação começou por volta das 21h30 de segunda-feira (6), quando investigadores do 1.º Distrito, no Centro de Curitiba, pediram auxílio do Centro de Triagem (CT-1) em uma transferência de presos.
Como o CT-1 fica ao lado do distrito policial, os agentes foram ao local. “Com autorização do delegado, eles se dispuseram a ajudar, mas não foi necessário, então voltaram ao CT”, explicou um colega dos agentes.
Prisão
No entanto, eles receberam outra ligação, às 22h30, dos policiais solicitando apoio novamente. “Os agentes saíram com uma arma calibre 12 e, quando chegaram lá, foram presos. Pareceu uma emboscada”, disse outro agente de cadeia.
Os dois trabalhadores teriam sido conduzidos até uma cela separada, onde dois prisioneiros estariam afastados dos demais por suspeita de meningite.
“A situação foi tão grave que, quando o diretor-geral do Depen, Luiz Alberto Cartaxo, ficou sabendo, foi pessoalmente até a delegacia, ficou até 5h30 tentando resolver o problema. Pagou as duas fianças no valor de um salário mínimo cada”, afirmou um funcionário do 1.º Distrito.
Procurado pela equipe da Tribuna, Cartaxo confirmou as informações e adiantou que agora tomará todas as providências no âmbito administrativo e judicial. Entretanto, informou que o Depen ainda não irá se pronunciar oficialmente a respeito do caso. A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) também foi procurada pela reportagem, mas não quis se pronunciar.
Porte de Arma
Em nota, a Polícia Civil confirmou que os dois agentes de cadeia que trabalham no Centro de Triagem foram autuados por posse ilegal de arma após serem chamados para apoio em um cumprimento de alvará de soltura.
“Os servidores receberam voz de prisão depois que o investigador e o delegado de plantão flagraram os dois em posse de arma de fogo. Os envolvidos foram liberados na sequência, após o pagamento da fiança arbitrada pela autoridade policial, e não houve exposição dos autuados com qualquer outro detento com meningite”, informou.
De acordo com um dos agentes entrevistados pela Tribuna, a classe luta há anos pelo porte de arma de fogo devido ao risco que correm diariamente dentro das carceragens. Porém, ainda não conseguiram esse direito.
“Estamos buscando isso judicialmente, mas como não tem pessoal suficiente, somos obrigados a pegar armamento dentro das delegacias mesmo sem porte. Isso é algo comum no nosso trabalho porque corremos muito risco aqui dentro”, declarou um dos agentes.