O ex-marido de uma enfermeira, de 38 anos, foi preso suspeito de ter contratado cinco homens para estuprá-la e matá-la. Ele não se conformava com o fim do relacionamento. A vítima foi agredida a marteladas na casa onde morava no Novo Mundo, em 24 de novembro de 2012. Após sofrer estupro coletivo e sofrer golpes de martelo na cabeça, a mulher desmaiou e os marginais saíram da residência pensando que ela estava morta.

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Policiais da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) descobriram que o ex-marido, o motorista Anésio de Jesus Costa Júnior, 39, foi o autor intelectual do crime. Ele pediu para que o amigo dele, Misael Andrade dos Santos, 42, contratasse alguém para executar o plano de matar a ex-mulher. Misael conhecia Lucas Henrique dos Santos, 18, da Vila Pantanal, Alto Boqueirão. Por sua vez, Lucas contratou Jean Carlo dos Santos, 25, e dois adolescentes, de 16 anos, com promessa de que receberiam cada um R$ 300 pelo crime e R$ 17 mil referente ao seguro do veículo, além de um bônus caso a matassem. Segundo a polícia, todos confessaram o crime.

O casal esteve junto por 17 anos e tem dois filhos, de 19 e 21 anos. Há quase quatro anos, a vítima decidiu se separar porque a relação havia se desgastado. O filho mais novo foi morar com o pai. Depois do fim do relacionamento, a enfermeira conseguiu dois empregos para tocar a vida e havia começado a namorar um amigo antigo. Anésio explicou ontem (24), durante coletiva à imprensa, que sua intenção era apenas dar um susto. ‘Não mandei estuprar nem matar. Estou casado, trabalhando e não tinha por que fazer isso. Eu ia pagar R$ 100 para eles darem um susto, mas a situação saiu do controle, chegou ao extremo‘, disse. Anésio ainda explicou que queria deixar a mulher insegura. ‘Meu filho mais velho mora na casa da namorada e eu não queria que ele continuasse com isso. Então pensei que dando um susto, ela ia pedir para que ele voltasse a morar na mesma casa‘, tentou se explicar. ‘Não sei por que não me matei. Acabaram com a minha vida‘, disse.

Crime

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O crime aconteceu no início da madrugada de 24 de novembro. Segundo o delegado Amarildo Antunes, Anésio levou os comparsas até a casa da ex-mulher. Os dois adolescentes e Jean bateram na porta da casa da vítima e a chamaram pelo apelido. Para serem atendidos, alegaram que o irmão dela precisava de socorro. A vítima, que estava acompanhada do novo namorado, acreditou no apelo dos marginais e, quando abriu a porta, já foi rendida com uma faca. Segundo a vítima, o trio invadiu a residência pedindo drogas e dinheiro e logo, começaram com as agressões. Ela e o namorado foram amordaçados e amarrados. O companheiro foi levado para o banheiro, onde apanhou muito.

A enfermeira foi levada para o quarto, onde foi violentada pelos três. ‘Enquanto eles a violentavam, um sempre permanecia com a faca em seu pescoço. Após estuprá-la, eles a agrediram mais ainda, desta vez dando marteladas em sua cabeça‘, contou Antunes. Durante o estupro, os marginais ainda perguntavam sobre o dinheiro do seguro, já que sabiam que meses antes o carro da mulher havia sido queimado. ‘Eles me agrediram muito. Ficou sangue por toda a casa‘, relatou a vítima. Como ela desmaiou com os golpes, os criminosos pensaram que ela estivesse morta e fugiram, levando uma TV, um DVD player, um tablet, um notebook e dois telefones celulares.

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Jean e os adolescentes, então, embarcaram no carro de Anésio, que aguardou do lado de fora da casa eles terminarem o serviço em companhia de Lucas e do amigo Misael.

‘O ex-marido queria machucar bastante a mulher, pediu para a deixarem com o rosto marcado, quebrar os dentes. No dia do crime, ele foi junto até o local para aproveitar ainda mais o momento de vingança e conferir o que eles tinham feito. Foi mais um ato de crueldade da parte dele. Ele disse que depois da separação ficou transtornado‘, contou o delegado.

A polícia també,m investiga dois atentados sofridos pela enfermeira, que teve o carro incendiado. ‘A casa dela foi arrombada e furtada. Ela ainda recebia várias ligações de pessoas que não se identificavam e em uma oportunidade pessoas entraram na casa dela e mexeram na instalação elétrica. Ela conversou com um eletricista e descobriu que aquilo era uma armadilha para fazer com que a casa pegasse fogo‘, explicou o delegado.

Versão

Jean, ontem (24), afirmou que não estuprou a mulher. ‘Eu só dei as marteladas. Não tinha porque estupra-la. Porque eu tenho mulher e mulher é fácil de conseguir. Não preciso pegar à força‘, justificou. ‘Me contrataram para espancar a mulher e se ela reagisse podia matar. Iam pagar dinheiro, mercadoria e R$ 17 mil do carro. Quando eu voltei pro carro, não disse que tinha matado, mas que tinha dado uma pancada pra deixar inconsciente‘, disse. Já Misael disse que não concordou, num primeiro momento, em ajudar o amigo, mas acabou cedendo às pressões de Anésio.

Segundo o delegado, o ex-marido foi conduzido à delegacia e negou os fatos. “Mas nós conseguimos provar que ele esteve no Novo Mundo na noite do crime‘, contou o delegado. Anésio foi preso em casa na última terça-feira, no Xaxim, graças a pedido de mandado de prisão temporária. Os demais foram presos na Vila Pantanal durante operação na manhã de ontem (24). Todos vão responder por formação de quadrilha, tortura, roubo qualificado, corrupção de menores e tentativa de homicídio.

Trauma

A enfermeira acredita que ainda vai demorar a se recuperar do trauma sofrido naquela madrugada. Ela conta que não desconfiava do ex e que decidiu se separar de Anésio por conta do desgaste no relacionamento e problemas financeiros. Desde a violência sofrida, a vítima não tem residência fixa, vive se mudando, com móveis e roupas em casas de parentes, e ainda não conseguiu voltar para o trabalho. ‘Eu me escondi de medo. Vivo um pouco pra cá e pra lá. É muito triste. Tinha uma vida gostosa‘. Agora, ela está destruída, disse.

Apesar de recuperada dos ferimentos, as lembranças da violência ainda são constantes em sua memória. ‘Os três me bateram, me deram chutes. Antes de sair, me deram marteladas na cabeça. Em todo o tempo pediam dinheiro e droga‘, contou.  Depois do episódio, o namorado também a deixou. ‘Ele me ajudou muito, mas também estava com muito medo‘.

A vítima contou que já vinha sendo atormentada pelo ex. Segundo ela, Anésio telefonava para o hospital onde ela trabalhava e espalhava boatos, manchando sua imagem. ‘Teve uma vez que ele invadiu a minha casa. Já estávamos separado há um ano e meio, mas não quis fazer boletim de ocorrência em respeito à família dele‘, justificou.

Mesmo sendo perseguida pelo ex e os sinais de que Anésio queria se vingar, a vítima não imaginava que o marido pudesse ir tão longe. ‘Num primeiro momento eu não desconfiava. Só depois que a delegacia descobriu o carro dele, porque alguém anotou as placas, é que tive certeza‘, disse.

Queixa

A enfermeira também relatou que procurou a Delegacia da Mulher, mas foi orientada a ir a outro lugar registrar boletim de ocorrência. ‘O atendimento lá não foi legal. Me encaminharam para outro distrito e, graças a Deus, eu vim pra cá‘, disse.

Confira o vídeo com a prisão dos acusados.