A década de 90 foi marcada por sequestros no Brasil. O Paraná esteve entre os três estados com o maior número de ocorrências, com cerca de 20 por ano. Nessa época, foi criado o grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre). Na sexta-feira (30), o Tigre completou 30 anos e a Polícia Civil do Paraná (PCPR) comemorou o aniversário com uma cerimônia solene na Escola Superior da Polícia Civil, em Curitiba.
Segundo a PCPR, a unidade Tigre é referência no Brasil em atuação anti-sequestro, operação de alto risco e casos de extorsão. Também é modelo na formação de policiais para operações táticas especiais. O preparo para o cumprimento de missões é a marca do grupo. No dia 21 de outubro deste ano, o Tigre deu apoio ao resgate da médica paranaense Tamires Gemelli Silva, sequestrada e mantida em cativeiro. Três pessoas foram presas em flagrante.
Fundado em 30 de outubro de 1990, o Tigre nasceu com o desafio principal de frear os sequestros que ocorriam no Paraná naquela década. Nos cinco primeiros anos de atuação, os crimes que eram cerca de 20 por ano passaram para menos de quatro. De lá para cá, esse tipo de crime se tornou raro diante da reconhecida eficiência do grupo, o que lhe permitiu ampliar sua atuação dentro das atividades de polícia judiciária.
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Foi criado por decreto estadual com a finalidade de combater e solucionar os crimes de sequestro, cárcere privado, violação de domicílio, extorsão mediante sequestro, rapto e roubo com restrição de liberdade da vítima – sequestro relâmpago e em situações especiais.
“O Tigre tem reconhecimento internacional pelos níveis de eficiência. É a unidade que tem o maior número de resgate de reféns e não existe outra no país com tamanha experiência neste quesito”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Silvio Jacob Rockembach.
Os integrantes não dormem enquanto a missão não é resolvida, destacou o delegado-chefe do Grupo Tigre, Cristiano Quintas. “Declinamos de folgas, de estar com a família para encontrar reféns e prender sequestradores. Temos a melhor equipe técnica do País. O nosso treinamento atrai policiais de outros estados interessados no aperfeiçoamento profissional”, disse ele.
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Treinamento
O grupo de resgate é composto por equipes treinadas nos mesmos moldes de grupos internacionais, observa rigoroso e detalhado preparo em tiro instintivo e de precisão, com armas curtas e longas, escalada e rapel, mergulho, primeiros socorros, artes marciais, guerra química, além de manter permanente condicionamento nas técnicas de assalto e infiltração, objetivando perfeição no momento de resgatar uma vítima.
Mantendo armamento moderno e eficiente, as equipes componentes do Tigre estão aptas ao confronto com qualquer quadrilha. Toda ação tática é realizada com rapidez e surpresa
Experiência
Investigador de polícia de 1ª classe, Milton Yukiu Suzaki, 59 anos, é o agente mais antigo do grupo Tigre e lembra quando o delegado Adauto Abreu Oliveira chegou de um curso no Rio de Janeiro, em 1990, com as ideias de como seria o grupo. Pela estrutura inicial, que continua até hoje, as equipes se dividiriam em três principais frentes: negociação, apoio técnico e resgate.
Suzaki participou de praticamente todas as soluções de sequestro. Para ele, o mais marcante ocorreu em Marechal Cândido Rondon. Havia crianças, mulheres e um empresário refém dos criminosos. Após uma semana de intensa negociação, o Tigre fez uma invasão tática.
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“Era uma quadrilha bem organizada. Pediam dinheiro, carro para fugir, colete. Fizemos a maquete da casa com a prefeitura, estudamos tudo antes de entrar. Durante a invasão, os criminosos reagiram e três deles foram mortos”, conta.
O investigador de 1ª classe Luércio Turra, 60 anos, está desde 1995 na PCPR e, desde então, atua no Tigre. Ele participou de cerca de 400 missões de rotina. O investigador conta que o grupo foi um dos primeiros a receber autorização do Exército para atuar com determinados armamentos. O grupo iniciou com técnicas empregadas no Exército. Os métodos militares passaram por adaptações e então foram empregados nos treinamentos dos policiais. A influência também veio do curso com o SWAT, com passagem pela academia do FBI.
Em 1992, ocorreu o primeiro curso de formação para os policiais do Tigre. Suzaki é o único integrante da ativa que está desde a fundação. “Após a primeira experiência, o Tigre realizou o Curso Básico de Operações Táticas e Táticas e Técnicas Operacionais. Foi assim, na busca de aperfeiçoamento, que em 2002 iniciou a era do Curso de Operações Táticas Especiais (Cote), que até hoje está em vigor.É muito procurado no Brasil. Todo mundo pede para participar”, explica Suzaki.
Cúpula
A unidade de elite da Polícia Civil já teve como integrantes pessoas da cúpula da Polícia Civil do Paraná. É o caso do delegado-geral da instituição, Silvio Jacob Rockembach, e do delegado-geral-adjunto, Riad Braga Farhat
“Quinze anos da minha história na Polícia Civil foram nessa unidade, em uma época que o crime da moda era o sequestro. Fiz minha história, participei de dezenas de resgates de reféns, fiz verdadeiros irmãos e amizades. Aqui, eu me realizei profissionalmente”, disse Riad.
Formação
Com o recuo no número de sequestros, o Tigre tem papel fundamental na formação de novos integrantes, apoio tático e operacional a unidades da Polícia Civil do Paraná e no apoio a cursos de instrução na Escola Superior da PCPR.
Operações que envolvam cumprimentos de muitos mandados costumam ter apoio desse grupo. Cristiano Quintas afirma que os desafios continuam. “Os policiais continuam a ser testados fisicamente de forma periódica e os critérios para formação de novos são altos”, disse ele. Ao todo, 177 pessoas foram formadas em cursos realizados pelo Tigre desde a fundação.